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Após 'nem aí', Tarcísio diz que PM violenta não está 'à altura da farda'

Lorena Barros e Manuela Rached Pereira

Do UOL, em São Paulo

03/12/2024 10h58Atualizada em 03/12/2024 15h41

Após minimizar casos de violência policial denunciados à ONU em março deste ano, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que os recentes episódios de letalidade e abuso por parte de policiais militares paulistas serão investigados e os agentes envolvidos "rigorosamente punidos".

O que aconteceu

Tarcísio manifestou repúdio pelos casos de violência policial em publicação no X nesta terça-feira (3). "A Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, acima de tudo, pelo seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas. Policial está na rua para enfrentar o crime e fazer com que as pessoas se sintam seguras", iniciou o governador na publicação.

Aquele que atira pelas costas, que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda. Esses casos serão investigados e rigorosamente punidos. Além disso, outras providências serão tomadas em breve
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo

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Governador se refere a dois casos recentes noticiados no início da semana. Um dos crimes resultou na morte de um jovem negro baleado pelas costas por um PM à paisana, no início de novembro, na saída de um mercado na capital paulista. O outro, com um homem sendo jogado de uma ponte por um policial na no bairro Cidade Ademar, na zona sul da capital.

Secretário de segurança também se manifestou sobre casos. "Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida e não arremessa ninguém pelo muro", escreveu Guilherme Derrite em publicação na rede social X nesta terça.

Derrite também enalteceu a PM paulista e completou: "Pelos bons policiais que não devem carregar fardo de irresponsabilidade de alguns, haverá severa punição".

Posicionamentos diferem do tratamento do governo paulista a outros casos de violência policial. Em março, o governador reagiu à denúncia de entidades à ONU sobre ações violentas e letais da PM paulista, afirmando não estar "nem aí".

Após operação Verão, que deixou ao menos 56 mortos pela polícia entre fevereiro e março na Baixada Santista, Tarcísio disse que trabalho da PM é "profissional para caramba". "Eu acompanhei muito de perto essas operações, são baseadas em inteligência. Um alvo preso é uma fonte de informação, ajuda nas investigações, a gente quer desmantelar o crime organizado", argumentou. Entre as vítimas da ação policial, porém, estavam uma mãe de seis crianças, duas pessoas com deficiência e trabalhadores, conforme mostrou apuração do UOL.

Nossa intenção é proteger a sociedade. Nós estamos fazendo o que é correto, com muita determinação e profissionalismo (...) Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com relação ao que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta que eu não tô nem aí. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, em declaração à imprensa em março de 2024

Críticas do Ministério Público

O Ministério Público de São Paulo classificou os casos como "estarrecedores" e "inadmissíveis", em nota publicada na manhã desta terça-feira (3). A nota é assinada pelo procurador-geral de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira Costa.

Estarrecedoras e absolutamente inadmissíveis! Não há outra forma de classificar as imagens do momento no qual um policial militar atira um homem do alto de uma ponte, nesta segunda-feira. Pelo registro divulgado pela imprensa, fica evidente que o suspeito já estava dominado pelos agentes de segurança, que tinham o dever funcional de conduzi-lo, intacto, a um distrito policial para que a ocorrência fosse lavrada. Somente dentro dos limites da lei se faz segurança pública, nunca fora deles.
Ministério Público, em nota

Citando "episódios recorrentes", o procurador afirma que essas intervenções policiais estão "longe" de tranquilizar a população. "Esta Procuradoria-Geral de Justiça determinará que o Gaesp (Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública) associe-se ao promotor natural do caso para que o MPSP envide todos os esforços no sentido de punir exemplarmente, ao fim da persecução penal, os responsáveis por uma intervenção policial que está muito longe de tranquilizar a população. Pelo contrário. Os episódios recorrentes de descumprimento dos comandos legais por parte de alguns agentes públicos nos deixam mais longe da tão almejada paz social, em favor da qual o Ministério Público, dentro de sua atribuição de exercer o controle externo da atividade policial, continuará atuando de maneira inequívoca, cobrando das autoridades a observância dos preceitos da Constituição Federal".

PM de SP já matou mais de 474 pessoas em 2024

PM paulista matou 474 pessoas durante ações policiais no estado de São Paulo de janeiro a setembro deste ano. Dados foram contabilizados pela própria SSP (Secretaria da Segurança Pública).

Maioria dos alvos (64%) é formada por pessoas negras (255 pardos e 51 pretos). Ainda há 143 vítimas identificadas como brancas, enquanto as outras 25 pessoas não tiveram a cor da pele registrada.

Levantamento do UOL mostra ainda que 99% das vítimas são homens. A capital paulista lidera a lista de mortos com 122 casos, seguida de Santos, com 36, e São Vicente, 29.

Um adolescente morto a cada 9 dias

Sob o governo Tarcísio, as polícias Civil e Militar matam um adolescente a cada nove dias. Foram 69 menores de 18 anos mortos desde 2023, segundo levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz a pedido do UOL.

Estudo mostra que 68% dessas vítimas também são negras (58% de pardos e 10% de pretos). Os outros 32% são considerados brancos.

SSP-SP diz que mortes em decorrência de intervenção policial "são resultado da reação de suspeitos à ação da polícia". "Todos os casos são rigorosamente investigados pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento das respectivas corregedorias, Ministério Público e Poder Judiciário".

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