Élcio de Queiroz diz que soube momentos antes que Marielle seria morta
Ex-policial militar Élcio de Queiroz, 51, afirmou que soube que a vereadora Marielle Franco seria assassinada momentos antes do crime, enquanto já dirigia o carro que levava o atirador Ronnie Lessa, 54.
Da penitenciária federal de Brasília, Queiroz depôs por videoconferência ao 4º Tribunal do Júri do Rio. O posicionamento dele é divergente do apresentado por Lessa, que afirmou que Queiroz soube que ambos matariam Marielle no início da tarde de 14 de março de 2018.
"No dia do fato, eu saí de manhã para trabalhar, entre 5h e 6h. Trabalhava na escola de caminhões. Por volta de 12h, recebi uma chamada do Ronnie Lessa perguntando se eu estava trabalhando. Eu falei que sim, ele perguntou a hora que eu saía, depois perguntou se eu achava que podia sair até 17h", disse.
Ao questionar o motivo, Queiroz afirma que recebeu uma foto de Marielle. Mas, segundo sua versão, como não conhecia a vereadora, não sabia que a foto indicava que participaria do homicídio contra ela.
"No trajeto, ele [Lessa] fala: vamos pro centro do Rio, perguntei o que era e ele explicou que era um alvo. 'Isso é pessoal', falou pra mim. Aí fiz o trajeto", disse.
Torcida por anormalidade
Queiroz afirmou que "queria que uma coisa anormal acontecesse, que ele [motorista Anderson Gomes] desviasse nas ruas e sumisse".
"Eu andei bem. Cheguei a perdê-lo de vista. Mas ele [Lessa] falou que se perder de vista, a gente ia num bar onde ela poderia estar. Então, de um jeito ou de outro, iria acontecer."
Delatores
Os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz assumiram participação no crime em delação premiada à Polícia Federal.
Lessa admitiu ter atirado contra Marielle e Anderson. Queiroz teria participado do planejamento, monitorado a vereadora e dirigido o carro, um Cobalt prata, utilizado no duplo homicídio.
Ao todo, nove testemunhas foram ouvidas nesta quinta-feira no 4º Tribunal do Júri do Rio, sendo sete pessoas indicadas pelo MP e as outras duas pela defesa de Lessa.
De acordo com o Ministério Público, os criminosos se livraram das armas utilizadas no crime jogando-as no mar, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, local onde Lessa vivia e seu reduto de ações ligadas a um grupo miliciano.
Lessa afirmou que a motivação do crime teve como principal motivação grilagem de terras na zona oeste da capital fluminense.
Segundo ele, Marielle se opôs numa discussão na Câmara dos Vereadores sobre um texto que previa flexibilizar exigências legais, urbanísticas e ambientais para a regularização de imóveis.
O Ministério Público afirmou que a delação que os réus acordaram com a PF não prevê redução de pena.