Após alunos cantarem sobre matar, PM-TO impõe regras para canções militares
O Comandante-Geral da PM-TO (Polícia Militar do Estado do Tocantins) publicou, no Diário Oficial do Estado, uma portaria com regras para cantos militares na última sexta-feira (22), após alunos de colégio militar serem filmados repetindo um canto com letra violenta enquanto marchavam na escola.
O que aconteceu
A portaria impõe regras para as canções militares. De acordo com o documento, "as canções militares têm a finalidade de manter viva a tradição e a intrínseca cultura policial militar de modo a reforçar os valores e os princípios que norteiam a vida militar e a Corporação."
O documento define a estrutura da canção militar em letra, melodia, ritmo marcial e temática. Cada um dos pontos possuem regras específicas que precisam ser incluídas na sua estrutura:
- Letra, a qual deve ser composta com seguintes aspectos:
a) Exaltação de valores, com destaque aos ideais como hierarquia, disciplina, honra, coragem, lealdade e patriotismo;
b) Identidade institucional, que deve fazer menção à missão, história, tradição e características específicas da PMTO;
c) Clareza e simplicidade, compreensível e de fácil memorização, contendo elementos poéticos de rima, permitindo que todos possam cantar em uníssono.
- Melodia, que deve conter estímulo emocional, que evoque sentimento de orgulho, determinação, motivação e o elevado espírito de abnegação e sentimento de pertencimento à Instituição.
- Ritmo marcial, que deve facilitar o acompanhamento em marchas ou cerimônias, geralmente em compasso binário ou quaternário.
- Temática, que deve exaltar a missão, o dever, reflexo e atribuição constitucional da Corporação.
"Linguagem ou expressão que possam incitar ações ilegais, discriminação ou preconceito de qualquer tipo ficam expressamente proibidas nos cânticos militares", diz o documento. Quem descumprir as normas impostas na portaria estará sujeito a sanções disciplinares e/ou penais, conforme os regimentos internos da PM-TO.
Relembre o caso
Alunos do Colégio Militar Euclides Bezerra Gerais, que fica em Paranã (TO), aparecem em um vídeo que circula nas redes sociais repetindo um canto com letra violenta enquanto marcham na escola. "Tu vai lembrar de mim. Sou 'taticano' maldito, e vou pegar você. Se eu não te matar, eu vou te prender", gritam os estudantes.
"Vou invadir sua mente, não vou deixar tu dormir", diz outro trecho da canção. "E nas infiltrações, você vai lembrar de mim".
O diretor do colégio e os outros militares envolvidos foram afastados, informou o governo do Tocantins. A Secretaria de Educação determinou a instauração de uma comissão de apuração "para investigar a situação e garantir que tal ocorrência não se repita", diz o comunicado.
Se trata de um "caso isolado", afirmou o governo estadual. "Não reflete a realidade das escolas cívico-militares, que desempenham papel fundamental na formação educacional no Estado do Tocantins".
O colégio fez um post em que ignora a marcha e diz que um grupo da Força Tática realizou uma palestra sobre bullying e o Novembro Azul, mês contra o câncer de próstata. "A PM-TO está realizando a Operação Hagnos, visando o combate à violência contra crianças e adolescentes", diz um trecho da publicação nas redes sociais.
Já a PM-TO disse que a marcha foi uma "atividade extracurricular". "A instituição esclarece que a atividade em questão se tratou de uma ação pontual, que não faz parte da rotina diária da unidade escolar".
A corporação também afirma que está apurando a conduta dos policiais. "Um procedimento investigativo preliminar está em curso para garantir a análise criteriosa da situação e foi trocado o diretor da Escola para uma apuração imparcial dos fatos", ressaltou.