Conteúdo publicado há 1 mês

'Momento de fúria', diz delegado sobre motorista de Porsche; defesa nega

O delegado responsável pela investigação da morte de um motociclista de 21 anos, atropelado por um motorista de um Porsche, na zona sul de São Paulo, afirmou que o condutor teve um "momento de fúria" e acelerou o carro. A defesa do condutor nega.

O que aconteceu

O delegado Edilzo Correia disse que a velocidade do veículo era "excessiva". "Teve um momento de fúria. Razão pela qual perseguiu o motoqueiro após ter sentido que o seu veículo teve o retrovisor machucado por aquele motociclista. Então, ele acelerou, a gente vê pelas imagens, que a velocidade do Porsche era excessiva", declarou em entrevista ao Brasil Urgente, da TV Bandeirantes.

O condutor foi autuado em flagrante. Ele foi preso após prestar depoimento e deve passar por audiência de custódia na terça-feira (30). Segundo o delegado, Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, deve responder por homicídio doloso, com dolo eventual, por motivo fútil ou torpe. Ou seja, quando o agente não tem a intenção direta de provocar a morte, mas assume o risco desse resultado ao realizar uma conduta perigosa.

Caso foi registrado inicialmente como homicídio culposo (quando não há intenção de matar). A mudança ocorreu após caso ser encaminhado ao 48ºDP (Cidade Dutra). Com a análise de todas as imagens do caso, incluindo câmeras de segurança, o delegado da unidade alterou o crime que Igor responderá para homicídio com dolo eventual, por motivo fútil. Com a alteração, o motorista, que seria posto em liberdade, permaneceu preso.

O motorista da Porsche apresentou versões contraditórias. "Ele foi confrontado novamente e disse que a colisão só ocorreu porque a moto se aproximou muito do veículo dele, na segunda versão apresentada por ele. Analisamos diversas imagens, fizemos oitivas de testemunhas e chegamos à conclusão de que a versão que ele apresentou inicialmente era contraditória, não se sustentava, porque ele acelerou o veículo e foi para cima da moto", afirmou o delegado.

Defesa de motorista fala em 'fatalidade'

Advogado de Igor afirmou que o motorista voltava do trabalho quando aconteceu a colisão. Ao deixar a delegacia na tarde desta segunda-feira (29), Carlos Bobadilla disse à imprensa que Igor é "um cara trabalhador, honesto, do bem, que jamais teve qualquer antecedente criminal em toda a sua vida". Defensor também reforçou que o suspeito não estava bêbado.

O que aconteceu foi uma fatalidade e ele, infelizmente, veio a colidir com a motocicleta da vítima. Infelizmente aconteceu essa fatalidade. Não teve nenhum dia de fúria. E o que importa é que ele não estava alcoolizado. O exame do bafômetro saiu zerado. Toda a narrativa que eu já cheguei a ouvir, inclusive aqui na delegacia, de que ele estava bêbado e provocou esse acidente, é inverídica porque ele estava sóbrio, voltando do trabalho.
Carlos Bobadilla, advogado de Igor, à imprensa

Familiares de Pedro demonstraram revolta durante a saída do defensor do motorista do distrito policial.

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Conduta suspeita de motociclista

Motorista de Porsche citou 'conduta suspeita' de motociclista em depoimento. Em oitiva, obtida pelo UOL, Igor argumentou que não conseguiu identificar o emplacamento e outras características porque as luzes da motocicleta estavam desligadas. Em determinado momento, ele argumenta que buzinou para Pedro Kaique Ventura Figueiredo, 21, que não teria parado a moto.

Igor afirmou que, ainda durante a perseguição, Pedro estava na sua frente, mas mudou de faixa "abruptamente". Ele explicou que tentou evitar a colisão torcendo o volante para a direita, mas que não conseguiu e atingiu a parte traseira da moto.

Câmeras de segurança flagraram o momento da batida e a moto sendo jogada contra o muro de um canteiro. Suspeito falou que achou conduta estranha porque em data anterior arremessaram objeto na via para que ele parasse o veículo. Ele não cita diretamente no documento se achou que seria uma tentativa de assalto.

