RS: número de mortos já supera total de óbitos por desastres de 1991 a 2022
Do UOL, em São Paulo
11/05/2024 15h31
Até a tarde deste sábado (11), 136 óbitos foram confirmados pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul em decorrência das chuvas no estado. O número supera o total combinado de mortes causadas por desastres naturais em 30 anos.
O que aconteceu
Entre 1991 e 2022, foram registradas 101 mortes por desastres naturais. O levantamento foi feito pelo Atlas Digital de Desastres no Brasil, com números disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. A soma de 2023 ainda não foi contabilizada pela plataforma.
O Atlas leva em conta todos os tipos de desastres. Nesse caso, o total de mortos considera também estiagens, incêndios florestais e ondas de frio e calor, e não apenas chuvas, como os números deste ano.
Nos últimos 11 meses, 75 mortes foram registradas. Um levantamento feito pelo UOL apontou o total de óbitos nos últimos desastres no RS. Foram três eventos de inundações e cheias no ano passado: em junho, setembro e novembro.
Ocorrência de desastres acelerou
O aumento dos desastres se deve ao enfraquecimento de políticas ambientais. O climatologista e professor na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Francisco Eliseu Aquino entende que os governos —municipais, estadual e federal— fragilizaram na última década a preservação do meio ambiente ao diminuir áreas de preservação. Isso favorece a ocupação de regiões ribeirinhas.
É preciso planejamento urbano e territorial, diz o professor. "O atual cenário de mudança do clima já é sabido por nós, cientistas. Em 2040 e 2050, seguirá mais intenso do que nós vemos hoje", diz Aquino.
Alternativa é realocar moradores de bairros mais atingidos para outras áreas dos municípios. "É o indicado. Sair das áreas de inundação é uma necessidade não só no Brasil, como no mundo", afirma.
Enchentes são reflexo do aquecimento global
O climatologista Carlos Nobre explicou que enchentes como as que atingiram o RS são resultado direto do aquecimento global. "Quando está mais quente, os oceanos evaporam muito mais, e a água é o veículo dos eventos meteorológicos todos, inclusive os extremos", pontua.
Um fenômeno que podia acontecer a cada 100, 200 anos lá atrás, agora está acontecendo frequentemente e pode acontecer várias vezes por década, alerta.
De acordo com Costa, se mudanças no atual cenário de emissão de gases do efeito estufa não ocorrerem, a previsão é que eventos climáticos extremos sigam em curso no país, atingindo biomas brasileiros de diferentes maneiras. A começar pela Amazônia, que, mais seca, pode passar por um processo de savanização, enquanto a região da Caatinga é ameaçada por um processo de desertificação. No Cerrado, o aumento das temperaturas também pode elevar exponencialmente os riscos de incêndios.
* Com informações de reportagens publicadas em 07/05/2024 e 09/05/2024.