'Foram 16 minutos de chances perdidas', diz irmã de jovem morto em elevador

A família de Sérgio Gabriel Mendonça Alves, 28, paciente do Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, zona norte do Rio, acredita que a morte do jovem poderia ter sido evitada, se ele não tivesse ficado preso no elevador por 16 minutos.

Ele entrou no hospital andando, falando, lúcido, vivo. Foram 16 minutos de chances perdidas. Por 16 minutos, meu irmão poderia estar vivo. Priscila Anastacio, 25, técnica de enfermagem e irmã da vítima

O que aconteceu

Jovem estava com infecção de dispositivo de drenagem de líquor. A família de Sérgio Gabriel afirma que ele procurou o hospital na última quinta-feira (27) por conta de dores de cabeça e de um abscesso que apareceu no pescoço, acima do dispositivo que ele tinha. O diagnóstico dado pelo médico foi de infecção de dispositivo de drenagem de líquor.

Quadro tinha piorado. No último domingo (30), o quadro de Sérgio agravou e ele teve que passar por uma reanimação cardiorrespiratória, segundo informações passadas pela unidade de saúde. Foi então que o levaram para o andar do trauma, devido às complicações apresentadas.

Mãe não entrou no elevador por falta de espaço. Segundo Priscila, a mãe não chegou a entrar no elevador com Sérgio e a equipe médica, pois não tinha espaço, mas ela assistiu toda a situação do lado de fora.

Quiseram entrar no elevador com a mesma maca que ele estava no quarto. Empurram até que entrasse. Meu irmão estava acompanhado do médico e de outras duas pessoas que não sabemos se eram técnicos de enfermagem ou enfermeiros. Foi então que subiram na maca com ele para continuar com a oxigenação. A porta do elevador fechou e logo depois minha mãe ouviu um estrondo. Foi então que começaram a chamar a manutenção. Priscila Anastacio

Imagens gravadas por testemunhas mostram equipe tentando tirar o paciente de dentro do elevador. Em outro momento, é possível ver Sérgio sendo atendido em um colchão no chão do hospital.

Hospital e testemunhas disseram que durou 16 minutos. A irmã da vítima e a mãe não sabem dizer quanto tempo exatamente tudo isso levou, mas o hospital e as testemunhas disseram que durou 16 minutos. A família acredita que tenha levado até mais tempo. Quando abriram a porta, o elevador estava entre um andar e outro e a porta estava pendurada.

Retiraram ele pelo colchão, colocaram ele em uma maca e foram para outro elevador. E assim seguiram com ele para o trauma. Por 16 minutos, meu irmão poderia estar vivo. Minha mãe em nenhum momento foi informada sobre a morte. Como estava esperando em frente à porta do setor de trauma, ela só viu a ponta do saco preto, quando alguém passou pela porta. Foi então que ela invadiu o local e foi se despedir do meu irmão. Já estavam ensacando ele. Priscila Anastacio

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O que diz o hospital?

Em nota, hospital detalhou caso. "A direção do Hospital Municipal Salgado Filho registrou um grave acidente neste domingo (30), às 12h35, devido à queda e descarrilamento da porta do elevador com um paciente que estava acompanhado com a equipe médica. Toda a equipe clínica do hospital e de manutenção estava no local e o tempo de permanência no elevador foi de 16 minutos. O paciente em questão tinha doença crônica preexistente. Ele tinha acabado de passar por uma reanimação cardiorrespiratória e estava sendo transferido de andar justamente pelo agravamento do quadro. Após o ocorrido, ele foi levado para a sala de trauma, mas acabou falecendo em razão do quadro grave que apresentava."

Unidade de saúde disse que irá apurar possíveis irregularidades. "A direção do hospital vai abrir sindicância para averiguar o caso no detalhe. Um novo conjunto de elevadores já foi licitado e a empresa vencedora tem prazo de 30 dias para iniciar os trabalhos. Enquanto isso, uma equipe de manutenção fica à disposição na unidade 24 horas para reparos necessários. Neste momento, dois elevadores estão em funcionamento e a equipe de manutenção segue no local."

Família conta que em momento algum o hospital ofereceu suporte ou se solidarizou com a morte de Sérgio. "Ele nasceu com hidrocefalia, mas tinha uma vida perfeitamente normal. Trabalhava, andava de skate, tocava violão, estudou, fez técnico em logística e iniciou a faculdade dessa mesma área. Nunca a condição dele o impediu de fazer alguma coisa. Minha mãe está realmente muito mal, todos nós todos estamos. Ele era muito amado. É uma perda imensa para a nossa família. Está sendo uma dor que nunca irá passar", diz Priscila.

Eles contestam uma das informações do atestado de óbito. De acordo com a família, atestado de óbito diz que Sérgio morreu de choque refratário, hipertensão intracraniana, adenocarcinoma e infecção do sistema respiratório. "Ele nunca teve esse diagnóstico de câncer. Inclusive, quando entrou na quinta fez tomografia de tórax, abdômen e crânio e no laudo não diz nada sobre. Ele entrou saudável. Não tomava nenhum tipo de medicação controlada", conta a irmã da vítima.

O caso está sendo apurado também pela Polícia Civil. "A investigação está em andamento na 23ª DP (Méier). Os familiares da vítima e outros envolvidos estão prestando depoimento. Os agentes realizam demais diligências para esclarecer todos os fatos", disse a nota enviada à reportagem.

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