'Ainda não consegui viver o luto pelo meu marido', diz vítima do RS
Colaboração para o UOL, em São Paulo
08/05/2024 12h19Atualizada em 08/05/2024 13h27
Ainda tentando acomodar a famíia, a operária Núbia Almeida disse hoje (8) ao UOL News que não conseguiu viver o luto pela perda do marido, uma das cem pessoas mortas pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul.
Eu o isolei em um cantinho e estou tentando acomodar meus filhos e minha irmã. Estou tentando acomodar o pessoal para depois viver meu luto. Por enquanto, eu ainda não consegui.
Por volta de 20h30, começamos a ouvir alguns barulhos. Tentamos correr e fui salvar minha irmã. Meu filho de 19 anos estava dormindo. Meu marido voltou ao quarto para chamá-lo. Ele não conseguiu sair e nisso já pegou todo mundo. O Dênis [filho de Núbia] ficou soterrado por quase três horas.
A casa ficou totalmente soterrada. Conseguir ir até lá ontem. Meu marido ficou preso perto do Dênis, que chegou a conversar com ele, mas o Rodrigo [marido de Núbia] não resistiu. Ele tinha 47 anos e desde os 15 era diabético. Já havia feito cirurgia, no caso quatro pontes de safena, e havia completado dois meses do segundo transplante de rim. Ele estava muito bem, mas não resistiu. Núbia Almeida, sobrevivente
Núbia mora em Salvador do Sul, cidade localizada a cerca de 100 km de Porto Alegre. Com a casa completamente destruída, ela foi levada com a irmã e três filhos para um centro de acolhimento do município. Ela criou uma vaquinha virtual e cobra as autoridades para que se defina o destino da família dela e de outros sobreviventes.
Não tenho para onde ir. Minha casa caiu completamente e disseram que não dá para construir lá de novo. A assistente social me disse que, como todos trabalhamos, não nos enquadramos em um perfil de baixa renda para receber ajuda. Mas perdi tudo.
O prefeito e os vereadores não vieram aqui falar conosco e dizer 'estamos tentando fazer tal coisa'. Pedi uma ajuda para uma casa em uma cidade vizinha, nem que seja de aluguel por dois, três meses. Mas disseram que não pode, que não há verba. A comida eles mandam, mas e o resto? Ninguém nos dá uma posição. Núbia Almeida, sobrevivente
Núbia contou que tanto ela como os vizinhos não receberam qualquer tipo de alerta para deixarem suas casas assim que a chuva começou.
Disseram uma vez que lá era uma área de risco, mas liberaram para construir. Quando comprei, a casa já estava lá havia mais de dez anos.
Quando começou a chover, se pelo menos tivesse passado a fiscalização dos bombeiros ou a prefeitura e dito que havia risco, nós teríamos saído. Nunca teríamos ficado lá dentro. Núbia Almeida, sobrevivente
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