Motorista de Porsche que atropelou motociclista chorou em audiência; veja
Do UOL, em São Paulo
02/08/2024 21h06Atualizada em 02/08/2024 21h15
O empresário Igor Sauceda, que perseguiu e atropelou um motociclista de 21 anos, chorou enquanto o advogado de defesa falava sobre ele em audiência de custódia ocorrida na terça-feira (30). Vídeo foi obtido pelo UOL.
O que aconteceu
Igor chorou e secou as lágrimas quando sua defesa falou sobre quem era ele. O advogado Carlos Bobadilla negou que o cliente teve um "ataque de fúria" após supostamente ter o retrovisor quebrado pela vítima, Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21 anos. "A moto passou a frente. Igor imprimiu a mesma velocidade que a moto e, infelizmente, o acidente ocorreu mais adiante."
Faz-se necessário ainda no contexto desta audiência, aludir sobre quem é o Igor porque as reportagens veiculadas, as informações que chegaram na delegacia... eu cheguei a ouvir que esse rapaz era um rapaz de família rica, que ganhou um Porsche do pai, recém-habilitado, só mais um moleque que estava com um Porsche na rua. Isso é mentira.
Carlos Bobadilla, advogado de Igor
Advogado afirmou que o cliente, pai e irmão são naturais do Rio Grande do Sul e têm origem humilde. "Igor vem de uma família humilde. Foi criado apenas pelo pai. Não conhece a mãe. O pai, buscando crescer na vida, vem para São Paulo quando os filhos têm 12 anos", destacou. Ele acrescentou que o empresário e o irmão trabalharam em lava-rápido aos 13 anos para ajudar o pai na renda de casa. Durante esta fala, Igor voltou a colocar a mão no rosto, aparentando secar as lágrimas novamente. O condutor é sócio de um bar e restaurante no Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo.
Após muito tempo, o pai trabalhava no vallet de um bar e restaurante. Igor e o pai juntaram todas as suas economias, e surgiu a oportunidade de abrir um bar na região do Itaim, na rua em que o pai trabalhava. Felizmente, o negócio deu certo. Então, o menino que veio de uma família humilde se tornou um homem bem-sucedido através do esforço do seu trabalho.
Carlos Bobadilla, advogado de Igor
Defensor reforçou que o cliente não fugiu do local e alega que ele chamou a polícia após a colisão. Bobadilla ainda declarou que o empresário prestou o primeiro depoimento sem a presença de advogado, "mostrando uma boa-fé e que a narrativa dele era verdadeira".
Exceto quando chorou, empresário seguiu de cabeça baixa em toda a audiência. Ele, que aparenta estar algemado, também mexe as mãos algumas vezes.
Condutor também respondeu aos questionamentos da magistrada no início da audiência. Nas únicas palavras ditas pelo homem na sessão, o condutor afirmou ter 27 anos, disse que trabalha como empresário no ramo de bar e alimentos, com um salário mensal de "R$ 20 mil, R$ 15 mil". Ele também falou que nunca foi preso, nem apreendido quando menor de 18 anos, e também nunca foi processado criminalmente. Homem negou ter sido agredido durante a prisão e declarou não ter comorbidades.
Sessão contou com sustentação do Ministério Público. Na ocasião, a promotora declarou que os fatos da ocorrência são "extremamente graves", com perseguição da vítima e homicídio praticado de forma fútil. O Ministério Público entendeu que o episódio não foi um fato isolado e citou reportagens que mostram que, dias antes de morte, o Porsche dirigido por Igor foi gravado "perseguindo" o carro de ex-sócios dele.
Apesar da tese da defesa, a Justiça de São Paulo decidiu converter a prisão dele de flagrante para preventiva (por tempo indeterminado). Para a juíza Vivian Brenner de Oliveira, o empresário teve conduta "delitiva de acentuada gravidade e periculosidade". "As imagens são claras e demonstraram que o indiciado utilizou o seu veículo como uma verdadeira arma, perseguiu a vítima e a atingiu", afirmou a magistrada.
Na quinta-feira (1º), Igor foi denunciado pelo Ministério Público por homicídio doloso triplamente qualificado. As qualificadoras adicionadas à denúncia foram por motivo fútil, uso de meio cruel e que impossibilitou a defesa da vítima.
Relembre o caso
Câmera de segurança mostrou o motorista do carro de luxo perseguindo a moto na avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo, na madrugada de segunda-feira (29). A motocicleta ficou completamente destruída após a colisão. O Porsche aparece atravessado na avenida.
