Conteúdo publicado há 3 meses

Um celular foi roubado ou furtado a cada 33 segundos no Brasil em 2023

Quase um milhão de celulares foram roubados ou furtados no Brasil em 2023. Ou seja, a cada 33 segundos um celular é roubado ou furtado. Os dados são do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado hoje (18). O estudo revelou ainda que os roubos de celulares caíram 10% entre 2022 e 2023.

O que aconteceu

Brasil teve 107 aparelhos roubados ou furtados por hora no ano passado. O número representa um total de 937.294 celulares que foram parar nas mãos de criminosos em 2023. Contudo, entre 2022 e 2023, o número de aparelhos roubados caiu de 492.905 para 442.999, segundo o Anuário.

Há mais furtos do que roubos de celulares, indica o Anuário. Furto é quando não há violência, e roubo é mais grave, mediante ameaça ou violência. Entre 2018 e 2023, os furtos de celular aumentaram 13,7%. A pena para um roubo varia entre 4 e 10 anos, já para o furto é de um a 4 anos.

Subtração dos aparelhos ocupa papel central na construção do medo e da insegurança da população. A análise é de Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). "Eles são a porta de entrada mais fácil do crime organizado para uma série de outras modalidades de delitos que financiam e aumentam o poder das organizações criminosas", afirma.

Foram 461,5 ocorrências de celulares roubados ou furtados para cada 100 mil habitantes. O ranking das cidades com maiores incidências de furtos ou roubos de aparelhos é liderado por capitais. Veja a lista das taxas de ocorrências:

  • Manaus: 2.096,3
  • Teresina: 1.866
  • São Paulo: 1.781,6
  • Salvador: 1.716,6
  • Lauro de Freitas (BA): 1.695,8

Furtos atingem homens e mulheres na mesma proporção, mas roubos foram mais prevalentes entre homens. O grupo mais atingido pelo roubo de celular foi o de jovens de 20 a 29 anos, com taxa de 404,5 por 100 mil habitantes. Já o grupo de pessoas mais atingido por furtos estão na faixa etária entre 20 e 29 anos — com taxa de 357 por 100 mil.

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Brancos têm taxas de furto maiores, e negros sofrem mais com os roubos. Já a taxa de roubos de celular entre pessoas negras é 28,9% maior do que a observada entre os brancos.

Onde e quando ocorrem os roubos e furtos

Maior parte das subtrações de celulares acontece em vias públicas: 78% dos roubos e 44% dos furtos. Há ainda outros locais, como transporte, residência, estabelecimentos comerciais e financeiros. A análise inédita de padrões de roubos e furtos dos aparelhos foi feita pelo FBSP com base em boletins de ocorrências das 27 Polícias Civis do país.

Maioria dos roubos ocorre entre 5h e 7h e entre 18h e 22h. De acordo com o Fórum, os registros são mais frequentes quando as pessoas estão indo ou voltando do trabalho ou da escola. Já os furtos costumam ocorrer entre 10h e 11h ou entre 15h e 20h.

Roubos a celulares são mais frequentes em dias úteis. Já 35% dos furtos foram registrados no final de semana —são considerados crimes de oportunidade, ou seja, quando as vítimas apresentam maior grau de exposição ou vulnerabilidade às ações. Veja:

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Celulares da Samsung são os mais roubados ou furtados. Dos celulares subtraídos, 37,4% são da marca coreana, os da Apple representam 25%, os da Motorola, 23,1%, e os da Xiaomi, 10% do total.

Um golpe a cada 16 segundos

Em 2023, foram 1.965.353 registros de estelionato no país. O número representa um aumento de 8,2% na modalidade do crime de obter para si ou para outra pessoa uma vantagem ilícita (na maioria das vezes, em dinheiro).

São Paulo é a unidade da federação com maior crescimento de registros totais de estelionato, com aumento de 22,7%. O percentual é quase 3 vezes maior do que a média nacional, segundo o estudo. O Amapá se destaca como o estado que registra queda de 16,8% nos estelionatos entre 2022 e 2023.

Roubos de rua cederam lugar aos estelionatos. De acordo com o presidente do Fórum, de 2018 até o ano passado registrou-se uma tendência de aumento de crimes de golpes virtuais, enquanto o número de roubos nas ruas teve queda. Trata-se de uma tendência mundial, não apenas registrada no contexto nacional.

O ano de 2020, quando começou a pandemia de covid-19, foi o primeiro a registrar mais estelionatos que roubos. Entre 2018 e 2023, houve uma explosão de 360% no número de registros desse tipo de crime.

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Outras seis modalidades de roubos registraram queda. Segundo o Anuário, roubos a comércio (-18,8%), a residência (-17,3%), a transeunte (-13,8%), a carga (-13,2%), a veículo (-12,4%) e a celular (-10,1%) diminuíram.

Para criminosos, estelionato tem melhor custo-benefício do que delitos na rua. Segundo pesquisadores do FBSP, crimes de rua são entendidos como aqueles que podem ser combatidos pelo policiamento ostensivo realizado pelas polícias militares. Já os estelionatos são percebidos como delitos em que a relação "custo x benefício" entre o risco de ser preso e o ganho potencial é maior do que os crimes de rua.

O que dizem os governos

Ministério da Justiça e Segurança Pública lançou em dezembro do ano passado o programa Celular Seguro. O aplicativo permite que o usuário se cadastre e, em caso de roubo ou furto, pode registrar uma ocorrência que alerta operadoras de telefonia e bancos sobre o crime. Segundo a pasta, o programa permitiu 60 mil bloqueios de aparelhos referentes à perda, ao roubo e ao furto a partir de alertas de usuários.

Programa da Secretaria de Segurança Pública do Piauí é reproduzido em outros estados. No projeto "Recuperação de Celulares", a inteligência da Polícia Civil piauiense desenvolveu um programa para analisar e agrupar informações de roubos e furtos de celular em parceria com o Judiciário.

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O protocolo criado permite uma única investigação com milhares de aparelhos. Com isso, as operadoras são obrigadas por ordem judicial a informar as autoridades policial sobre a localização dos aparelhos — possibilitando a localização e devolução. O governo do Piauí informou que desde a criação do protocolo cerca de seis mil aparelhos foram recuperados.

Rio Grande do Norte informou que vai implementar o mesmo sistema de combate a roubos de aparelhos celulares do Piauí. Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins também devem seguir o mesmo modelo desenvolvido no Piauí.

Secretários de segurança pública desses dez estados devem ir ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) para acordo. No dia 1º de agosto, eles devem ir a Brasília para assinar um acordo de adesão ao Protocolo Nacional de Atuação Unificada de Recuperação de Celulares Furtados ou Roubados.

O enfrentamento a esse crime passa pelo aperfeiçoamento da investigação, diz Samira Bueno. Além disso, a diretora-executiva e o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, acreditam que para reduzir os números são necessárias ações de cooperação de esforços entre a Polícia Civil e o Judiciário — como no caso do Piauí.

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