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Vítima em Mariana se revolta com absolvição da Samarco: 'Decisão absurda'

Registro da fotógrafa Isis Medeiros mostra o dia seguinte ao rompimento da barragem de Mariana, em 2015 Imagem: Isis Medeiros

Do UOL, em São Paulo

14/11/2024 09h07Atualizada em 14/11/2024 10h24

O líder comunitário de Bento Rodrigues, Zezinho do Bento, afirmou que a decisão judicial que absolveu a Samarco e BHP pelo rompimento da barragem de Fundão, que atingiu Mariana (MG) em 2015, é "absurda".

O que aconteceu

"Sempre falavam que estava 'tudo ok' com a barragem". Ao UOL, Zezinho do Bento, liderança de Bento Rodrigues, disse que acredita que as mineradoras tinham consciência sobre o risco de Fundão, já que ele nunca conseguiu visitar o lugar, mesmo pedindo repetidas vezes acessp ao engenheiro operacional da Samarco.

Justificativa da Justiça Federal para absolvição foi "ausência de provas suficientes para estabelecer responsabilidade criminal". A decisão foi emitida na madrugada desta quinta-feira (14) pelo Tribunal Regional Federal da 6ª Região, segundo a TV Globo.

Além da Samarco, da BHP e da Vale, outras sete pessoas foram absolvidas. Entre eles está Ricardo Vescovi de Aragão, diretor-presidente afastado da Samarco. O Ministério Público denunciou, ao todo, 22 pessoas por crime de homicídio qualificado com dolo eventual, entre diretores e gerentes técnicos da companhia.

A decisão cabe recurso.

É um crime. Eu pelejava com eles para ir na barragem de Fundão e eles sempre falavam que estava 'tudo ok'. Se tivessem falado antes [do risco de rompimento], íamos sair sem perder o que tinha dentro das nossas casas e não morriam as 19 pessoas que morreram. Até hoje não acharam o corpo de uma pessoa. E nunca mais vão achar. Em que situação ficam as famílias?
Zezinho do Bento, ao UOL

Absolvição ocorre semanas após acordo bilionário

Em outubro, as empresas absolvidas fecharam um acordo que prevê R$ 170 bilhões em pagamentos. Os valores, a serem pagos pela Vale, Samarco e a BHP Billiton Brasil, têm como intuito reparar os danos causados pelo rompimento.

Valor foi dividido em três categorias. R$ 100 bilhões foram voltados para programas e ações compensatórias para os governos federal, de MG e do ES; R$ 32 bilhões para obrigações da Samarco com indenizações individuais e recuperação ambiental e R$ 38 bilhões em investimentos já realizados em medidas de remediação e compensação.

O processo criminal, instaurado em 2016, se desenrola na Justiça brasileira ao mesmo tempo em que uma ação indenizatória corre numa corte inglesa. A BHP é cobrada por cifra equivalente a R$ 230 bilhões de compensação. Mas, neste, a Vale não foi acionada, o que colocou as sócias em campos opostos.

Como foi a tragédia

6 nov. 2015 - Homens observam área devastada por rompimento de barragem de rejeitos da Samarco em Mariana, Minas Gerais Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

O desastre que aconteceu em 5 de novembro de 2015 devastou os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Mas também chegou ao Espírito Santo e até ao arquipélago de Abrolhos, na Bahia, deixando um rastro de destruição ambiental.

Mais de 300 famílias moravam nos distritos atingidos e mais de 600 pessoas ficaram desabrigadas. Parte dos moradores foram reassentados em Mariana, e esperaram por anos até que as casas do "novo Bento", ainda incompleto, começassem a ser entregues, em 2022.

A barragem continha lama resultante do rejeito da produção de minério de ferro. De acordo com o Ibama, o volume extravasado foi estimado em 50 milhões de metros cúbicos, quantidade que encheria 20 mil piscinas olímpicas.

As 19 vítimas mortas são: Emanuele Vitória Fernandes e Tiago Damasceno Santos, crianças moradoras do subdistrito de Bento Rodrigues, e os trabalhadores Cláudio Fiúza, Sileno Narkevicius de Lima, Mateus Márcio Fernandes, Waldemir Aparecido Leandro, Marcos Roberto Xavier, Marcos Aurélio Moura, Samuel Vieira Albino, Ednaldo Oliveira de Assis, Daniel Altamiro de Carvalho, Claudemir Elias dos Santos, Pedro Paulino Lopes, Maria Elisa Lucas, Maria das Graças Celestino Silva, Antônio Prisco de Souza, Vando Maurílio dos Santos, Ailton Martins dos Santos e Edmirson José Pessoa.

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