SP: 'Situação crítica', diz relatório sobre acolhimento da população de rua
Um relatório feito por uma comissão da Câmara de Vereadores de São Paulo apontou uma série de "situações críticas na rede de acolhimento" da população em situação de rua da capital paulista.
O que aconteceu
Questionários feitos com acolhidos e funcionários apontam insatisfação especialmente com as pragas. Foram feitas visitas a oito locais, que abrangem todas as modalidades de acolhimento a pessoas em situação de rua oferecidas pela Prefeitura de São Paulo em 2023, e entrevistas com 70 pessoas. No Centro Temporário de Acolhimento 8, na Lapa, uma parede estava marcada com sangue dos insetos.
Banheiros sem porta e alto nível de reclamação de entupimentos. "A falta de divisórias compromete a dignidade e o conforto pessoal, podendo gerar constrangimento e desconforto entre os conviventes. A privacidade nos espaços sanitários é fundamental para garantir um ambiente respeitoso", aponta o relatório. Além disso, a falta de água quente foi registrada em seis dos oito locais.
Quarto com 158 pessoas e quatro ventiladores. A situação foi identificada no CTA (Centro de Acolhimento Social) de Santana, na zona norte da cidade. "158 conviventes compartilham um único quarto, com camas dispostas sem a distância mínima necessária, tornando praticamente impossível o trânsito pelos corredores", diz o texto.
Comida estragada e perigo pela presença de ratos e pombas. Houve relatos de "incidência relevante de alimentos crus e azedos em três dos oito equipamentos", diz o relatório. Os usuários dos serviços, porém, diminuem as reclamações quando as refeições são feitas internamente —seja por cozinheiras ou por eles mesmos. "Quando as refeições são preparadas no equipamento [...] há a garantia de uma qualidade maior no conteúdo ofertado, [...] fato que aumenta a satisfação dos conviventes".
Custo por usuário mensalmente varia entre R$ 1.200 e R$ 4 mil. O maior valor levantado foi para o CAEF Hotel Plaza Central, hotel transformado em centro de acolhimento localizado na Bela Vista, região central. O menor é o do Autonomia em Foco, no bairro da Armênia, também central.
A cidade de São Paulo tem pelo menos 64 mil pessoas em situação de rua. Em pouco mais de 10 anos, o número aumentou 17 vezes, diz um estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). O tema deve ser um dos principais nas discussões das eleições municipais deste ano.
Relatório será entregue ao poder público, diz vereadora ao UOL. "É um instrumento de pressão". O relatório foi elaborado pela vereadora Luna Zarattini (PT), presidente da Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Cidadania, e as recomendações de melhorias serão repassadas para a prefeitura, afirma. O lançamento do documento contou com a presença do ministro de Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Leia a íntegra do documento.
Esse relatório é fruto dessas visitas, do diálogo com os conviventes, os usuários desses equipamentos, os trabalhadores, e nós verificamos uma série de irregularidades, de precariedades. Visitamos equipamentos que tinham comidas azedas, insetos, percevejos, espaços inadequados para receber esse acolhimento. Vimos falta de refeitórios, de espaços de convivência.
Luna Zarattini, vereadora de São Paulo