Ex-sócios dizem que motorista de Porsche debochava deles: 'Pobres e negros'
Do UOL, em São Paulo
04/08/2024 21h32Atualizada em 05/08/2024 13h53
Os ex-sócios do empresário Igor Sauceda, que foi preso por perseguir e atropelar um motociclista de 21 anos, afirmaram que o condutor debochava e os ofendia após o rompimento da sociedade em um bar no Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo.
O que aconteceu
Ex-sócia disse que sofria ameaças frequentes de Igor. Ao Fantástico (TV Globo), Beatriz Silva dos Santos relatou que o empresário tem um comportamento agressivo e sempre proferia xingamentos, cuspindo e falando que iria matar os ex-sócios. A família de Beatriz já foi sócia da família de Igor, mas virou concorrente ao abrir um bar na mesma rua do ex-parceiro. Igor Sauceda é sócio do bar Beco do Espeto, em São Paulo.
"Ele ficava debochando da nossa cara. Pobres, negros, não vão conquistar nada aqui nesse meio. Porque vocês estão em um bairro de rico e pessoas brancas." Segundo Beatriz, Igor apontava que a família dela não conseguiria retorno financeiro abrindo um bar próximo ao da família dele, no Itaim Bibi, após deixar a parceria.
Em 2021, Igor teria desferido um soco no rosto do irmão de Beatriz. Eric Silva dos Santos disse que a agressão ocorreu depois de um desentendimento. O veículo dirigido por Igor Sauceda foi gravado "perseguindo" o carro dos ex-sócios dele dias antes da colisão que terminou com a morte do motociclista, Pedro Kaique Ventura Figueiredo.
Igor foi denunciado pelo Ministério Público por homicídio doloso triplamente qualificado nesta semana. Se a Justiça aceitar a denúncia, o empresário vira réu pelo crime. Até a noite deste domingo (4), o judiciário não havia analisado o pedido do MP.
Em nota, a defesa de Igor disse que não vai se manifestar. "A defesa pede a compreensão de todos e esclarece que n?o vai se manifestar nesse momento, limitando sua atuação seguindo estritamente o devido processo legal", afirmou o advogado Carlos Bobadilla.
Ele passava na nossa frente, fazia zigue-zague, jogava o carro, acelerava e imediatamente ele freava na nossa frente. Aí eu entendi que ele estava usando o carro dele como uma arma. Foi mais ou menos de 100, a 150 metros de onde o Pedro Kaique faleceu.
Beatriz Silva dos Santos, empresária
Igor tem mais de 400 pontos na CNH, diz TV
Empresário acumula 487 pontos na Carteira Nacional de Trânsito. Além disso, ele tem mais de 100 multas, sendo 21 delas no mesmo local por ultrapassar a velocidade em um túnel localizado entre a casa dele e o bar em que ele é sócio.
"Como uma pessoa com 400 pontos não tem a carteira suspensa, o carro?", diz família da vítima. "Porque eu tenho dinheiro eu posso fazer tudo o que eu quero? (...) Será que nossa vida vale um retrovisor? Não tem preço. Não tem dinheiro no mundo que pague uma vida", acrescentou Alex Lúcio Figueiredo, pai de Pedro Kaique.
Em relato à emissora, uma testemunha disse que Igor não procurou saber onde estava a vítima após a colisão. Procurada pelo Fantástico, a defesa de Igor preferiu não se manifestar.
Relembre o caso
Câmera de segurança mostrou o motorista do carro de luxo perseguindo a moto na avenida Interlagos, na zona sul de São Paulo, na madrugada de segunda-feira (29). A motocicleta ficou completamente destruída após a colisão. O Porsche aparece atravessado na avenida.
Pedro Kaique Ventura Figueiredo não resistiu aos ferimentos. O jovem foi socorrido ao Hospital do Grajaú, mas morreu. A namorada do motorista, que estava no banco do passageiro, foi levada para um pronto-socorro. Ela teve ferimentos leves.
O acidente teria ocorrido após uma briga de trânsito. Em alta velocidade, as imagens flagraram o momento da batida entre o carro e a moto. Motorista saiu normalmente do veículo. ''Você matou o cara da moto por causa do retrovisor do seu carro'', disseram populares ao suspeito. O condutor nega a eles que esse tenha sido o motivo.
Advogado de Igor afirmou que o motorista voltava do trabalho quando aconteceu a colisão. Ao deixar a delegacia na segunda-feira (29), Carlos Bobadilla disse à imprensa que Igor é "um cara trabalhador, honesto, do bem, que jamais teve qualquer antecedente criminal em toda a sua vida". Defensor também reforçou que o suspeito não estava bêbado no momento da colisão.
O que aconteceu foi uma fatalidade e ele, infelizmente, veio a colidir com a motocicleta da vítima. Infelizmente aconteceu essa fatalidade. Não teve nenhum dia de fúria. E o que importa é que ele não estava alcoolizado. O exame do bafômetro saiu zerado. Toda a narrativa que eu já cheguei a ouvir, inclusive aqui na delegacia, de que ele estava bêbado e provocou esse acidente, é inverídica porque ele estava sóbrio, voltando do trabalho.
Carlos Bobadilla, advogado de Igor, à imprensa
Vídeos de novos ângulos mostram a perseguição e colisão. As imagens, obtidas pelo UOL, foram adicionadas ao inquérito policial, conforme apurado pela reportagem.
Igor citou 'conduta estranha' em depoimento
Na delegacia, Igor declarou que teve o retrovisor quebrado por Pedro Kaique. Em depoimento, o empresário disse que o motociclista estava na sua frente, mas mudou de faixa "abruptamente". Ele explicou que tentou evitar a colisão torcendo o volante para a direita, mas que não conseguiu e atingiu a parte traseira da moto.
Suspeito falou que achou a conduta de Pedro estranha porque em data anterior arremessaram objeto na via para que ele parasse o veículo. Empresário não cita diretamente no documento se achou que seria uma tentativa de assalto. O UOL apurou que o Porsche tem débito de mais de R$ 24,5 mil referente ao IPVA de 2024 do carro de luxo.
Para a Polícia Civil, Igor teve "momento de fúria" e acelerou o carro. O delegado Edilzo Correia ressaltou ao Brasil Urgente (TV Bandeirantes) que a velocidade do veículo era "excessiva". A defesa do condutor nega.
Após audiência, empresário foi levado para o Centro de Detenção Provisória 2, em Guarulhos. A unidade prisional fica localizada na região metropolitana de São Paulo. A informação foi repassada pela SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) ao UOL.
Porsche lamenta morte e nega vínculo com motorista
"É com profundo pesar que a Porsche lamenta o acidente que vitimou Pedro Kaique Figueiredo. Apresentamos nossas mais sinceras condolências à sua família e amigos.
A Porsche Brasil reafirma seu comprometimento com a segurança nas estradas e o respeito às normas estabelecidas no Código Nacional de Trânsito. A empresa não possui qualquer vínculo com o motorista envolvido no acidente.
Investimos extensivamente em programas de treinamento de condução como forma de ampliar a segurança no uso dos automóveis. Além disso, oferecemos um portfólio de oportunidades para utilização dos veículos em ambientes seguros e controlados.
Que a lembrança deste e de outros trágicos acontecimentos inspire a reflexão e a promoção de uma conduta mais segura e responsável."
Porsche, em nota enviada ao UOL