Policiais são filmados em enterros de mortos em ações da PM: 'Intimidação'

PMs foram flagrados em ao menos três enterros de pessoas mortas na operação das forças de segurança pública na Baixada Santista. Com 39 mortes, a ação policial é a mais letal de São Paulo desde o massacre do Carandiru.

O que aconteceu

Revistas da PM após enterro. Parentes e amigos que estavam no sepultamento de Peterson Xavier Nogueira, 32, tiraram fotos e fizeram vídeos para registrar a presença de ao menos seis policiais no cemitério da Areia Branca, em Santos (SP), na última quinta-feira (29). Segundo eles, os agentes revistaram pessoas na saída do local.

Sem fogos de artifício. Os PMs também solicitaram que não houvesse fogos de artifício durante o enterro. Peterson foi uma das vítimas da ação policial que matou cinco pessoas no dia 27 de fevereiro, em São Vicente, em uma área de mangue, deixando um rastro de sangue e ao menos 15 cápsulas de fuzil no local do crime. A PM alega que houve confronto, versão contestada por testemunhas ouvidas pelo UOL no local.

Ele [Peterson] não é ser humano? Não pode ter um enterro digno? Os policiais estiveram no enterro e ainda queriam revistar todo mundo. Eles obrigavam as pessoas a levantar a blusa para ver se estavam com arma. Ficaram lá, como se estivessem fazendo escolta. Pedi: 'pelo amor de Deus, respeita o luto da família'. Mas os policiais não respeitaram.
Testemunha

PMs foram filmados enquanto acompanhavam enterro de Peterson Xavier Nogueira na última quinta-feira (29), no cemitério da Areia Branca, em São Vicente (SP). Ele está entre os cinco mortos em uma ação policial
PMs foram filmados enquanto acompanhavam enterro de Peterson Xavier Nogueira na última quinta-feira (29), no cemitério da Areia Branca, em São Vicente (SP). Ele está entre os cinco mortos em uma ação policial Imagem: Reprodução

"Respeito pelo sentimento da família". Em outro vídeo, no dia 15 de fevereiro, no enterro de Emerson Rogério Telascrea, 33, é possível ver os policiais com fuzis em meio ao sepultamento. Amigos e parentes registraram as imagens com gritos pedindo respeito. Segundo a PM, Emerson foi morto após apontar uma arma para os agentes no Saboó, em Santos. Testemunhas contestam, alegando que ele estava segurando uma xícara de café.

Ronda em frente ao cemitério. A família de Jefferson Ramos Miranda, 37, também acusa policiais militares de terem feito ronda em frente ao cemitério onde o corpo dele foi enterrado. "Os policiais não respeitaram a dor da família", diz Juliana Ramos Miranda, 34, irmã de Jefferson. Ele foi morto no dia 9 de fevereiro, no Morro do São Bento, em Santos.

Temos imagens de policiais entrando no meio de um enterro e aterrorizando as pessoas. É um caso de intimidação, que está deixando as famílias com medo.
Claudio Silva, ouvidor das polícias de SP

O que diz a SSP

Corregedorias à disposição. Questionada pelo UOL sobre o relato das famílias, que se dizem intimidadas, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que as corregedorias "estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra os agentes públicos, incluindo as citadas pela reportagem".

Continua após a publicidade

"Instituições legalistas", diz SSP. Ainda que cite a atuação da corregedoria, a pasta defende a atuação dos policiais dizendo que "as forças de segurança são instituições legalistas, que atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional".

Acompanhamento do Ministério Público e do Judiciário. A secretaria diz que os casos de morte na ação da PM na Baixada Santista são investigados pelas polícias, com monitoramento do MP e do Judiciário.

Balanço da operação. A pasta diz ter feito 837 prisões, incluindo de 315 procurados pela Justiça. A SSP ainda cita as apreensões de 577 quilos de drogas e de 90 armas.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que informava a matéria, Claudio Silva é ouvidor das polícias, e não corregedor, e o cemitério da Areia Branca fica em Santos, não em São Vicente. O texto foi corrigido.

Deixe seu comentário

Só para assinantes