Por que buscar ficha criminal de alguém é chamado de 'puxar a capivara'?

Talvez você já tenha ouvido falar que um policial "puxou a capivara" de um suspeito de um crime, explicando que foi pesquisada a ficha de antecedentes criminais do sujeito em questão, durante a investigação.

Afinal, de onde surgiu a expressão "puxar a capivara"?

Esta é uma pergunta sem resposta no cânone, ao menos. Dicionários e literatura de etmologia da Língua Portuguesa ainda parecem desconhecer quantos roedores têm sido arrastados nas delegacias (ou no Google) pelo país.

Uma possibilidade para isto é que o fenômeno seja relativamente recente: um usuário do Reddit perguntou há cerca de dois anos na comunidade "Brasil" como explicaria para um gringo a expressão.

Resultado? Uma porção de brasileiros quiseram saber o que significava também. Nos comentários, alguns usuários apontaram que a expressão teria nascido (ou seria mais usada) no estado de São Paulo e, por isso, quem era de outras partes do país não fazia a menor ideia de que se "puxava a capivara" no Sudeste.

Luiz Chiaradia, colaborador do site de notícias jurídicas Migalhas, parceiro da Agência Estado, diz que expressão tem a ver com o estilo de caça do animal. "Normalmente se caçava a capivara em banhado de charcos, durante a noite, de sorte que só se via os olhos da caça, refletindo as luzes das lanternas. Então se disparava e depois se aproximava do alvo para tirá-lo da água. Era necessário, portanto, puxar o roedor para dentro do barco, e somente então se saberia o tamanho da caça abatida", diz.

Ou seja, neste caso, "puxar a capivara" seria descobrir o tamanho da ficha criminal do investigado.

O youtuber Adriano, do canal Banheira de Conhecimento, também conta a mesma história sobre a caça da capivara. Mas ele diz ter ouvido outras teorias — uma delas de que a ficha criminal lembraria a sujeira (e o mau cheiro) que se acumula sobre o roedor.

@banheiradeconhecimento

Qual é a origem da expressão: PUXAR A CAPIVARA?

? Aesthetic - Tollan Kim

A aparência da capivara também parece ser o xis da questão em outras interpretações. Uma reportagem de 2023 do jornal Correio Braziliense a compara a um "rato" e, segundo linguistas consultados pela publicação, algumas pessoas teriam fichas criminais tão extensas que estariam cheias de ratos, uma expressão para se referir aos seus crimes.

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Já um artigo que investiga como a linguagem policial e criminosa veio parar nas ruas, publicado no site da professora Stella Maris Bortoni de Figueiredo Ricardo, linguista aposentada da UnB (Universidade de Brasília) e doutora em linguística pela Universidade de Lancaster, na Inglaterra, aponta mais uma possibilidade: a ficha criminal é "um tipo de documento difícil de ser conseguido pelo cidadão comum, mas de fácil acesso às autoridades".

Talvez a origem disso venha do regionalismo "capivara", significando 'indivíduo tolo que quer passar por esperto' e, por ampliação de sentido, ao que pode ser facilmente encontrado pela polícia.

O Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa aponta dois sentidos informais à palavra "capivara": um "jogador novato, inexperiente e pouco hábil", além de "morador de regiões ribeirinhas", o que pode sugerir pelo menos onde nasceu o tal apelido que não tem nada a ver com o animal. Já se policiais estão mesmo ironizando que os criminosos são "pouco hábeis" ao puxarem a capivara, não fica tão claro. Especialmente quando a capivara em questão é longa.

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