Topo

Moradores de SP se banham de caneca e usam Wi-Fi ligado à bateria do carro

Silvana Jesus Costa, 48, foi ao terminal Sacomã para carregar o celular Imagem: Caíque Alencar - 13.out.2024/UOL

Do UOL, em São Paulo

13/10/2024 17h36Atualizada em 13/10/2024 17h37

Sem luz há quase 48 horas após o apagão que atingiu a Grande São Paulo na noite de sexta-feira (11), moradores da capital precisam improvisar, buscar alternativas e contar com o apoio de amigos e vizinhos.

O que aconteceu

Banhos de caneca substituem chuveiro elétrico que não funciona por falta de luz. Este é o caso de moradores afetados pela queda de energia no Ipiranga, como a empregada doméstica Silvana Jesus Costa, que mora no bairro com o marido e a neta de 10 anos. "É a única coisa que a gente pode fazer. A sorte é que o nosso fogão funciona a gás", disse ela, enquanto aproveitava para trocar mensagens e carregar o celular no terminal de ônibus do Sacomã, bairro da zona sul de SP.

Fim de semana em casa sem distração, fizeram crianças enfrentarem tédio. Silvana conta que a neta gosta de passar o tempo com jogos no celular, mas teve que negar pedidos para que a bateria dos aparelhos de casa pudessem ser poupadas. "Eu fiquei controlando um pouco mais, e na noite de ontem [sábado] ela teve uma crise de ansiedade", disse a empregada doméstica. "Agora vim ao terminal porque a bateria acabou zerando", acrescentou.

Vizinho emprestou sinal de internet com modem ligado à bateria do carro. Incomunicável e sem informações sobre a retomada do fornecimento de energia, a auxiliar de produção Jandira Chagas Rabello, de 58 anos, enfrenta instabilidade no acesso à rede móvel de internet. A moradora do bairro do Sacomã precisou pegar emprestado o sinal de internet de um vizinho, que ligou o aparelho da operadora à bateria do carro para seguir usando.

"E olha que meu celular não é nem pré-pago, eu pago plano de internet móvel todo mês", afirmou a auxiliar de produção ao UOL, enquanto carregava o celular em uma das tomadas do terminal de ônibus do Sacomã.

A gente não tem como fazer nada, não tem como assistir alguma coisa. Até para ler é muito ruim porque precisa ser com a luz de velas e eu sinto dores nas costas, então eu vou deitar. A única alternativa é dormir, mas até isso é difícil porque chega à noite e eu não estou cansada
Jandira Chagas Rabello, moradora do Sacomã, na zona sul de São Paulo

Assim como Jandira, dezenas de moradores também foram ao terminal para carregar. Na tarde deste domingo (13), além dos usuários que estavam no local para transporte, uma cena comum eram pessoas sentadas no chão e compartilhando uma única tomada para dar carga em seus aparelhos. Em alguns casos, até filas se formavam com seus celulares, carregadores e cabos nas mãos, na esperança de conseguir uma das disputadas fontes de energia.

De camiseta preta, Jandira Chagas, 55, pegou internet do vizinho que estava usando bateria do carro Imagem: Caíque Alencar - 13.out.2024/UOL

Diante da indignação com falta de luz, mudança para outra região vira opção. O pedreiro Edmilson Pereira Alves, 52, é um dos que planeja voltar a morar em Ermelino Matarazzo, zona leste, de onde saiu há quatro anos para morar na Vila Arapuá, também na zona sul da capital. "É uma palhaçada isso. Quando eu morava na zona leste e caía a energia, era no máximo duas horas e já estava funcionando de novo", disse Alves, que mora com a mulher e mais cinco filhos.

Temor de paulistanos é de que comida acabe e falte para os próximos dias. Sem a geladeira funcionando e com muitos alimentos já estragados, o pedreiro diz que a única alternativa será pedir comida por aplicativos.

"E o que eu estou falando é só de prejuízo que tivemos com comida que estragou, a maioria foi mistura. Quando voltar a luz eu vou saber se teve algum eletrodoméstico que queimou", disse o pedreiro, carregando o celular dele e da esposa em uma tomada a poucos metros de Jandira estava sentada.

Edmilson Pereira Alves, 52, mora na Vila Arapuá com a mulher, cinco filhos e está sem luz desde sexta (11) Imagem: Caíque Alencar - 13.out.2024/UOL

Grande SP ainda tem 760 mil sem luz

A Enel diz que já restabeleceu a distribuição para 1,3 milhão. Em comunicado divulgado na tarde deste domingo (13), a empresa informou que 496 mil casa seguem sem energia na capital. Outras cidades impactados, segundo a Enel, são Cotia, com 62 mil clientes sem desabastecidos, São Bernardo do Campo, com 47 mil, e Taboão da Serra, com 44 mil.

Empresa não estabelece um prazo para o serviço ser retomado por completo. Em contato com a Enel, clientes disseram ao UOL que receberam promessas de retorno amanhã (14) ou ainda na próxima quarta-feira (16).

Na capital, distribuidora diz que os bairros mais atingidos com apagão são Jabaquara, Campo Limpo, Pedreira e Jardim São Luís. Nas redes sociais, a reportagem recebeu relatos de falta de energia também na Barra Funda, Bom Retiro, Pinheiros e Parque Mandaqui na tarde de hoje, mas também em São Caetano e São Bernardo, na região metropolitana.

Temporal deixou 7 pessoas mortas

Três pessoas morreram em Bauru (no interior de SP), duas em Cotia, uma na capital paulista e uma em Diadema (no ABC). As vítimas de Bauru foram um homem, uma mulher e uma criança — eles foram atingidos por um muro que caiu. Em Cotia, as duas pessoas que estavam em estado grave no hospital também morreram. Nas outras duas cidades, as mortes foram causadas por quedas de árvores.

Parte de estrutura do Shopping SP Market, na capital, cedeu. Vídeo mostra momento em que partes do forro e da fachada são levados pela ventania. Na gravação, é possível ver que um carro é atingido enquanto passava pelo estacionamento no momento do incidente. O local foi isolado, mas o estabelecimento seguiu funcionando normalmente, segundo a assessoria do shopping ao UOL.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Moradores de SP se banham de caneca e usam Wi-Fi ligado à bateria do carro - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Cotidiano