Conteúdo publicado há 1 mês

Motorista de Porsche que atropelou motociclista é denunciado por homicídio

O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) denunciou nesta quinta-feira (1º) o empresário Igor Ferreira Sauceda, que perseguiu e atropelou um motociclista de 21 anos por homicídio doloso (quando há intenção de matar).

O que aconteceu

Denúncia contra Igor é por homicídio doloso triplamente qualificado. As qualificadoras adicionadas à denúncia foram por motivo fútil, uso de meio cruel e que impossibilitou a defesa da vítima. A denúncia, obtida pelo UOL, foi assinada pela promotora Renata Cristina de Oliveira Mayer, do 3º Tribunal do Júri da Capital.

Promotora detalha escolha das qualificadoras. Mayer entendeu que o crime foi por "motivo fútil" porque Igor decidiu matar o motociclista após "se irritar" por ter o carro danificado por Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21 anos, durante uma colisão de trânsito. Para a promotora, o crime foi praticado com emprego de meio cruel uma vez que Igor "acelerou o carro" na direção da motocicleta, atropelou e arrastou Pedro por alguns metros "provocando atroz e desnecessário sofrimento à vítima, além de revelar brutalidade fora do comum".

Denunciado "colheu Pedro de forma absolutamente surpreendente e pelas costas". Para a qualificadora de recurso que dificultou a defesa da vítima, a promotoria também aponta que Pedro foi atropelado por um veículo em alta velocidade e que atingiu primeiro a parte de trás da motocicleta.

MP-SP também pediu que seja fixado um valor mínimo para indenização aos familiares de Pedro.

Judiciário analisará a denúncia do Ministério Público. Se a denúncia for aceita, Igor se torna réu pelo crime.

A reportagem entrou em contato com a defesa de Igor, mas não obteve retorno. O texto será atualizado tão logo haja manifestação.

Mais detalhes da denúncia

Igor não é denunciado por lesão corporal da namorada. A jovem sofreu ferimentos leves na colisão, mas a promotora optou por não denunciar o empresário, uma vez que a mulher, até o momento, não representou judicialmente contra o companheiro.

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Ministério Público citou episódio em que familiares da vítima partiram para cima do denunciado. Mayer relembrou que notícias apontaram que os familiares do motociclista teriam praticado a ação que, em tese, configura o crime de lesão corporal. Porém, Igor ainda não representou contra eles, o que é necessário para a abertura de inquérito policial. O prazo legal para a representação neste caso é de seis meses.

Mayer também solicitou que o Instituto de Criminalística encaminhe os laudos que faltam nos autos. Os documentos ausentes, segundo a denúncia, são o laudo necroscópico e laudo do local da colisão.

Promotoria também faz novos pedidos. A promotora solicitou que o Copom (Centro de Operações da Polícia Militar de São Paulo) e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) encaminhem o registro da ocorrência, com informação de quem fez a solicitação, além do áudio das ligações efetuadas aos serviços 190 e 192 após a colisão. Mayer ainda pediu o envio de imagens da ocorrência, bem como de matérias jornalísticas citadas por ela no documento.

Relembre o caso

O motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21 anos, morreu na madrugada desta segunda-feira (29)
O motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21 anos, morreu na madrugada desta segunda-feira (29) Imagem: Reprodução / Bom Dia São Paulo

Câmera de segurança mostrou o motorista do carro de luxo perseguindo a moto na avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo, na madrugada de segunda-feira (29). A motocicleta ficou completamente destruída após a colisão. O Porsche aparece atravessado na avenida.

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Pedro Kaique Ventura Figueiredo não resistiu aos ferimentos. O jovem foi socorrido ao Hospital do Grajaú, mas morreu. A namorada do motorista, que estava no banco do passageiro, foi socorrida para um pronto-socorro. Ela teve ferimentos leves.

O acidente teria ocorrido após uma briga de trânsito. Em alta velocidade, as imagens flagraram o momento da batida entre o carro e a moto. Motorista saiu normalmente do veículo. ''Você matou o cara da moto por causa do retrovisor do seu carro'', disseram populares ao suspeito. O condutor nega a eles que esse tenha sido o motivo.

Advogado de Igor afirmou que o motorista voltava do trabalho quando aconteceu a colisão. Ao deixar a delegacia na segunda-feira (29), Carlos Bobadilla disse à imprensa que Igor é "um cara trabalhador, honesto, do bem, que jamais teve qualquer antecedente criminal em toda a sua vida". Defensor também reforçou que o suspeito não estava bêbado no momento da colisão.