Por fim, Igor disse que ele e a namorada foram auxiliados por pessoas que estavam no local. Ela sofreu ferimentos leves.

A reportagem tenta contato com a defesa da família da vítima para saber se desejam se manifestar sobre a declaração de Igor em depoimento. O texto será atualizado tão logo haja manifestação.

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Câmeras de segurança registraram a colisão

Porsche e motocicleta envolvidos no acidente
Porsche e motocicleta envolvidos no acidente Imagem: Reprodução/TV Globo

Um vídeo de câmera de segurança mostrou o suspeito perseguindo a moto. A motocicleta ficou completamente destruída após a colisão. O Porsche, do ano 2018, aparece atravessado na avenida.

Pedro Kaique Ventura Figueiredo não resistiu aos ferimentos. O jovem foi socorrido ao Hospital do Grajaú, mas veio a óbito. A namorada do motorista, que estava no banco do passageiro, foi socorrida para um pronto-socorro. Ele teve ferimentos leves.

O acidente teria ocorrido após uma briga de trânsito. Em alta velocidade, as imagens flagraram o momento da batida entre o carro e a moto, jogada contra o muro de um canteiro.

Ao ser contestado por testemunhas, suspeito disse que ''foi fechado'' pelo motociclista. Logo após a batida, pessoas que presenciaram a cena foram confrontar o condutor da Porsche e registraram um vídeo, que circula nas redes sociais.

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Motorista saiu normalmente do carro. ''Você matou o cara da moto por causa do retrovisor do seu carro'', disseram populares ao suspeito. O condutor nega a eles que esse tenha sido o motivo.

Suspeito fez teste do bafômetro e teve resultado negativo. Perícia esteve no local, informou a SSP (Secretaria de Segurança Pública).

Polícia alterou o crime registrado no boletim de ocorrência. Segundo o defensor da família de Pedro, Roberto Guastelli, o primeiro registro foi realizado no 11ºDP (Santo Amaro) como homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Após encaminhamento do caso ao 48ºDP (Cidade Dutra) e análise das imagens do caso, o delegado da unidade alterou a qualificação do crime de homicídio para doloso (quando há intenção de matar).

Além disso, a ocorrência também foi registrada como lesão corporal culposa. A reportagem entrou em contato com a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo para saber se a tipificação de lesão corporal segue como culposa, mas foi informada que detalhes do caso serão repassados em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (29).

'A vida vale um retrovisor?', diz pai de jovem morto

Motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21 anos
Motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21 anos Imagem: Reprodução/Redes sociais
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Alex Lúcio Figueiredo lamentou a morte do filho e afirmou que nada justifica ele ter sido atropelado. "Por mais que ele tenha quebrado o retrovisor, não justifica ele ter tirado a vida do menino. A vida vale um retrovisor? Agora ele vai poder voltar atrás e trazer meu filho para dentro de casa, para dentro da família? Meu filho está lá deitado no necrotério e eu não posso fazer nada", disse Alex, que conversou com a imprensa em frente ao 48° DP (Cidade Dutra).

A vítima deixa esposa e um filho de três anos. Segundo o pai, Pedro Kaique Ventura Figueiredo voltava da residência da irmã quando foi atingido pelo motorista na avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo.

Pedro Kaique trabalhava em dois empregos. O pai afirmou que ele era auxiliar de transporte escolas e fazia entregas como motoboy. "Estava cheio de sonhos, começando uma nova vida, planejando comprar um imóvel na planta para poder sair do aluguel. Trabalhava em dois empregos para manter a condição de vida", lamentou.

O motorista foi identificado como Igor Ferreira Sauceda, 27. Ele prestou depoimento à Polícia Civil, que informou que o condutor responderá em liberdade, ''visto que ele permaneceu no local até o socorro da vítima e não estava embriagado''. O UOL tenta contato com a defesa do investigado. O espaço segue aberto para manifestações.

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