Josmar Jozino

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Carro-bomba, ouro, avião da Vasp: quem são novos rivais de Marcola no PCC

Roberto Soriano, 50, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, 49, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, 45, o Andinho, eram da ala radical e mais violenta do PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

Tiriça, Vida Loka e Andinho são os novos rivais de Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, líder máximo do PCC.

Todo estão presos na Penitenciária Federal de Brasília. Os dois lados trocaram ameaças de morte e causaram o maior racha da história da facção criminosa.

Marcola foi chamado de delator por Tiriça, que recebeu apoio de Vida Loka e Andinho. Os três resolveram expulsar o chefão do PCC e ainda o juraram de morte. Em contrapartida, criminosos ligados a Marcola excluíram o trio da facção e também decretaram a sua morte.

Investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao crime Organizado) de Presidente Prudente (SP) apontam que Tiriça, Vida Loka e Andinho foram removidos para presídios federais porque mandaram matar policiais, agentes penitenciários e autoridades públicas.

Os três têm perfil de altíssima periculosidade e ostentam condenações por roubos, sequestros e homicídios em suas fichas criminais, informa o Gaeco. Já ficaram internados várias vezes no castigo em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), quando estavam presos em São Paulo.

Roubo cinematográfico em Brasília

O trio de comparsas foi acusado de planejar atentados terroristas e assassinatos de agentes públicos em vários estados. Segundo a Polícia Federal, eles cumpriam pena na Penitenciária Federal de Porto Velho no início de 2018, quando conversaram sobre os ataques.

A intenção era colocar um carro-bomba no estacionamento do antigo Depen (Departamento Penitenciário Nacional). A PF apurou que eles também ameaçaram colocar outros carros-bomba carregados com explosivos C-4 em centros financeiros de cinco capitais brasileiras.

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Condenado a 80 anos, Tiriça está desde 2012 em presídio federal. É autor de roubos cinematográficos. Um deles foi em 6 de julho de 2000, na capital federal. O alvo escolhido foi o Aeroporto Internacional de Brasília. A quadrilha roubou 61 kg de ouro de um avião da Vasp, no pátio do aeroporto.

O caso virou inspiração para a minissérie "A Teia", exibida pela TV Globo anos atrás. O bando de Tiriça contou com ajuda de outros integrantes da facção, como Daniel Vinicius Canônico, o Cego, e com informações privilegiadas de um funcionário da Infraero.

O bando estudou a rotina dos seguranças e de outros trabalhadores do aeroporto. Os criminosos chegaram a filmar as vítimas durante o expediente. Uma parte deles conseguiu entrar no aeroporto vestindo uniformes da Infraero.

O restante se disfarçou de funcionários dos Correios. Carros roubados e importados foram usados na ação para garantir a fuga. Os assaltantes não tiveram dificuldade para chegar até a aeronave. Foram logo atirando e renderam funcionários.

Havia passageiros, e um dos disparos quase atingiu o tanque de combustível do avião da Vasp.

O bando fugiu levando o ouro, mas acabou capturado dias depois. Tiriça foi condenado a dez anos e seis meses por esse crime.

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Estopim do racha

A última condenação de Tiriça foi pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, funcionária da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), morta a tiros, em maio de 2017. O réu pegou uma pena de 31 anos e seis meses, pela acusação de ser o mandante do crime.

Essa condenação foi o estopim do recente racha do PCC. Em conversa informal com um policial penal na Penitenciária de Porto Velho, Marcola disse que Tiriça era psicopata. O áudio vazou e foi usado no júri de Tiriça. Ele ficou enfurecido e chamou o antigo amigo de delator.

A "sintonia final" (liderança) do PCC diz ter analisado o áudio e constatado que Marcola não cometeu nenhum erro. Já Tiriça, Vida Loka e Andinho foram acusados de calúnia e traição e acabaram expulsos do PCC e jurados de morte.

Andinho deu razão a Tiriça. Ele é um dos presos com mais tempo de condenação no Brasil. A pena é de 705 anos. Ele já foi condenado, entre outros crimes, por 12 sequestros em Campinas (SP) e por ter mandado jogar granadas em um jornal na cidade.

Vida Loka, sempre considerado um dos mais radicais da cúpula do PCC, tem condenação de 47 anos. Já foi processado por roubos, sequestros, cárcere privado, formação de quadrilha, ameaças, tráfico de drogas, associação a organização criminosa, entre outros delitos.

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Ele cumpre pena em presídio federal desde 2016. Em março de 2019, foi condenado a 30 anos por envolvimento com uma célula do PCC chamada de "sintonia dos gravatas", o braço jurídico da facção, responsável por levar e trazer recados para a cúpula da organização nas prisões.

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