Motorista de Porsche citou 'conduta suspeita' de motociclista em depoimento
Igor Ferreira Sauceda, 27, motorista do Porsche amarelo que atropelou e matou um motociclista de 21 anos, disse em depoimento à polícia não saber por que o retrovisor do carro teria sido quebrado pelo jovem, mas achou a "conduta suspeita". O crime ocorreu na madrugada desta segunda-feira (29), na avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo.
O que aconteceu
Condutor do carro de luxo relatou que perseguiu o motociclista após ter o retrovisor esquerdo quebrado. Em depoimento, obtido pelo UOL, Igor argumentou que não conseguiu identificar o emplacamento e outras características porque as luzes da motocicleta estavam desligadas. Em determinado momento, ele argumenta que buzinou para Pedro Kaique Ventura Figueiredo, 21, que não teria parado a moto.
Igor afirmou que, ainda durante a perseguição, Pedro estava na sua frente, mas mudou de faixa "abruptamente". Ele explicou que tentou evitar a colisão torcendo o volante para a direita, mas que não conseguiu e atingiu a parte traseira da moto. Câmeras de segurança flagraram o momento da batida e a moto sendo jogada contra o muro de um canteiro.
Suspeito falou que achou conduta estranha porque em data anterior arremessaram objeto na via para que ele parasse o veículo. Ele não cita diretamente no documento se achou que seria uma tentativa de assalto. Por fim, Igor disse que ele e a namorada foram auxiliados por pessoas que estavam no local. Ela sofreu ferimentos leves.
Igor foi preso em flagrante após alteração da polícia. O caso, registrado inicialmente como homicídio culposo (quando não há intenção de matar), foi encaminhado para outra delegacia e alterado para homicídio com dolo eventual, por motivo fútil, (quando o agente não tem a intenção direta de provocar a morte, mas assume o risco desse resultado ao realizar uma conduta perigosa). Com a mudança, o motorista, que seria posto em liberdade, permaneceu preso em flagrante e passará por audiência de custódia na terça-feira (30).
A reportagem entrou em contato com a defesa da família da vítima para saber se desejam se manifestar sobre a declaração de Igor em depoimento. Ao UOL, Roberto Guastelli afirmou somente que a " família está muito abalada", mas está " confiante na Justiça e, principalmente, na mudança da delegacia" que apura o caso.
Defesa de motorista fala em 'fatalidade'
Advogado de Igor afirmou que o motorista voltava do trabalho quando aconteceu a colisão. Ao deixar a delegacia na tarde desta segunda-feira (29), Carlos Bobadilla disse à imprensa que Igor é "um cara trabalhador, honesto, do bem, que jamais teve qualquer antecedente criminal em toda a sua vida". Defensor também reforçou que o suspeito não estava bêbado.
O que aconteceu foi uma fatalidade e ele, infelizmente, veio a colidir com a motocicleta da vítima. Infelizmente aconteceu essa fatalidade. Não teve nenhum dia de fúria. E o que importa é que ele não estava alcoolizado. O exame do bafômetro saiu zerado. Toda a narrativa que eu já cheguei a ouvir, inclusive aqui na delegacia, de que ele estava bêbado e provocou esse acidente, é inverídica porque ele estava sóbrio, voltando do trabalho.
Carlos Bobadilla, advogado de Igor, à imprensa
Familiares de Pedro demonstraram revolta durante a saída do defensor do motorista do distrito policial.
Câmeras de segurança registraram a colisão
Um vídeo de câmera de segurança mostrou o suspeito perseguindo a moto. A motocicleta ficou completamente destruída após a colisão. O Porsche, do ano 2018, aparece atravessado na avenida.
Pedro Kaique Ventura Figueiredo não resistiu aos ferimentos. O jovem foi socorrido ao Hospital do Grajaú, mas veio a óbito. A namorada do motorista, que estava no banco do passageiro, foi socorrida para um pronto-socorro. Ele teve ferimentos leves.
O acidente teria ocorrido após uma briga de trânsito. Em alta velocidade, as imagens flagraram o momento da batida entre o carro e a moto, jogada contra o muro de um canteiro.
Newsletter
PRA COMEÇAR O DIA
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receberAo ser contestado por testemunhas, suspeito disse que ''foi fechado'' pelo motociclista. Logo após a batida, pessoas que presenciaram a cena foram confrontar o condutor da Porsche e registraram um vídeo, que circula nas redes sociais.
Motorista saiu normalmente do carro. ''Você matou o cara da moto por causa do retrovisor do seu carro'', disseram populares ao suspeito. O condutor nega a eles que esse tenha sido o motivo.
Suspeito fez teste do bafômetro e teve resultado negativo. Perícia esteve no local, informou a SSP (Secretaria de Segurança Pública).
Polícia alterou o crime registrado no boletim de ocorrência. Segundo o defensor da família de Pedro, Roberto Guastelli, o primeiro registro foi realizado no 11ºDP (Santo Amaro) como homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Após encaminhamento do caso ao 48ºDP (Cidade Dutra) e análise das imagens do caso, o delegado da unidade alterou a qualificação do crime de homicídio para doloso (quando há intenção de matar).
Além disso, a ocorrência também foi registrada como lesão corporal culposa. A reportagem entrou em contato com a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo para saber se a tipificação de lesão corporal segue como culposa, mas foi informada que detalhes do caso serão repassados em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (29).
'A vida vale um retrovisor?', diz pai de jovem morto
Alex Lúcio Figueiredo lamentou a morte do filho e afirmou que nada justifica ele ter sido atropelado. "Por mais que ele tenha quebrado o retrovisor, não justifica ele ter tirado a vida do menino. A vida vale um retrovisor? Agora ele vai poder voltar atrás e trazer meu filho para dentro de casa, para dentro da família? Meu filho está lá deitado no necrotério e eu não posso fazer nada", disse Alex, que conversou com a imprensa em frente ao 48° DP (Cidade Dutra).
A vítima deixa esposa e um filho de três anos. Segundo o pai, Pedro Kaique Ventura Figueiredo voltava da residência da irmã quando foi atingido pelo motorista na avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo.
Pedro Kaique trabalhava em dois empregos. O pai afirmou que ele era auxiliar de transporte escolas e fazia entregas como motoboy. "Estava cheio de sonhos, começando uma nova vida, planejando comprar um imóvel na planta para poder sair do aluguel. Trabalhava em dois empregos para manter a condição de vida", lamentou.
O motorista foi identificado como Igor Ferreira Sauceda, 27. Ele prestou depoimento à Polícia Civil, que informou que o condutor responderá em liberdade, ''visto que ele permaneceu no local até o socorro da vítima e não estava embriagado''. O UOL tenta contato com a defesa do investigado. O espaço segue aberto para manifestações.
Porsche lamenta morte e nega vínculo com motorista
"É com profundo pesar que a Porsche lamenta o acidente que vitimou Pedro Kaique Figueiredo. Apresentamos nossas mais sinceras condolências à sua família e amigos.
A Porsche Brasil reafirma seu comprometimento com a segurança nas estradas e o respeito às normas estabelecidas no Código Nacional de Trânsito. A empresa não possui qualquer vínculo com o motorista envolvido no acidente.
Investimos extensivamente em programas de treinamento de condução como forma de ampliar a segurança no uso dos automóveis. Além disso, oferecemos um portfólio de oportunidades para utilização dos veículos em ambientes seguros e controlados.
Que a lembrança deste e de outros trágicos acontecimentos inspire a reflexão e a promoção de uma conduta mais segura e responsável".
Porche, em nota enviada ao UOL
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.