Justiça e sociedade ignoram morte de Ágatha, diz advogado da família
O Ministério Público do Rio e o advogado da família de Ágatha Vitória Sales Félix afirmam que vão recorrer após a decisão da Justiça de absolver o PM Rodrigo José de Matos Soares. Ele é apontado como autor do disparo que matou a menina de 8 anos, em 2019, no Complexo do Alemão.
O que aconteceu
Defesa da família diz que recurso significa "continuar os 5 anos e 2 meses de luta". Segundo o advogado Rodrigo Montego, diferentemente de outros casos de morte de crianças, o de Ágatha teve avanços. "A família tem certeza da autoria, mas não consegue provar. Atravessamos a barreira da delegacia, do MP, que fez uma investigação própria, vencemos a audiência de instrução e o caso foi a júri popular. Temos que continuar."
Logo após o julgamento se encerrar, o MP disse que entraria com recurso. Em nota, o órgão disse que "a 1ª Promotoria de Justiça Junto ao I Tribunal do Júri da Capital informa que respeita a decisão dos jurados e interpôs recurso."
Advogado afirmou que a decisão da Justiça contraria a versão de todas as testemunhas que falaram no julgamento. "Entendemos que todas as provas indicam que quem cometeu o crime foi o réu", diz a defesa da família. "Todas as testemunhas civis afirmaram que não houve confronto, o tiro partiu apenas de onde estava o policial."
A decisão do júri entendeu que o policial atirou, mas sem a intenção de matar. "Os jurados estão representando a sociedade, isso significa que a sociedade está contemporizando, minimizando ou simplesmente ignorando a morte de uma criança por um agente do Estado", disse Montego ao UOL.
"Ninguém será responsabilizado por isso, não foi só a Justiça que disse isso, foi a sociedade", disse o advogado. Os sete jurados do caso consideram que o policial não teve a intenção de matar a menina. O julgamento no 1º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro começou na sexta-feira e durou mais de 12 horas.
Familiares estão indignados com a decisão da absolvição do PM. Segundo o advogado, os parentes de Ágatha Felix foram ameaçados de prisão durante o júri. "A mãe ficou indignada, o avô passou mal, o pai ficou atônito, olhando para o nada, a tia ficou indignada, gritando. O juiz ameaçou prender o avô e o tio dela."
Foi uma das minhas piores experiências profissionais ver a família recebendo essa informação [da absolvição do policial militar]. Não foi só demorado, foi muito difícil, foi exaustivo.
Rodrigo Mondego, advogado da família de Ágatha Felix
Júri popular absolveu PM
O juiz Cariel Bezzera Patriota absolveu na madrugada deste sábado (9) o policial militar Rodrigo José de Matos Soares. Ele é apontado como autor do disparo que matou a menina de 8 anos, durante ação da polícia no Complexo do Alemão, no Rio, em setembro de 2019.
A defesa de Soares defendeu que a PM foi atacada na UPP da Fazendinha, dentro da comunidade, naquela noite. Por volta das 22h, soldados lotados no local teriam revidado o ataque, resultando na morte de Ághata.
A versão do PM não foi confirmada pela perícia. Segundo a Delegacia de Homicídios da Capital, não houve confronto nem outras pessoas armadas no momento do disparo: Soares e outro PM teriam confundido uma esquadria de alumínio carregada na garupa de uma moto com uma arma, e ele então disparou.
Um dos tiros ricocheteou num poste, atingiu a traseira da Kombi onde estava Ágatha. De acordo com a perícia, o estilhaço do projétil causou a morte da menina ao perfurar suas costas e sair pelo tórax.
Como foi o julgamento
PMs repetiram a versão de que foram atacados. As cinco testemunhas ouvidas na audiência contestaram a versão policial. Depois, foi a vez de dois peritos darem mais detalhes da investigação. O júri entendeu que Soares mentiu em suas primeiras versões, mas considerou que o disparo "foi sem intenção de matar".
Antes da audiência, a mãe de Ágatha, Vanessa Salles, disse que esperava justiça. "Há 5 anos, eu e a minha família aguardamos por este dia. Não está sendo fácil. [É] Até uma resposta para toda a sociedade, para todos aqueles que choraram junto conosco. (...) Que o réu venha pagar pelo que ele fez", disse ela ao Bom Dia Rio, da TV Globo.
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