Pedro Kaique Ventura Figueiredo não resistiu aos ferimentos. O jovem foi socorrido ao Hospital do Grajaú, mas morreu. A namorada do motorista, que estava no banco do passageiro, foi socorrida para um pronto-socorro. Ela teve ferimentos leves.
O acidente teria ocorrido após uma briga de trânsito. Em alta velocidade, as imagens flagraram o momento da batida entre o carro e a moto. Motorista saiu normalmente do veículo. ''Você matou o cara da moto por causa do retrovisor do seu carro'', disseram populares ao suspeito. O condutor nega a eles que esse tenha sido o motivo.
Advogado de Igor afirmou que o motorista voltava do trabalho quando aconteceu a colisão. Ao deixar a delegacia na segunda-feira (29), Carlos Bobadilla disse à imprensa que Igor é "um cara trabalhador, honesto, do bem, que jamais teve qualquer antecedente criminal em toda a sua vida". Defensor também reforçou que o suspeito não estava bêbado no momento da colisão.
O que aconteceu foi uma fatalidade e ele, infelizmente, veio a colidir com a motocicleta da vítima. Infelizmente aconteceu essa fatalidade. Não teve nenhum dia de fúria. E o que importa é que ele não estava alcoolizado. O exame do bafômetro saiu zerado. Toda a narrativa que eu já cheguei a ouvir, inclusive aqui na delegacia, de que ele estava bêbado e provocou esse acidente, é inverídica porque ele estava sóbrio, voltando do trabalho.
Carlos Bobadilla, advogado de Igor, à imprensa
Vídeos de novos ângulos mostram a perseguição e colisão. As imagens, obtidas pelo UOL, foram adicionadas ao inquérito policial, conforme apurado pela reportagem.
Igor citou 'conduta estranha' em depoimento
Na delegacia, Igor declarou que teve o retrovisor quebrado por Pedro Kaique. Em depoimento, o empresário disse que o motociclista estava na sua frente, mas mudou de faixa "abruptamente". Ele explicou que tentou evitar a colisão torcendo o volante para a direita, mas que não conseguiu e atingiu a parte traseira da moto.
Suspeito falou que achou a conduta de Pedro estranha porque em data anterior arremessaram objeto na via para que ele parasse o veículo. Empresário não cita diretamente no documento se achou que seria uma tentativa de assalto. O UOL apurou que o Porsche tem débito de mais de R$ 24,5 mil referente ao IPVA de 2024 do carro de luxo.
Para a Polícia Civil, Igor teve "momento de fúria" e acelerou o carro. O delegado Edilzo Correia ressaltou ao Brasil Urgente (TV Bandeirantes) que a velocidade do veículo era "excessiva". A defesa do condutor nega.
Igor foi preso em flagrante após alteração da polícia. O caso, registrado inicialmente como homicídio culposo (quando não há intenção de matar), foi encaminhado para outra delegacia e alterado para homicídio com dolo eventual, por motivo fútil (quando o agente não tem a intenção direta de provocar a morte, mas assume o risco desse resultado ao realizar uma conduta perigosa). Com a mudança, o motorista, que seria posto em liberdade, permaneceu preso.
Após audiência, empresário foi levado para o Centro de Detenção Provisória 2, em Guarulhos. A unidade prisional fica localizada na região metropolitana de São Paulo. A informação foi repassada pela SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) ao UOL.
Dias antes de morte, Porsche dirigido por Igor foi gravado "perseguindo" o carro de ex-sócios dele. O vídeo da perseguição foi feito na madrugada do dia 20 de julho. O fato ocorreu pouco mais de um mês após os ex-sócios de Igor e do pai dele registrarem um boletim de ocorrência por ameaças.
Porsche lamenta morte e nega vínculo com motorista
"É com profundo pesar que a Porsche lamenta o acidente que vitimou Pedro Kaique Figueiredo. Apresentamos nossas mais sinceras condolências à sua família e amigos.
A Porsche Brasil reafirma seu comprometimento com a segurança nas estradas e o respeito às normas estabelecidas no Código Nacional de Trânsito. A empresa não possui qualquer vínculo com o motorista envolvido no acidente.
Investimos extensivamente em programas de treinamento de condução como forma de ampliar a segurança no uso dos automóveis. Além disso, oferecemos um portfólio de oportunidades para utilização dos veículos em ambientes seguros e controlados.
Que a lembrança deste e de outros trágicos acontecimentos inspire a reflexão e a promoção de uma conduta mais segura e responsável".
Porsche, em nota enviada ao UOL