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Milgrau, corre, salve: as gírias criadas nas prisões que se popularizaram

No mês passado, uma cartilha com 45 regras sobre as condutas a serem seguidas por faccionados do PCC foi encontrada em um presídio de São Paulo. Mas, além de um manual de comportamento, a "irmandade" tem, também, uma espécie de dialeto próprio.

O que aconteceu

Membros nos presídios paulistas criaram gírias e um próprio dialeto para comunicação. Com origem nas prisões, muitas dessas palavras proporcionaram aos faccionados uma forma única de se comunicar sem serem percebidos.

Apesar de algumas palavras soarem engraçadas, alguns significados podem colocar um membro em maus lençóis. Como é o caso do "talarico", que significa uma pessoa traidora que se envolve com a companheira de um aliado. Em São Paulo, verbetes originados pelo PCC tomaram conta dos presídios, mas também se tornaram populares nas ruas.

Não necessariamente quem fala as gírias tem envolvimento com grupos criminosos. Muitas dessas palavras ganharam popularidade no cotidiano da população, como o caso de "salve" e "corre". Como de praxe na língua portuguesa, muitos termos ganharam, também, novos significados.

Confira algumas gírias populares que surgiram nas prisões:

  • Caminhada: informação ou trajetória
  • Catacumba: espaço mais baixo onde o preso dorme
  • Cagueta: Deixar escapar informação
  • Chapa está quente: situação ruim
  • Chicote vai estralar: vai dar confusão, vai dar problema
  • Cobrança: cobrar posição ou disciplina
  • Corre: ofício, forma de conseguir dinheiro
  • Cunhada: esposa do aliado
  • Fechou: concordou
  • Fita: situação
  • Jega: local onde o preso dorme
  • Lançar: criar ou apresentar
  • Meter o louco: agir por impulso, de forma não pensada
  • Milgrau: coisa boa ou coisa forte
  • Peitar: bater de frente, ir para confronto
  • Proceder: comportamento
  • Radial: andar na faixa, nos corredores da cadeia ou agir corretamente
  • Ramelar: vacilar
  • Salve: cumprimento ou advertência
  • Salve geral: comunicado
  • Talarico: traidor
  • Visão: esclarecimento

As gírias podem sofrer alterações regionais. Além da influência das características locais, cada facção também têm seu próprio dialeto.

Grande parte destas gírias foram catalogadas em livro. Em 2010, a antropóloga Karina Biondi frequentou diversas cadeias do estado e reuniu informações que a auxiliaram no lançamento do livro "Junto e misturado, uma etnografia do PCC", lançado pela editora Terceiro Nome, onde desvendou boa parte dos verbetes utilizados nas prisões.

Muitas das gírias constam na chamada "cartilha do crime". O documento, de sete páginas, tem logo na primeira linha o esclarecimento: "esse dicionário é uma ferramenta de extrema importância que deve ser analisada com muita prudência antes da aplicação das sanções para quem descumprir as determinações". As regras foram publicadas pela coluna de Josmar Jozino no UOL, no mês passado.

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