Matadores do Comando Vermelho: quem são os fugitivos de Mossoró

Deibson Cabral Nascimento, 33, e Rogério da Silva Mendonça, 35, que escaparam do presídio federal de Mossoró (RN), na primeira fuga do país em uma unidade de segurança máxima, são acusados de participar de uma rebelião que deixou cinco presos mortos em uma unidade prisional do Acre, em 2023. Apontados como 'matadores' do Comando Vermelho, eles foram recapturados hoje, após 50 dias de fuga, no Pará.

Rogério da Silva Mendonça (esq) e Deibson Cabral Nascimento (dir) foram recapturados pela PRF
Rogério da Silva Mendonça (esq) e Deibson Cabral Nascimento (dir) foram recapturados pela PRF Imagem: Divulgação/Polícia Rodoviária Federal

'Matadores do CV'

Fugitivos de presídio de Mossoró são "matadores do CV". Fontes nas forças de segurança ouvidas pelo UOL indicam que Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, os fugitivos da penitenciária federal acusados de participação no motim, são conhecidos por serem encarregados de assassinatos no "tribunal do crime" do Comando Vermelho do Acre.

Deibson cumpria pena de 81 anos de prisão. Conhecido como Tatu, ele tem o nome ligado a mais de 30 processos e responde por crimes como tráfico de drogas, organização criminosa e roubo por assalto a mão armada.

Rogério foi condenado a 74 anos de prisão e responde a mais de 50 processos. Conhecido como Martelo, ele tem uma suástica tatuada na mão e é acusado de homicídio qualificado, roubo e violência doméstica.

Motim e corpos decapitados

Rebelião motivou transferência para presídio de segurança máxima. Os 14 detentos acusados de participar de um motim ocorrido no fim de julho de 2023, no presídio Antônio Amaro Alves, em Rio Branco (AC), foram transferidos para presídios de segurança máxima a pedido do Gaeco (Grupo de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do Acre.

Identificação com o auxílio de drones. A identificação dos responsáveis pela rebelião no Acre foi feita com o auxílio de áudios, vídeos e por imagens feitas por drone durante o motim. Entre eles, estavam Deibson e Rogério que fugiram em 14 de fevereiro do presídio federal de Mossoró (RN).

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Inspeção no presídio desencadeou motim. A rebelião começou em meio a uma inspeção em um dos pavilhões do presídio. Após render um policial penal e um faxineiro, o grupo acessou o depósito de armas usadas pelos próprios agentes do presídio para invadir pavilhões e assassinar outros cinco detentos.

Corpos decapitados indicam acerto de contas. Três dos cinco detentos mortos no motim foram decapitados, o que indica um acerto de contas de presos ligados ao Comando Vermelho com grupos rivais. Segundo investigações à época, os detentos assassinados eram líderes do Bonde dos Treze. As duas facções disputam território em ao menos dez cidades do Acre, segundo estudo divulgado em novembro de 2023 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Rebelião durou mais de 24 horas. Depois de cometerem os assassinatos, os amotinados negociaram a rendição e entregaram as armas para a entrada das forças de segurança no presídio.

Outro lado: o UOL tenta contato com as defesas de Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça.

Um dos fugitivos do presídio federal de Mossoró (RN), Rogério da Silva Mendonça tem tatuagem de suástica em uma das mãos
Um dos fugitivos do presídio federal de Mossoró (RN), Rogério da Silva Mendonça tem tatuagem de suástica em uma das mãos Imagem: Reprodução

A captura

Após 50 dias de buscas, os dois detentos que escaparam do presídio de segurança máxima foram encontrados em Marabá (PA), a cerca de 1.600 km de Mossoró. O Ministério da Justiça e da Segurança Pública montou uma força-tarefa de cerca de 500 agentes para encontrar Rogério da Silva Mendonça, 33, e Deibson Cabral Nascimento, 35, após a fuga em 14 de fevereiro

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Os fugitivos e outros quatro homens estavam em Belém e foram capturados quando se deslocavam em três carros para Marabá: "Estavam num comboio do crime", disse o ministro ministro Ricardo Lewandowski (Justiça). Rogério e Deibson, que integram a facção Comando Vermelho do Acre, viajavam em veículos diferentes — que eram conduzidos pelos comparsas — e tinham outro carro na "escolta", segundo a PF.

A PF apreendeu um fuzil AR-15 com os fugitivos, e afirma que eles planejavam deixar o Pará quando foram capturados. O grupo foi preso na BR-222, em uma ação conjunta entre a PF e a PRF, nas imediações de uma ponte rodoferroviária. "Saímos da busca física, e trabalhar na parte da inteligência", disse Lewandowski.

Os fugitivos voltarão para a unidade prisional de Mossoró. Segundo Lewandowski, os dois ficarão separados na penitenciária. "O sistema penitenciário federal não é mais o mesmo desde a data do evento [fuga] — 10 mil novas câmeras serão instaladas e a iluminação também foi trocada", disse hoje André Garcia, secretário nacional de Políticas Penais.

Como foram as buscas

Inicialmente, agentes federais e estaduais concentraram as buscas num raio de 15 km de distância do presídio. Lewandowski anunciou em 19 de fevereiro o emprego de mais cem agentes da Força Nacional para atuar nas buscas. A corporação saiu da área em 29 de março.

Secretarias da Segurança de três estados anunciaram que estavam atuando juntas para fiscalizar divisas. Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará aumentaram o policiamento terrestre e aéreo da região. A Interpol foi alertada.

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Roupas e pegadas foram encontradas por equipes da força-tarefa dois dias depois da fuga. Calçados e camisetas — que podem ser dos dois fugitivos — foram localizados em uma área rural de Mossoró. Com isso, as buscas se intensificaram na região.

No total, 14 pessoas foram presas em flagrante por suspeita de ajudar os fugitivos — incluídos os quatro homens detidos na captura de hoje. Na primeira semana de buscas, duas pessoas foram presas em flagrante e outra preventivamente. Em 22 de fevereiro, a PF cumpriu nove mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró, Quixeré (CE) e Aquiraz (CE).

04.abr.2024 - Carros em que estavam os fugitivos de Mossoró e seus comparsas no momento da prisão
04.abr.2024 - Carros em que estavam os fugitivos de Mossoró e seus comparsas no momento da prisão Imagem: Arte UOL/Divulgação PRF

Luminária, teto e tapume: como foi a fuga

Detentos abriram parede de presídio e fugiram por área próxima da luminária da cela. Deibson e Rogério fugiram pelo telhado da penitenciária na madrugada de quarta-feira de Cinzas.

Lewandowski elencou uma série de falhas nos protocolos de segurança na unidade. Segundo o governo, o presídio federal passava por uma obra de manutenção, e os presos teriam tido acesso às ferramentas utilizadas na reforma — que não estavam trancadas.

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Defeitos na construção do presídio também foram apontados. A saída pelo teto teria sido possível porque o prédio é de alvenaria e não de concreto. Câmeras e luzes não estavam funcionando adequadamente.

Imagem mostra buraco em parede de unidade prisional por onde teriam saído fugitivos
Imagem mostra buraco em parede de unidade prisional por onde teriam saído fugitivos Imagem: Divulgação / Ministério da Justiça

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