Curso de R$ 10 mil: como agia dentista suspeita de deformar pacientes

A dentista Hellen Kacia Matias da Silva, presa suspeita de deformar o rosto de pacientes com a realização de procedimentos estéticos, ministrava cursos técnicos que chegavam a custar mais de R$ 10 mil, segundo a Polícia Civil.

O que aconteceu

A investigação apontou que os cursos técnicos ministrados por Hellen não são reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) e que essa informação até estava no contrato oferecido aos alunos.

Um dos cursos oferecidos pela dentista, para realização de cirurgias faciais, com carga horária de três dias, custava mais de R$ 10 mil por aluno. Eles só poderiam ser aplicados por médicos. Conforme a investigação, profissionais de diversas cidades do país fizeram o curso e a polícia tenta contabilizar quantos são.

Em posts de divulgação nas redes sociais é possível ver que Hellen também ministrava cursos de harmonização orofacial —como era chamado por ela. O curso de 120 horas inclui técnicas de preenchimento facial, toxina botulínica, lipossucção, lipo enzimática, fios de sustentação e jato de plasma. Todos os procedimentos são voltados para a harmonização do rosto. A profissional tem mais de 650 mil seguidores no Instagram

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) explicou que ainda não teve acesso ao caso e por isso ainda não pode comentar sobre o assunto.

O que diz a defesa

A reportagem do UOL procurou a defesa da dentista para questionar sobre a realização dos cursos que deveriam ser ministrados apenas por médicos, mas ainda não teve retorno. Caso a defesa se manifeste, a reportagem será atualizada.

Continua após a publicidade

Sobre a prisão da dentista, a defesa disse em nota que ela foi feita de forma arbitrária e injusta, já que a dentista não teria descumprido determinação da Justiça, que a proibia de realizar cirurgias estético faciais após o dia 22 de novembro. Segundo os advogados Caroline Arantes, Thaís Canedo e Vinicius Xingo, que representam a dentista, a Justiça confundiu o procedimento realizado.

A profissional -que tem a especialidade buco maxilo facial, realizou, após o dia 22 de novembro, procedimento reparador e não estético, dentro da competência da especialidade da profissional. Ela corrigiu lesão em uma paciente como uma complicação de procedimento (ectrópio) realizado anteriormente por uma outra profissional, o que é permitido pela resolução 63, artigo 41, do Conselho Federal de Odontologia.
Defesa de Hellen

A defesa diz ainda que fotos de pacientes que tiveram intercorrências e que estão sendo divulgadas não correspondem a pacientes da dentista. "O vazamento das imagens —que deveriam ser sigilosas, posto que não submetidas ainda ao crivo do contraditório— demonstra falta de lisura nas investigações", diz a nota.

Entenda o caso

Hellen é investigada por lesão corporal após realizar procedimentos estéticos que afetaram os rostos de pelo menos 13 pacientes. Ela foi presa na terça-feira, 30, em Goiânia, pela Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Consumidor (Decon).

A profissional era investigada por exercício ilegal da profissão e execução de serviço de alta periculosidade desde setembro de 2023, segundo a Polícia Civil.

Continua após a publicidade

Durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em uma clínica onde a profissional trabalha, em novembro, foram encontradas mensagens em um celular que apontavam para o crime de lesão corporal, segundo a investigação. Após ouvir as supostas vítimas, a polícia pediu a prisão preventiva da dentista. O processo tramita em segredo de Justiça.

Em algumas das conversas, os pacientes narram "desespero" e pedem o dinheiro do procedimento de volta para tentar reparar a cirurgia com outros profissionais.

Há dias estou falando e vocês estão rindo da minha cara. Meu nariz está horrível.
Mensagem enviada por paciente

Apesar das mensagens e das possíveis lesões a pacientes, não havia nenhum boletim de ocorrência registrado contra a dentista. A clínica em que Hellen atuava foi interditada pela Vigilância Sanitária, que encontrou instrumentos cirúrgicos, anestésicos e medicamentos vencidos.

Deixe seu comentário

Só para assinantes