Empresária que atacou casal gay em SP é acusada de golpe de R$ 200 mil
Abinoan Santiago
Colaboração para o UOL, em Florianópolis
08/02/2024 17h23Atualizada em 09/02/2024 06h33
Jaqueline Santos Ludovico, empresária que atacou um casal gay em uma padaria de São Paulo, é acusada de receber sem prestar serviços de publicidade a uma cliente de Tubarão, em Santa Catarina.
O que aconteceu
O valor do golpe alcança R$ 200 mil, calcula a vítima. Ela trava uma batalha na Justiça para obter o ressarcimento. O caso tramita desde 6 de dezembro de 2021 na 2ª Vara Cível da Comarca de Tubarão.
A vítima, Viviane Vicente, teria contratado os serviços de publicidade da JSL Marketing e Assessoria, de propriedade de Jaqueline. Ela queria promover na internet a retífica do irmão, Ênio Vicente. A catarinense afirma que fez pagamentos que somam R$ 200.263, mas que não recebeu qualquer anúncio previsto em contrato, segundo o advogado Carlos Eduardo Conceição.
Viviane ainda relata, no processo, extorsão de Jaqueline ao cobrar pelas mensalidades impostas no contrato. A empresária teria ameaçado incluir o nome da retífica no cadastro de restrições da Receita Federal caso os irmãos Vicente não efetuassem os depósitos. Os pagamentos ocorreram via Pix entre setembro e novembro de 2021.
Viviane foi vítima do chamado "golpe da falsa publicidade", de acordo com Carlos Conceição. Esse golpe ocorre quando o suposto golpista oferece um serviço de publicidade de anúncios, recebe pela promessa, mas não cumpre o combinado.
Duas contas de Jaqueline estão bloqueadas desde 2021, mas a Justiça encontrou apenas R$ 2.282,28 na física e outros R$ 426,15 na jurídica. Até o momento, a vítima não foi ressarcida. Viviane o irmão dela não quiseram gravar entrevista.
Lamentavelmente, até o momento, não houve êxito na recuperação do valor desviado, apesar dos esforços diligentes empregados para o bloqueio de contas bancárias e bens pertinentes.
Advogado da vítima, em nota ao UOL
Os advogados que constam como representantes de Jaqueline no processo disseram ao UOL que não respondem mais pelo caso e que não sabem quem assumiu a defesa. A reportagem ligou no telefone que consta no site da empresa JSL, mas a linha não pertence mais ao empreendimento, que também não retornou ao pedido de posicionamento por email. O texto será atualizado em caso de manifestação.
Empresária atacou casal gay
Jaqueline Ludovico é acusada de desferir ataques com tons de homofobia contra o casal Rafael Gonzaga e Adrian Grasson. As vítimas, segundo relatado no boletim de ocorrência, teriam sido impedidas pela empresária de estacionar na padaria. Ela ainda teria batido no retrovisor do veículo e chamado o motorista de "viado folgado", além de ter atirado um cone contra as vítimas.
Após os três entrarem na padaria, a discussão continuou, e a mulher teria agredido o casal, provocando sangramento em ambos. Os xingamentos e parte das agressões foram filmadas pelas vítimas.
Em determinado trecho do vídeo, é possível ouvir a mulher dizer que "os valores estão sendo invertidos". Eu sou de família tradicional. Eu tenho educação. Diferença dessa porr# aí". Outras pessoas presentes na padaria também foram ofendidas. "Eu sou branca (...) olha o mimimi aí. Chama a polícia, vamos ver quem vai preso aqui", emendou.
O caso fez a deputada Érika Hilton (PSOL) solicitar investigação ao Grupo Especial de combate à Intolerância do Ministério Público. Além de investigar a acusada, a deputada também pede apuração da conduta da padaria Iracema e da Polícia Militar por negligência. O Grupo Especial de combate à Intolerância do MPSP confirmou que recebeu o documento.
O caso passou a ser investigado pela Decradi (Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais contra a Diversidade Sexual e de Gênero e outros Delitos de Intolerância). A padaria Iracema, onde o caso ocorreu, disse "lamentar profundamente o acontecido" e afirmou "repudiar veementemente qualquer forma de discriminação e desrespeito".
O que diz a defesa sobre agressões
A defesa de Jaqueline disse que "nesse momento não há que se antecipar às conclusões da Polícia e do Poder Judiciário".
Neste momento, o que se cabe afirmar é que há duas versões dos fatos. A história completa e a verdadeira complexidade dos eventos exigem uma abordagem mais sensível e equilibrada, que reconheça a situação de vulnerabilidade da Sra. Jaqueline e a injustiça de julgá-la apenas com base em fragmentos de informações.
Os advogados dizem que "a versão dos fatos será apresentada às autoridades cabíveis" e que "neste momento delicado, é imprescindível que se resguarde a privacidade e a dignidade da família, especialmente dos seus filhos menores envolvidos, garantindo-lhes o direito a um julgamento justo e imparcial".