O que aconteceu foi uma fatalidade e ele, infelizmente, veio a colidir com a motocicleta da vítima. Infelizmente aconteceu essa fatalidade. Não teve nenhum dia de fúria. E o que importa é que ele não estava alcoolizado. O exame do bafômetro saiu zerado. Toda a narrativa que eu já cheguei a ouvir, inclusive aqui na delegacia, de que ele estava bêbado e provocou esse acidente, é inverídica porque ele estava sóbrio, voltando do trabalho.
Carlos Bobadilla, advogado de Igor, à imprensa

Vídeos de novos ângulos mostram a perseguição e colisão. As imagens, obtidas pelo UOL, foram adicionadas ao inquérito policial, conforme apurado pela reportagem.

Igor citou 'conduta estranha' em depoimento

Na delegacia, Igor declarou que teve o retrovisor quebrado por Pedro Kaique. Em depoimento, o empresário disse que o motociclista estava na sua frente, mas mudou de faixa "abruptamente". Ele explicou que tentou evitar a colisão torcendo o volante para a direita, mas que não conseguiu e atingiu a parte traseira da moto.

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Suspeito falou que achou a conduta de Pedro estranha porque em data anterior arremessaram objeto na via para que ele parasse o veículo. Empresário não cita diretamente no documento se achou que seria uma tentativa de assalto. O UOL apurou que o Porsche tem débito de mais de R$ 24,5 mil referente ao IPVA de 2024 do carro de luxo.

Para a Polícia Civil, Igor teve "momento de fúria" e acelerou o carro. O delegado Edilzo Correia ressaltou ao Brasil Urgente (TV Bandeirantes) que a velocidade do veículo era "excessiva". A defesa do condutor nega.

Igor foi preso em flagrante após alteração da polícia. O caso, registrado inicialmente como homicídio culposo (quando não há intenção de matar), foi encaminhado para outra delegacia e alterado para homicídio com dolo eventual, por motivo fútil (quando o agente não tem a intenção direta de provocar a morte, mas assume o risco desse resultado ao realizar uma conduta perigosa). Com a mudança, o motorista, que seria posto em liberdade, permaneceu preso.

Na terça-feira (30), a Justiça de São Paulo decidiu converter a prisão dele de flagrante para preventiva (por tempo indeterminado). Para a juíza Vivian Brenner de Oliveira, o empresário teve conduta "delitiva de acentuada gravidade e periculosidade". "As imagens são claras e demonstraram que o indiciado utilizou o seu veículo como uma verdadeira arma, perseguiu a vítima e a atingiu", afirmou a magistrada.

Após audiência, empresário foi levado para o Centro de Detenção Provisória 2, em Guarulhos. A unidade prisional fica localizada na região metropolitana de São Paulo. A informação foi repassada pela SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) ao UOL.

Dias antes de morte, Porsche dirigido por Igor foi gravado "perseguindo" o carro de ex-sócios dele. O vídeo da perseguição foi feito na madrugada do dia 20 de julho. O fato ocorreu pouco mais de um mês após os ex-sócios de Igor e do pai dele registrarem um boletim de ocorrência por ameaças.

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O UOL apurou que Igor recebeu R$ 5.100 de auxílio emergencial entre abril de 2020 e outubro de 2021. Inicialmente, ele recebeu cinco parcelas de R$ 600. Os dados constam no Portal da Transparência do Governo Federal.

Porsche lamenta morte e nega vínculo com motorista

"É com profundo pesar que a Porsche lamenta o acidente que vitimou Pedro Kaique Figueiredo. Apresentamos nossas mais sinceras condolências à sua família e amigos.

A Porsche Brasil reafirma seu comprometimento com a segurança nas estradas e o respeito às normas estabelecidas no Código Nacional de Trânsito. A empresa não possui qualquer vínculo com o motorista envolvido no acidente.

Investimos extensivamente em programas de treinamento de condução como forma de ampliar a segurança no uso dos automóveis. Além disso, oferecemos um portfólio de oportunidades para utilização dos veículos em ambientes seguros e controlados.

Que a lembrança deste e de outros trágicos acontecimentos inspire a reflexão e a promoção de uma conduta mais segura e responsável".
Porsche, em nota enviada ao UOL

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