Dona de estátua de Belzebu investe R$ 2 mi e cria cemitério para pombagira
Mãe Michelly da Cigana, 44, é dona da famosa estátua de Belzebu que virou ponto turístico em Alvorada (RS). Um ano depois de virar notícia, ela fez mais uma homenagem às entidades que cultua: um cemitério para as pombagiras.
O que se sabe:
Pombagiras são entidades de religiões de matriz afro-brasileiras incorporadas por médiuns. Alguns sacerdotes as enxergam como mensageiras dos orixás, que assumem diferentes personalidades. Entre as mais conhecidas está a Maria Padilha, ligada à amante do rei de Castela, na Península Ibérica — e que ganhou um túmulo especial no cemitério da mãe de santo.
Usando o dinheiro arrecadado depois de viralizar, Michelly conta que conseguiu os R$ 2 milhões que pagou no terreno e os R$ 350 mil na obra - que, atenção: conta apenas com túmulos espirituais, sem qualquer corpo humano.
A partir da viralização (do Belzebu), aumentaram os trabalhos aqui em casa. E eu sempre devolvo para as entidades aquilo que elas me dão. Devolvo construindo um salão, comprando uma imagem, fazendo uma festa, porque esse dinheiro que vem não me pertence, ele pertence à religião.
Mãe Michelly conta que criou o novo projeto depois de sofrer um episódio de intolerância religiosa em um cemitério público. Foi então que ela decidiu ter o próprio espaço para fazer os trabalhos com mais discrição e segurança.
Eu comprei o sítio de Belzebu, onde está construído esse cemitério. Ele vai ser um santuário, para cultuar todas as religiões. Vai ter um espacinho para umbanda, um espaço para as pessoas largarem as suas oferendas a Exus e Pombagiras, mas a primeira parte a ser construída foi o cemitério de Maria Padilha.
No espaço, destaca a mãe de santo, não há "corpos ou ossos" e sim "assentamentos" louvando e homenageando exus e pombagiras.
Quem fez os túmulos foi um pessoal de São Paulo que trabalha fazendo cenários para filmes de terror.
O novo santuário fica em Viamão, outra cidade na região metropolitana de Porto Alegre.
A obra do cemitério levou quatro meses para ficar pronta, mas ainda faltam imagens encomendadas por Mãe Michelly.
A ideia é que em agosto, já com o espaço completo, ele seja aberto à visitação - inicialmente, para um tour noturno com guia.
Michelly conta que pensou em cada detalhe do projeto. Os pedreiros que colocaram as ideias em prática nunca tinham trabalhado em uma obra religiosa, mas aceitaram bem os pedidos da mãe de santo.
Eu perguntei pra um deles: 'foi meio inusitado pra ti?'. E ele respondeu: 'aonde eu vou, aonde eu entro, as pessoas me perguntam sobre isso'. Mas ele foi super 'de boa'. Disse que a aceitação está muito boa também para o lado deles.
Restante da obra inclui casa de vidro para Belzebu
Os próximos passos do santuário da mãe Michelly incluem uma casa de vidro para Belzebu - que já está em construção - uma praça para o povo cigano e uma praça para as crianças em homenagem a Cosme e Damião.
Tudo isso distribuído em 180.000 m² de terreno. O cemitério, que virou assunto da vez, fica nos fundos dele.
Eu também tenho o Lago de Oxum, o Lago do Eixo do Ouro, que são assentamentos, e estou iniciando também a construção de um bar para o Zé Pilintra. Então, vai ser um santuário religioso mesmo.
A mãe de santo ainda calcula quanto vai gastar em todas essas construções - e outras que ainda estão em desenvolvimento.
O plano é que elas sejam abertas ao público para que quem quiser possa acender velas e fazer oferendas em segurança.
É um local que vai ter tendas para as pessoas poderem tocar o seu tambor, sem incomodar ninguém, sem problema com barulho. Um santuário não somente de Umbanda, Kimbanda, mas também de matriz africana e povo cigano.
A vida após sucesso da estátua
Mãe Michelly conta que o movimento em sua casa de religião, onde pratica seus trabalhos, aumentou três vezes depois da divulgação nacional de sua estátua de Belzebu. "Tive que contratar mais funcionários. Faz mais de um ano e ainda estou adaptando a equipe da Magia Cigana."
Em frente à fachada onde a estátua está instalada, as pessoas param para tirar fotos e, até mesmo, fazer orações.
Eu estava pensando que devia gravar a reação das pessoas, porque virou um ponto turístico e tem situações muito engraçadas, em que as pessoas chegam a tirar fotos por baixo do braço, 'escondido', acho que com medo ou vergonha.