Lojistas não querem sair da Santa Ifigênia, esvaziada pela cracolândia

Pouco mais de uma semana após saque a uma loja de câmeras, que causou prejuízo de quase R$ 300 mil, lojistas da Santa Ifigênia ficaram assustados com o ocorrido no último sábado (27). Para eles, o problema de segurança está no entorno do bairro.

O que aconteceu

Uma unidade da loja "Portal das Câmeras" foi invadida e saqueada na manhã do último sábado de janeiro. Imagens de circuito de segurança mostram centenas de pessoas da "cracolândia" forçando a abertura da porta e pegando os itens. Dono disse que fecharia unidade, mas que manteria outras lojas da rua.

Região sofre com problemas de segurança. A lojista Pamela Cheda praticamente cresceu na loja dos pais na região, que ocupam o mesmo ponto desde a década de 1970. Para ela, a região sempre foi problemática, mas que acontecimentos recentes acabam exagerando a percepção de segurança.

Pamela Cheda é lojista da região da Santa Ifigênia; sua família tem está no mesmo ponto desde a década de 1970
Pamela Cheda é lojista da região da Santa Ifigênia; sua família tem está no mesmo ponto desde a década de 1970 Imagem: Arquivo pessoal

Chorei vendo a cena [do saque da loja do 'Portal das Câmeras']. É muito triste quando isso acontece, mas é exceção. Se fosse tão inseguro, todos fecharíamos as portas Pamela Cheda, lojista da região da Santa Ifigênia

Comerciantes alegam que violência é exceção. João Carlos Faria Junior, diretor comercial da empresa de materiais elétricos Andra, trabalha na Santa Ifigênia há quase 25 anos. A companhia em que atua está na região desde 1974 e conta com 5 lojas na região. Apesar do incidente recente, diz que casos como esse são raros.

Foi um caso isolado. Dificilmente tem arrombamento de lojas. O problema está no entorno João Carlos Faria Junior, diretor comercial da Andra

Cracolândia sempre esteve nos arredores da Santa Ifigênia. No entanto, a situação piorou da pandemia para cá, segundo lojistas. Após a operação Caronte [ação da polícia iniciada em 2021 para combater o tráfico de drogas na região], o fluxo migrou para a região. "Espalharam a 'cracolândia' para todo lado. Eventualmente, a gente tinha que baixar as portas, porém a sensação de segurança está melhor desde o ano passado", disse Pamela.

Para eles, a repercussão de casos como o de sábado passado acaba afastando clientes. Junior, da Andra, diz que o movimento na região reduziu, mas "não a ponto de a gente se preocupar". Empresa não demitiu ninguém. Rua é responsável por 25% do faturamento da companhia e ainda consideram aumentar a presença com mais uma loja.

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João Carlos Faria Junior, diretor comercial da Andra, trabalha na região da Santa Ifigênia desde 1999. Para ele, saque de loja foi exceção à regra
João Carlos Faria Junior, diretor comercial da Andra, trabalha na região da Santa Ifigênia desde 1999. Para ele, saque de loja foi exceção à regra Imagem: Divulgação

O público que gastava um pouco mais ficou mais arredio de vir devido à repercussão dos incidentes na 'cracolândia' e pelo que passa no jornal. Agora, se você vir até a rua, temos estacionamentos conveniados e seguranças por toda parte João Carlos Faria Junior, diretor comercial da Andra

Pouco policiamento nos entornos da região é uma reclamação recorrente entre lojistas, o que acaba contribuindo para a noção de insegurança. Durante visita da reportagem à rua Santa Ifigênia, na última quarta-feira (31), foi possível notar a presença de policiais em cada esquina, e de bases móveis nas pontas, uma no largo Santa Ifigênia e outra próximo à avenida Ipiranga. Perto da Duque de Caxias, onde havia um fluxo de pessoas da 'cracolândia', não havia policiamento.

"Fecharam vários comércios na região, como restaurantes ou lojas menores que ficam ao redor da Santa Ifigênia", disse Junior. Não há um número exato de estabelecimentos fechados na região.

Segundo a USI (União Santa Ifigênia), entidade que representa comerciantes da região, há galerias na rua em que a desocupação chega a 60%. Ao todo, a região tem 2 mil empresas e gera mais de 10 mil empregos.

Outro problema é que o policiamento fica concentrado no horário comercial, quando tem mais movimento de trabalhadores e compradores. Boa parte dos grandes incidentes na região - saque na loja do Portal das Câmeras e de uma loja de informática, em abril de 2023 - ocorreu entre a noite e manhã.

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Lojas foram alvo de furtos no último ano. Em abril, uma loja de informática foi furtada; alguns itens foram guardados pelos criminosos em bueiros - e recuperados depois. Em novembro, uma loja de informática foi roubada por pessoas do fluxo da "cracolândia"; a dona, que teve um prejuízo de R$ 80 mil, disse que planeja deixar São Paulo. No mesmo mês, seis pessoas foram presas em flagrantes por GCMs por estarem roubando uma loja.

O Governo instalou uma sede da Força Tática nesta quinta (1º), na rua Vitória, uma travessa da rua Santa Ifigênia, para reforçar segurança na região. A SSP (Secretaria de Segurança Pública) diz que região receberá reforço de 2 mil policiais, além da contratação de PMs aposentados para funções administrativas, e liberar mais contingente nas ruas.

Revitalização da região

Fabio Zorzo, presidente da USI, diz que a entidade tem trabalhado com órgãos públicos para tentar revitalizar a região.

Ainda que o varejo físico tenha perdido espaço para as compras online, ele acredita que a rua, com mais segurança e outras atrações, tem potencial para ser uma "área de experiências" e um "lugar de turismo de compras no centro", com capacidade de beneficiar a rede hoteleira e restaurantes dos arredores.

Associação tem como projeto tornar a Santa Ifigênia a "rua da tecnologia em São Paulo". Dentre os planos, estão aumentar monitoramento por câmeras na região, fornecer treinamento para dependentes químicos reformados e pessoas em situação de rua e empregá-los no comércio.

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