Conteúdo publicado há 8 meses

Entregador baleado por PM não consegue dormir desde que deixou UTI, diz tio

Um familiar do entregador baleado no Rio de Janeiro por um policial militar afirmou que Nilton Ramon de Oliveira não consegue dormir desde que teve alta da UTI. Ele está internado no Hospital Salgado Filho, na zona norte do Rio.

O que aconteceu

Nilton Ramon de Oliveira, 24, está "com muito medo". Um tio, que preferiu não se identificar, contou ao UOL que visitou o jovem ontem. "Estamos pensando em colocar alguém para dormir com ele porque ele não está dormindo. O medo dele é tanto que quando escuta qualquer barulho na porta, já se assusta", explicou.

O medo teria piorado depois que Nilton deixou a UTI e foi transferido para a enfermaria. Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio não respondeu se há segurança na porta do quarto onde ele está internado. O órgão afirmou que detalhes estão restritos à família.

O familiar esclareceu que já é possível perceber os impactos psicológicos do episódio. "O psicológico dele não está legal. Ontem, ele perdeu a fala, não conseguia pronunciar uma palavra. Sabe o que é uma pessoa olhar para você e não conseguir falar? Parecia uma crise de ansiedade".

O quadro de saúde do entregador é considerado "estável". Ele já consegue se alimentar sozinho e está conversando. O entregador levou um tiro na perna. De acordo com o tio, o disparo atingiu a veia femoral, o que o levou a perder muito sangue

Não há previsão de alta. O jovem de 24 anos já realizou duas cirurgias. O projétil não precisou ser retirado do corpo de Nilton, já que a bala atravessou a perna dele.

Família diz ter sido intimidada por PMs

Familiares denunciaram que foram intimidados por policiais militares enquanto estavam no Hospital Salgado Filho.

Luiz Carlos, cunhado do entregador, disse que a família precisa de uma medida protetiva. "Ontem estávamos na porta do Salgado Filho, e, enquanto minha esposa dava entrevista no hospital, tinha policiais gravando ela, tirando foto, zombando e rindo. Na minha concepção, policiais são pagos para proteger, não coagir, e ela se sentiu coagida", afirmou ao RJ1, da TV Globo.

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Ele se reuniu nesta quarta-feira (6) com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). "Eu clamo por justiça. A gente não sabe o que pode acontecer. O policial cometeu uma tentativa de homicídio contra meu cunhado, não pode ficar impune", acrescentou Luiz Carlos.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Polícia Militar disse que não recebeu notificação sobre a suposta intimidação. "A SEPM [Secretaria de Estado de Polícia Militar] ressalta que a captação de imagens está entre as rotinas dos policiais em serviço nas ruas para fins diversos, como passar detalhes do cenário a instâncias superiores ou registrar movimentações atípicas".

O policial militar Roy Martins Cavalcanti alegou que agiu em legítima defesa. Ele atirou no entregador, que se recusou a subir até o apartamento para entregar o pedido. O caso ocorreu na segunda-feira (4).

Testemunha rebate justificativa sobre legítima defesa. Em entrevista ao programa Encontro, da TV Globo, Yuri Oliveira, que também trabalha no iFood e testemunhou a confusão, disse que não viu Nilton fazendo qualquer movimento para tentar pegar a arma de Roy.

"Um menino de bom coração", diz tio

Conhecido pelos familiares como "Niltinho", o entregador trabalha no ramo há quase quatro anos. O tio conta que ele teve poucas oportunidades na vida, mas que é um menino esforçado. "Não foi criado pela mãe, passou pouco tempo com o pai, um menino esforçado, largou os estudos para trabalhar, que era o que ele estava fazendo, um menino muito esforçado, um menino de bom coração, sabe?", disse.

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O tio explicou que nunca imaginou que o sobrinho fosse ser baleado durante o trabalho. "Minha cunhada veio me avisar dizendo que seria um acidente. Eu troquei de roupa rapidinho, peguei o carro e fui até o encontro dele. No caminho, descobri que ele tinha sido baleado", lamentou.

Imagina você receber uma notícia de que um anjo querido teu tomou um tiro, foi parar no hospital, sabe, ensanguentado, sei lá, a gente tomou um susto muito grande, mas Deus é tão bom que ele deu todo o suporte, o menino tá se recuperando bem.
Tio de Nilton

Relembre o caso

O policial militar e a esposa dele fizeram um pedido de comida por aplicativo, que foi entregue por Nilton. Após a chegada da encomenda, o agente e a mulher teriam se recusado a descer para buscá-la, e o entregador informou que não iria subir até o apartamento deles porque não fazia parte de seu trabalho.

Como o PM não desceu, o entregador fez os trâmites de devolução do produto e retornou para o estabelecimento onde a compra foi feita, quando foi abordado pelo cliente, na praça Saiqui. Imagens feitas por Nilton mostram ele e Roy discutindo. O agente está armado e questiona por que o entregador está "com a mão na cintura". O jovem nega que esteja armado, levanta a camisa e fala: "Tô armado não, filho. Sou trabalhador".

Em seguida, o jovem diz estar sendo ameaçado pelo policial. "Ele está tentando me agredir. Mostrou a arma na minha cara. Tira a arma e faz na mão", falou o trabalhador.

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O agente rebate o entregador e diz que ele teria sido mal-educado com sua esposa. "Trabalhador o caralh*. Minha mulher te tratou com maior educação, vai tomar no seu c*. Seja educado. Não se propõe a fazer entrega? Então seja educado. Minha mulher tem 42 anos e te respondeu na maior educação".

Posteriormente, é possível ver Nilton caído no chão, ensanguentado, baleado na perna.

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