'Descobri que fui trocada na maternidade e hoje tenho mais de 20 irmãos'
Quando Giovana Leite de Araújo, de 27 anos, fala que tem mais de 20 irmãos, todos ficam surpresos. O espanto só não é maior do que quando ela revela que foi trocada na maternidade quando tinha apenas horas de vida.
Moradora de Curitiba, ela descobriu que não era filha biológica de seus pais quando tinha seis anos, depois que um representante do Conselho Tutelar foi em sua casa em Cascavel. Isso aconteceu porque outra família que teve bebê no mesmo dia e lugar procurava uma criança que foi trocada.
Depois de exame de DNA, Giovana conheceu Ângela - a menina que é a filha biológica de seus pais de criação. Hoje, elas se consideram irmãs. Ao UOL, Giovana conta sua história.
'Minha mãe biológica sentiu'
"Eu nasci no dia 3 de fevereiro de 1997 na cidade de Cascavel (PR). Quando as enfermeiras me levaram para o meu primeiro banho, fui trocada por outro bebê. Eles me entregaram para outra mãe.
A minha mãe biológica conta que, quando pegou a outra bebê no colo, sentiu algo diferente. Não sei se foi pela aparência, se ela já tinha gravado o meu rosto, ou se foi intuição. Ela chegou a dar uma volta no quarto para ver se notava algo diferente, mas não falou nada.
Ela pensou que seria coisa da própria cabeça, e que se falasse algo seria a palavra dela contra a palavra do hospital. Já a minha mãe de criação fala que não notou diferença entre as bebês.
Na minha família de criação, meu pai é preto, minha mãe é morena clara e eu tenho tias brancas. Então, a cor da minha pele não era uma diferença alarmante. No caso da minha família biológica, meus pais são brancos e a Ângela, que foi trocada comigo, é morena e tem cabelos cacheados. Para eles, a aparência era muito diferente.
'Escolhemos com quem íamos ficar'
A vida seguiu normalmente até quando eu tinha seis anos. Eu estava na casa da vizinha brincando e minha mãe estava lavando roupa, quando chegou uma pessoa do Conselho Tutelar e explicou a situação para ela: aconteceu uma troca de bebês no hospital no dia que eu nasci e eu poderia ter sido trocada.
Fomos informadas que precisaríamos fazer o exame de DNA. Depois a gente soube que a minha mãe biológica ouvia vários comentários sobre a Ângela não ser parecida com ela, inclusive foi acusada de ter traído meu pai, e ela sofria muito com isso.
Na época, minha família biológica fez o exame de DNA, que deu negativo, e tiveram ajuda de uma advogada para acionar o hospital. Foi assim que me encontraram. Quando meu exame de DNA saiu, descobrimos que eu era a bebê procurada. Entramos com processo na Justiça, fomos indenizadas e recebemos apoio psicológico.
Na época, foi feita uma reunião para as famílias se conhecerem, mas foi muito difícil de lidar. Para mim e para a Ângela, acho que foi um pouco mais tranquilo, a gente achava legal ter duas famílias. Tivemos mais consciência do que aconteceu na adolescência.
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Quero receberNós ficamos tão próximas que hoje nos consideramos irmãs também. Mas, para as nossas mães, não foi fácil. Como a gente morava na mesma cidade, a gente sempre se visitava e estávamos por perto, convivendo com as duas famílias.
Quando a gente tinha 12 anos, foi feita uma audiência para escolhermos com quem queríamos ficar - tanto eu quanto a Ângela resolvemos ficar com nossas famílias de criação, e nossas mães concordaram com a gente.
'Uma família só'
Hoje, moro em Curitiba, mas sempre que estou em Cascavel visito minhas duas mães. No final do ano, passo um dia no Natal em uma casa e um dia na outra. Temos uma ótima relação. Somando as duas famílias, tenho mais de 20 irmãos — sobrinhos já perdi a conta.
@giovanarazini Como eu descobri que fui trocada na maternidade ! #trocanamaternidade #maternidade #fyp ? som original - GiovanaRazini
Depois da descoberta, a gente manteve tudo igual. Tudo ficou como era antes: minha mãe de criação que continuou me educando e me mantendo financeiramente. Com a Ângela foi a mesma coisa. Não mudamos nem o documento. A gente só criou laços e se tornou uma família só."
Hospital não comentou o caso
A reportagem do UOL entrou em contato com o hospital que Giovana e Ângela nasceram, que não quis se pronunciar sobre o caso. Por telefone, a equipe de comunicação afirmou que a direção prefere não comentar a troca de bebês, que teria acontecido sob outra gestão. O espaço segue aberto para manifestação.
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