Advogado de morto em Guarulhos: 'Delação foi a sentença de morte dele'
Do UOL*, em São Paulo, e colunista do UOL
08/11/2024 22h53Atualizada em 08/11/2024 22h59
O advogado do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, morto no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, nesta sexta-feira (8), disse que o acordo de delação premiada fechado pelo cliente com as autoridades foi "a sentença de morte dele". Ele era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital).
O que aconteceu
Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, o empresário falou sobre envolvimento do PCC, com o futebol e o mercado imobiliário. O empresário também deu informações sobre os assassinatos de líderes da facção, como Cara Preta e Django.
O advogado Ivelson Salotto disse ao Estadão Conteúdo que não aprovava a delação do cliente. "Eu havia sido contra a delação porque eu sabia que não ia terminar bem", disse. "Ele denunciou policiais corruptos e bandidos. Quem poderia matá-lo?"
"A delação foi a sentença de morte dele", acrescentou Salotto. A investigação do caso ficará a cargo do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Assassinato
Um ataque a tiros deixou um morto e ao menos três feridos na tarde desta sexta-feira (8) no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. A vítima foi identificada como o Gritzbach, ameaçado de morte pelo PCC (Primeiro comando da Capital).
Um carro que teria sido usado pelos atiradores foi apreendido por equipes do 3º Batalhão de Polícia de Choque, na Avenida Otávio Braga de Mesquita, em Guarulhos.
À coluna de Josmar Jozino no UOL, a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo informou que o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) investiga as circunstâncias do homicídio. "Mais informações serão divulgadas ao término do registro da ocorrência", disse a pasta. O policiamento no local e imediações foi reforçado com PMs do batalhão de área e do Choque.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram ao menos um baleado na pista que dá acesso ao desembarque do aeroporto, e outro dentro do aeroporto. Dois dos três feridos foram levados ao Hospital Geral de Guarulhos. Os estados de saúde deles não foram divulgados.
O terceiro ferido foi atendido e ouvido pelas autoridades no aeroporto. "Outras testemunhas também estão sendo ouvidas pela Polícia Civil. Mais informações serão divulgadas ao término do registro da ocorrência", disse a pasta.
A concessionária do aeroporto disse à coluna que a "polícia foi prontamente acionada, assim como a equipe médica do aeroporto [para o atendimento da ocorrência]". "Mais informações podem ser obtidas com autoridades policiais", concluiu.
A polícia investiga se ele foi assassinado a mando do PCC, mas não descarta outras possibilidades, como queima de arquivo, já que havia assinado acordo de delação premiada e tinha vários inimigos agentes públicos, a quem disse ter pago altos valores em propinas.
Gritzbach dizia a pessoas próximas que temia pela vida. Na delação feita ao MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo), ele disse que um advogado ligado ao PCC ofereceu R$ 3 milhões "pela cabeça" dele.
Acusações contra empresário
Vinícius e o agente penitenciário David Moreira da Silva, 38, foram acusados pelo MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo), pelos assassinatos de Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue.
Eles foram mortos a tiros às 12h10 de 27 de dezembro de 2021 em frente ao número 110 da rua Armindo Guaraná, no Tatuapé, zona leste paulista. Noé Alves Schaum, 42, acusado de ser o executor do crime, foi assassinado em 16 de janeiro de 2022, no mesmo bairro.
Segundo o MPSP, Cara Preta era um integrante influente do PCC e envolvido com o tráfico internacional de drogas e outros delitos. Já Sem Sangue era o motorista e braço direito dele. O empresário e o agente penitenciário chegaram a ficar presos e foram denunciados à Justiça pelo crime, mas respondiam o processo em liberdade.
Vinícius deixou a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP) pela porta da frente, em 7 de junho de 2023, usando tornozeleira eletrônica. A defesa dele temia pela vida do cliente e dizia que se ele ficasse segregado poderia morrer na prisão por integrantes do PCC.
Os advogados de Vinícius disseram à coluna que os verdadeiros culpados pelas mortes de Anselmo e Antônio Corona foram arrolados como testemunhas de acusação do empresário. Na denúncia oferecida contra os dois acusados, o MPSP disse que Vinícius trabalhava com imóveis e operações com bitcoins e, após conhecer Cara Preta, passou a realizar negócios com ele e fazer investimentos para a vítima.
Conforme o MPSP, Cara Preta suspeitou que o empresário estava subtraindo parte dos valores investidos por ele e começou a cobrá-lo e a exigir a prestação de contas das operações realizadas e também a devolução do dinheiro.
Gritzbach sempre negou envolvimento nos assassinatos de Cara Preta e Sem Sangue e disse ser vítima também. Os advogados dele afirmaram que o cliente é inocente de todas as acusações e que isso será devidamente comprovado durante o curso processual. David ficou preso em um CDP (Centro de Detenção Provisória) na Grande São Paulo e também foi solto. O advogado dele, Rodrigo Fonseca, afirmou que o cliente é inocente de todas as acusações, é primário, tem endereço e também trabalho fixos.
(Com Estadão Conteúdo)