Quem são Tiriça, Andinho e Vida Loka, arqui-inimigos de Marcola no PCC
Os presos Roberto Soriano, Abel Pacheco de Andrade e Wanderson Nilton de Paula Lima, foram transferidos da cadeia que dividiam com Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, após meses de rivalidade explícita entre o trio e o chefão do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Tiriça, Vida Loka e Andinho — como são conhecidos no mundo do crime, respectivamente — foram levados da Penitenciária Federal de Brasília para a unidade de Mossoró (RN). Eles pertenciam à cúpula do PCC até fevereiro, quando foram expulsos após chamarem Marcola de "delator". A exclusão dos três gerou um racha na maior facção criminosa do Brasil.
Os dois lados trocaram ameaças de morte nos últimos meses.
O início da rivalidade
Marcola foi chamado de delator por Tiriça, que recebeu apoio de Vida Loka e Andinho. Os três resolveram expulsar o chefão do PCC e ainda o juraram de morte.
Em contrapartida, criminosos ligados a Marcola excluíram o trio da facção e também decretaram a sua morte.
Tiriça, Vida Loka e Andinho foram removidos para presídios federais porque mandaram matar policiais, agentes penitenciários e autoridades públicas, segundo investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao crime Organizado) de Presidente Prudente (SP). As unidades federais são as que tem segurança máxima. Nelas, nunca aconteceu uma rebelião.
Os três têm condenações por roubos, sequestros e homicídios, informa o Gaeco. E já ficaram internados várias vezes no castigo em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), quando estavam presos em São Paulo.
Quem é Tiriça?
Condenado a 80 anos, Tiriça está desde 2012 em presídio federal. Ele foi autor de roubos cinematográficos. Um deles em 6 de julho de 2000, na capital federal. O alvo escolhido foi o Aeroporto Internacional de Brasília. A quadrilha roubou 61 kg de ouro de um avião da Vasp, no pátio do aeroporto.
O caso virou inspiração para a minissérie "A Teia", exibida pela TV Globo em 2014. O bando de Tiriça contou com ajuda de outros integrantes da facção, como Daniel Vinicius Canônico, o Cego, e com informações privilegiadas de um funcionário da Infraero.
O bando estudou a rotina dos seguranças e de outros trabalhadores do aeroporto. Os criminosos chegaram a filmar as vítimas durante o expediente. Uma parte deles conseguiu entrar no aeroporto vestindo uniformes da Infraero. O restante se disfarçou de funcionários dos Correios. Os assaltantes não tiveram dificuldade para chegar até a aeronave.
Eles conseguiram fugir com o ouro, mas foram capturados dias depois. Tiriça foi condenado a dez anos e seis meses por esse crime.
A última condenação de Tiriça foi pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, funcionária da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), morta a tiros, em maio de 2017. O réu pegou uma pena de 31 anos e seis meses, pela acusação de ser o mandante do crime.
Esse crime foi o estopim do recente racha do PCC, Marcola disse que Tiriça era psicopata. A declaração aconteceu em conversa informal com um policial penal na Penitenciária de Porto Velho. O áudio vazou e foi usado no júri de Tiriça.
O antigo parceiro ficou enfurecido com a declaração e chamou o antigo amigo de delator. A "sintonia final" (liderança) do PCC diz ter analisado o áudio e constatado que Marcola não cometeu nenhum erro. Já Tiriça, Vida Loka e Andinho foram acusados de calúnia e traição e acabaram expulsos do PCC e jurados de morte.
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Quero receberNo último dia 9, um cunhado do criminoso foi morto durante romaria até Aparecida. Edmilson de Menezes, 51, o Grilo ou Bicho que Pula, foi atropelado quando caminhava na rodovia Dutra, rumo ao Santuário no interior de São Paulo.
Quem é Andinho?
Wanderson de Paula Lima, o Andinho, é conhecido como "o sequestrador".
Aos 45 anos, ele é um dos presos com mais tempo de condenação no Brasil: 705 anos. Já foi condenado — entre outros crimes — por 12 sequestros em Campinas (SP) e por ter mandado jogar granadas em um jornal na mesma cidade.
Andinho é o "campeão" em condenações entre a liderança do PCC. Sua ficha criminal, inclusive, tem 50 metros de extensão.
Seu nome é conectado ao PCC desde 1998. Em 2002, ele admitiu à polícia que pagava "pedágio" de R$ 10 mil a R$ 20 mil por mês desde aquele ano para ter proteção da facção dentro e fora da cadeia.
O criminoso confessou ser financiador da facção e detalhou as contribuições feitas ao PCC usando dinheiro obtido em sequestros. E continuou contribuindo mesmo ao fugir da cadeia.
Andinho, Tiriça e Vida Loka teriam participado conjuntamente de alguns crimes, como planejar atentados terroristas e assassinatos de agentes públicos.
Quem é Vida Loka?
Vida Loka, 49, é considerado um dos mais radicais da cúpula do PCC, tem condenação de 47 anos. Já foi processado por roubos, sequestros, cárcere privado, formação de quadrilha, ameaças, tráfico de drogas, associação a organização criminosa, entre outros delitos.
Antes do racha, o criminoso era apontado como o nº 2 da facção criminosa, apenas abaixo de Marcola. Ele ainda tem outros codinomes no mundo do crime: Tico, Zagueiro, Capitú, Abelardo, Bebel, Japa e Japonês. E a Justiça já o chamou de "general" do PCC desde o início dos anos 2000.
Abel Pacheco tem ficha criminal desde 7 de novembro de 1996. Em depoimentos à polícia e à Promotoria, ele afirmou diversas vezes que nunca pertenceu ao PCC, que é um "preso comum" e que nunca exerceu poder dentro do crime organizado.
Ele cumpre pena em presídio federal desde 2016. Em março de 2019, foi condenado a 30 anos por envolvimento com uma célula do PCC chamada de "sintonia dos gravatas", o braço jurídico da facção, responsável por levar e trazer recados para a cúpula da organização nas prisões.
*Com informações de "Carro-bomba, ouro, avião da Vasp: quem são novos rivais de Marcola no PCC", publicada por Josmar Jozino em 24 de fevereiro de 2024; "Preso com Marcola em Brasília, "general" do PCC é condenado a 30 anos. publicada em 27 de março de 2019; "Nº 2 do PCC pede para sair de presídio federal por "violação da dignidade" . publicada em 21 de maio de 2019; "Com pena de 705 anos, sequestrador é "campeão" em condenações do PCC, publicada em 13 de novembro de 2020; "Romeiro morto a caminho de Aparecida (SP) era cunhado de Tiriça, ex-PCC", publicada em 9 de outubro de 2024.
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