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Polícia abre inquérito sobre morte de preso por cortar corda de trabalhador

Raul Ferreira Pelegrin, de 41 anos, era suspeito de cortar a corda de sustentação de um trabalhador em Curitiba Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

03/05/2024 19h03Atualizada em 03/05/2024 19h03

A Polícia Civil do Paraná instaurou um inquérito hoje para investigar as circunstâncias da morte de Raul Ferreira Pelegrin, suspeito de cortar a corda que sustentava um trabalhador de limpeza no prédio onde morava, em Curitiba. O suspeito, que estava preso, morreu em um hospital no último dia 5, segundo a Polícia Penal.

O que aconteceu

Investigação busca esclarecer se foi uma "morte criminosa", segundo o delegado. A apuração procurará saber se houve alguma agressão à vítima antes da morte, de acordo com o delegado Thiago Andrade.

Polícia solicitou os laudos que devem apontar a causa da morte. O delegado acrescentou que pedirá o prontuário médico de atendimento de Raul e as imagens das câmeras de segurança do local onde ele estava. A polícia também deve ouvir as pessoas responsáveis pela custódia do suspeito.

O prazo para divulgação dos resultados da investigação é de 30 dias, mas período pode ser prorrogado. O objetivo da polícia é verificar se algum agente público ou detento deve ser responsabilizado pela morte.

Inquérito foi aberto após pedido judicial da família. A defesa de Raul diz que espera que não haja qualquer tipo de corporativismo na responsabilização de quem deve responder pela morte. "Estaremos vigilantes no acompanhamento deste inquérito policial", acrescentou o advogado Adriano Bretas, que representa a família.

Morte no hospital

Raul morreu no Hospital Angelina Caron, na região metropolitana de Curitiba. A Polícia Penal do Paraná disse ao UOL que, por volta da 1h30 do dia 5 de abril, a Casa de Custódia foi informada sobre o óbito do homem na unidade de saúde.

A causa da morte não foi informada pela Polícia Penal do Paraná. Segundo a defesa, o preso faleceu em decorrência de pneumonia e sepse (infecção generalizada). Raul estava internado no hospital por apresentar dificuldades respiratórias, de acordo com a polícia. Ele estava internado com escolta policial.

Em nota enviada ao UOL na época do óbito, a defesa disse que informou as atutoridades que Raul tinha dependência química e "estava em risco iminente de morte". Os advogados pediram a liberdade provisória para conseguirem interná-lo em uma clínica particular para tratamento especializado, mas a Justiça negou.

O desembargador Sergio Luiz Patitucci, do Tribunal de Justiça do Paraná, determinou que Raul deveria seguir preso. "Estou mantendo a prisão até para que ele faça uma desintoxicação e, futuramente, quem sabe, possa fazer um tratamento [para dependência química]", argumentou o magistrado.

Raul teria sido espancado

A defesa da família de Raul Pelegrin afirmou que o empresário foi espancado na prisão. A agressão teria ocorrido um dia antes de morrer em um hospital de Piraquara.

Histórico de prontuário de Raul na prisão descreve o ocorrido. No documento, obtido pelo UOL, é descrito que, por volta das 12h30 do dia 3 de abril, presos relataram que o empresário estava apanhando de colegas em uma cela na Casa de Custódia de Piraquara. O preso foi retirado do local, encaminhado para a enfermaria e, após avaliação, foi levado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Piraquara.

Registro indica que Raul voltou para a unidade prisional horas depois, no início da noite do dia 3, e foi transferido de cela. No dia seguinte (4 de abril), por volta das 15h30, Raul foi levado e ficou internado no Hospital Angelina Caron, na região metropolitana de Curitiba, após apresentar dificuldades respiratórias. A Polícia Penal do Paraná disse ao UOL que, por volta da 1h30 do dia 5, a Casa de Custódia foi informada sobre o óbito do homem na unidade de saúde, onde estava sob escolta policial.

Defesa da família afirma que preso foi "brutalmente espancado" e diz que setor da prisão negou acesso ao prontuário de Raul. De acordo com o advogado Adriano Bretas, após a recusa, o acesso ao documento foi pedido à Justiça, que aceitou a solicitação. Bretas afirma que a agressão contra o cliente foi "escondida" da defesa e da família do preso. Na época, a defesa também comunicou ao UOL que acionaria diferentes órgãos para o esclarecimento das circunstâncias da morte.

Agressão é investigada

Depen (Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná) diz que caso está sob investigação das autoridades competentes. Eles informaram que a Corregedoria Geral, responsável pelo procedimento administrativo de apuração do caso, recentemente comunicou sobre a "suposta" ocorrência de agressão contra o preso.

Conselho Administrativo-Disciplinar da prisão onde Raul estava também "trabalha" para responsabilizar os autores das agressões. "Considerando tratar-se de fato ocorrido no interior de cela de custódia, local sem permanente visibilidade dos servidores, todas as pessoas privadas de liberdade recolhidas no ambiente em questão passam a compor as investigações e inquérito policial", informou a Polícia Penal em nota ao UOL.

A reportagem questionou, mas a Polícia Penal não respondeu se procedia à acusação da defesa de que a unidade prisional não avisou a família e os defensores de Raul sobre ele ter sido agredido e socorrido até uma unidade de saúde em 3 de abril.

Relembre o caso

O caso ocorreu no dia 14 de março. Raul Pelegrin, que residia na cobertura do prédio, no 27º andar, cortou a corda que sustentava o trabalhador que limpava a fachada do edifício. A vítima estava a 18 metros do chão e só não caiu do 6º andar devido ao funcionamento de um dispositivo de segurança que impediu a queda. O prédio fica localizado no bairro Água Verde, em Curitiba (PR).

A Polícia Militar foi acionada para a ocorrência e entrou no prédio com autorização do síndico. Os agentes checaram pelas câmeras de segurança que Raul estava dentro do apartamento e precisaram arrombar a porta da residência. No local, encontraram na sacada a faca que o homem de 41 anos utilizou e a corda cortada.

Além de Raul, a funcionária dele também foi presa por mentir para a polícia. Em nota, a Polícia Civil do Paraná explicou que ela teria dito aos agentes que o morador da cobertura não estaria dentro de casa. Ela foi ouvida e liberada em seguida.

Funcionários do condomínio disseram que já sofreram ameaças de Raul. O morador teria dito que iria cortar todas as cordas de todos os funcionários, caso não se retirassem. As informações constam no boletim de ocorrência.

Trabalhador que teve a corda cortada disse estar abalado e sentiu que ia morrer. "A gente não espera que isso possa acontecer. O sentimento é de tristeza. Poderia ter perdido minha vida ali, sem nem saber o motivo", disse Mayk Gustavo Ribeiro da Silva, 27, ao UOL no fim de março.

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