'Senhor do crime': quem é Rogério de Andrade, contraventor preso no Rio
Colaboração para o UOL
29/10/2024 12h06
Conhecido pelo envolvimento com o jogo do bicho e com o tradicional samba carioca, Rogério de Andrade foi preso suspeito de ser o mandante do assassinato de Fernando Iggnácio, um de seus rivais na disputa pelo controle dos negócios da família.
Quem é Rogério de Andrade
Sobrinho e braço direito de Castor de Andrade, Rogério assumiu os negócios após a morte do tio. O bicheiro dividiu o espólio com Paulo Roberto de Andrade e Fernando Iggnácio, filho e genro de Castor de Andrade, respectivamente. Considerado um dos maiores nomes da história do jogo do bicho, Castor de Andrade morreu em 1997, por causa de um ataque cardíaco.
Após a morte do tio, Rogério de Andrade foi acusado de ser o mandante da morte dos então rivais na disputa da herança de Castor. Paulo foi morto em 1998, e Fernando foi assassinado em 2020.
Esta não é a primeira denúncia contra Rogério em relação à morte de Fernando Iggnácio. Em 2022, o bicheiro teve uma ação penal trancada pelo Supremo Tribunal Federal por "falta de provas que demonstrem seu envolvimento com o crime".
Além do jogo do bicho, Rogério de Andrade herdou a influência do tio também no Carnaval. Castor de Andrade era muito ligado ao Carnaval carioca e grande investidor da Mocidade Independente de Padre Miguel. Junto à cúpula do jogo do bicho, Castor foi um dos criadores da Liesa, a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Com a ausência do tio, Rogério se tornou patrono da escola e frequenta a quadra da Mocidade e os desfiles na Sapucaí. Rogério de Andrade é casado com Fabíola, rainha da bateria da escola.
Atualmente, Rogério de Andrade é considerado um dos principais nomes no jogo do bicho no Rio de Janeiro. No documentário "Vale o Escrito", disponível na plataforma Globoplay, o bicheiro é descrito como "senhor do crime" por Bernardo Bello.
Segundo as autoridades, Bello também tem envolvimento no jogo do bicho. O bicheiro é ex-marido de Tamara Garcia, filha de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, líder de outra importante família na contravenção carioca e morto em atentato a tiros em 2004.
O que aconteceu
Rogério de Andrade foi preso na manhã desta terça-feira (29), no Rio de Janeiro. A prisão aconteceu após nova denúncia do Ministério Público, que afirma que Andrade é mandante do assassinato de Fernando de Miranda Iggnácio, morto em 2020 em um heliponto no bairro Recreio dos Bandeirantes. O bicheiro foi preso em casa, em um condomínio na Barra da Tijuca, e encaminhado à Cidade da Polícia, no bairro do Jacarezinho.
Iggnácio era casado com Carmem Lúcia, filha de Castor de Andrade. Iggnácio foi atingido na cabeça por tiros de fuzil HK-47 enquanto caminhava até seu carro depois de desembarcar do helicóptero que o trazia de viagem a Angra dos Reis (RJ). Na ocasião, Carmem Lúcia deixou o local após os tiros e não ficou ferida.
Gilmar Eneas Lisboa também foi preso na operação. Segundo o MP, Lisboa foi o responsável pelo monitoramento de Iggnácio, auxiliando Andrade no crime. Tanto Andrade quanto Lisboa foram denunciados por homicídio qualificado. O UOL não encontrou a defesa dos presos até o momento. Em abril, o advogado de Andrade, André Callegari, formalizou o abandono do caso.
Disputa na família Andrade tem violência e mortes
Andrade e Iggnácio mantinham uma disputa violenta pelo controle do jogo do bicho e de máquinas de caça-níqueis na zona oeste do Rio de Janeiro. Em 1998, o assassinato de Paulo de Andrade, o Paulinho, filho de Castor de Andrade e herdeiro do jogo do bicho, fez com que Fernando Iggnácio assumisse o lugar dele na disputa pelo controle dos negócios. Meses depois, a polícia identificou como autor dos disparos contra Paulinho o ex-PM Jadir Simeone Duarte. Em depoimento, Duarte acusou Rogério de ser o mandante do crime.
Rogério de Andrade também foi vítima de tentativa de assassinato. Em abril de 2001, o filho do bicheiro, com 17 anos na época, morreu em um atentado a bomba na Barra da Tijuca, quando o carro em que a dupla estava explodiu. No atentado, Rogério teve ferimentos no rosto por conta das explosões e passou por cirurgias na face. Segundo investigações da Polícia Federal, mais de 50 assassinatos somente até 2007 são atribuídos à guerra da contravenção.