PM apura envolvimento de homens da Rota com o PCC e inimigos de Gritzbach
A Polícia Militar de São Paulo instaurou inquérito para investigar denúncias sobre o envolvimento de PMs com o PCC (Primeiro Comando da Capital). Há indícios de que um grupo da facção sediado na zona leste paulistana recebia informações sigilosas para não ser preso nem sofrer prejuízos em operações policiais.
As investigações do IPM (Inquérito Policial Militar), aberto em outubro deste ano, se concentram em dois núcleos suspeitos de associação com líderes do PCC. O primeiro era baseado dentro da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da corporação; o segundo, em diversos batalhões —a maioria na zona leste da capital.
Os favorecidos pelo esquema seriam justamente criminosos inimigos do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, assassinado no aeroporto de Guarulhos. Alguns dos rivais de Gritzbach foram mortos e outros acabaram presos recentemente.
O IPM aponta como beneficiados narcotraficantes do PCC, como Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, Cláudio Marcos de Almeida, o Django e Rafael Maeda Pires, o Japa, já mortos; além de Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, foragido; e o advogado Ahmed Hassan Saleh, delatado pelo empresário e preso no último dia 17 pela Polícia Federal.
Todos eles eram acionistas da empresa de ônibus UPBus, da zona leste, investigada por ligação com o PCC. Cara Preta foi morto a tiros em dezembro de 2021 no Tatuapé. Gritzbach foi acusado de ser o mandante do assassinato dele. Django e Japa morreram na guerra interna da facção.
Segundo o inquérito, o núcleo de PMs da Rota seria formado por policiais que serviram na AI (Agência de Inteligência) do batalhão e tiveram acesso às informações sigilosas de operações policiais em andamento, principalmente às relacionadas a criminosos do PCC.
Oficial é investigado
Um dos alvos da investigação é um capitão da APMPMSP (Assessoria Policial Militar da Prefeitura do Município de São Paulo). Ele serviu na Rota durante seis anos, foi comandante de pelotão, chefe da Agência de Inteligência e da PJMD (Polícia Judiciária Militar e Disciplina).
O oficial foi transferido para o CPChoque (Comando de Policiamento de Choque) em setembro de 2022, para ocupar a função de chefe da Agência Regional de Inteligência. Em fevereiro deste ano, ele foi removido para a APMPGJ (Assessoria Policial Militar da Procuradoria Geral de Justiça), onde permaneceu até junho.
O capitão não foi citado pelo autor da denúncia. Porém, a PM apurou que ele é amigo pessoal de diversos investigados no inquérito e responsável pela indicação deles para trabalhar na AI (Agência de Inteligência) da Rota. O oficial tem contato rotineiro com todos no serviço e até em festas nas casas deles.
Cabos e sargentos são alvos
Entre os militares amigos pessoais e de confiança do capitão estão quatro cabos. As investigações apontam que um deles foi motorista do capitão quando o oficial trabalhava na Rota, e foi indicado por ele para atuar na Agência de Inteligência do batalhão.
O autor da denúncia anônima encaminhada à PM contou que o cabo em questão divulgou diversas informações, inclusive dados de viaturas aos narcotraficantes Cara Preta, Django e Cebola, protegendo os negócios e também as pessoas de interesse desses criminosos.
O cabo seria dono do Rota's Bar e teria como sócio outro cabo do 8º Batalhão (Tatuapé) que demonstra padrão de vida incompatível com os vencimentos na PM. Ele posta nas redes sociais fotos em barcos, lanchas, carros de luxo e resorts. Ambos teriam recebido quantias expressivas de Django e Cebola.
Na lista de investigados estão ainda um sargento aposentado que serviu dez anos na Rota e trabalhou na seção de rádio. Quando era cabo, em 2022, candidatou-se a deputado federal, mas não foi eleito. Ele teria passado informações ao PCC e usado veículos da facção em seu comitê eleitoral.
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Quero receberAinda na condição de cabo, ele trabalhou no mesmo período com outro sargento na seção de rádio da Rota. Ambos atuaram como segurança na empresa de ônibus Transwolff, da zona sul paulistana, acusada de ligação com o PCC, e teriam passado informações para o narcotraficante Cebola.
Um terceiro sargento investigado trabalhou quase a carreira toda em batalhões da zona leste. Ele teria passado informações ao PCC e contratado PMs para fazer a segurança pessoal do narcotraficante Japa. A última unidade onde o sargento trabalhou foi no gabinete do comandante-geral.
Emboscada e morte
As investigações contra esses PMs começaram em 17 de outubro deste ano, mais precisamente 22 dias antes da morte de Gritzbach. Mas os trabalhos se intensificaram a partir de 8 de novembro - quando ele foi assassinado - já que o empresário havia contratado oito policiais militares para cuidar de sua segurança pessoal.
A Polícia Militar quer saber se os militares da escolta de Gritzbach "falharam de forma proposital ou se receberam vantagem indevida para agir assim, pois sabiam o exato momento em que o empresário desembarcaria no aeroporto, tendo ocorrido ali sua emboscada e morte", diz o inquérito.
Ao todo, são investigados 16 policiais militares. Oito faziam a escolta de Gritzbach. Os demais, alguns da ativa e outros da reserva (aposentados), foram acusados pelo denunciante anônimo de repassar informações a líderes do PCC, todos rivais do empresário assassinado.
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