CAC circulava armado em prédio antes de tiros: 'dizia que queriam matá-lo'
O CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) preso na noite de sexta-feira (6) após atirar de uma cobertura de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, foi visto andando armado pelo prédio nos meses que antecederam o episódio, segundo relato de vizinhos ao UOL.
O que aconteceu
O atirador verificava a arma já dentro do elevador do prédio. Moradores relatam ainda que Marcelo Berlinck Mariano Costa, 31, também costumava checar o próprio nariz no espelho quando descia da sua cobertura, no 18º andar do prédio. Quando foi preso, agentes da Rota, a tropa de elite da PM, encontraram no seu imóvel substância semelhante à cocaína, que ainda será submetida a perícia.
Motoboys costumavam fazer entregas de pacotes suspeitos ao CAC. Os moradores suspeitam que poderiam ser entorpecentes. "Chegava o motoboy e falava: 'entrega'. Ele descia, pegava o pacote, colocava na jaqueta e pagava em dinheiro, rapidamente", contou uma das testemunhas. O CAC costumava retirar comida com entregadores três vezes ao dia, nos horários do café da manhã, almoço e jantar.
Nos dias seguintes a essas entregas, moradores passaram a fazer queixas por gritos e barulho na madrugada vindos do apartamento de Berlinck. Os episódios aconteciam quando ele estava sozinho, motivando uma notificação seguida de multa, segundo moradores ouvidos pelo UOL. "Ele só dizia: 'Bróder, pede desculpas aos moradores", disse uma pessoa próxima do CAC.
Logo após chegar ao prédio, ele disse que vendeu algumas armas e não recebeu. Quando foi cobrar do comprador, disse que foi empurrado de uma altura de 5 metros. Ele quebrou a clavícula e chegou a ficar hospitalizado. Depois, andava armado. Dizia que queriam matá-lo. Quando entrava no elevador, fazia questão de tirar a pistola do bolso, verificar se estava tudo certo e depois guardá-la.
Morador do prédio de onde CAC atirou
Mudança de comportamento
Atirador era visto como um vizinho simpático. Quando se mudou em abril deste ano para o prédio na rua Joaquim Antunes, a apenas 20 metros da Cardeal Arcoverde, Marcelo Berlinck inclusive cedia as vagas a que tinha direito na garagem aos outros moradores.
Inicialmente, costumava sair de casa às 6h e retornava por volta das 15h. Dizia que recebia comissões de até R$ 150 mil mensais por intermediar a venda de carros de luxo de até R$ 5 milhões.
Mudança de rotina. Nos últimos meses, passou a sair de casa em horários alternados. Em algumas ocasiões, chegou a passar até quatro dias sem sair de casa, causando preocupação na família.
"A mãe dele ligava para o prédio e pedia para verificar se estava tudo bem", conta uma das testemunhas ouvidas pelo UOL. Ela frequentava o prédio a cada duas semanas para entregar uma mala com roupas lavadas e retirar outras sujas.
A Justiça determinou que Berlinck deixasse a cobertura do prédio de 18 andares por não pagar o aluguel por três meses. A decisão com ordem de despejo é de setembro deste ano. O valor, incluindo aluguel e condomínio, era de cerca de R$ 6.600 por mês.
O comportamento também mudou. Berlinck passou a ser visto com um semblante fechado, contrastando com a impressão inicial de um sujeito extrovertido e comunicativo. Segundo relato de parentes a moradores, a mudança estaria relacionada ao fim do casamento, no começo do ano.
Uma vez, entrei no apartamento dele e presenciei uma grande quantidade de armas. Ele disse que era colecionador e mostrou o certificado na parede. Era um cara tranquilo e alto astral, que conversava e dava risada. Tinha as paqueras dele, mas era muito sozinho. Depois, ficou mais fechado e mais calado.
Morador
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Imagens do circuito interno do prédio mostram CAC sob o domínio de PMs no elevador após os tiros dados de sua cobertura. Berlinck aparece algemado e sem camisa no vídeo. Socorristas também o acompanhavam.
Na sequência, Marcelo Berlinck é gravado no corredor pouco antes de deixar o prédio, já preso. Ele estava com um um ferimento no braço esquerdo causado pela mordida de um cão policial. Os agentes precisaram arrombar a porta da cobertura para prendê-lo.
Cobertura ficou destruída após a ação. O UOL também teve acesso a imagens da cobertura de dois pisos de um prédio em Pinheiros de onde Berlinck atirou. O local ficou com estilhaços de vidro e móveis quebrados após a invasão da PM.
Policiais encontraram um arsenal no imóvel, que incluía um fuzil, duas carabinas, granada e mais de 350 munições de diferentes calibres. Os agentes ainda apreenderam no local mais de dez carregadores de fuzil, coletes à prova de balas e outras armas. O celular de Berlinck também foi apreendido.
O atirador foi preso em flagrante por tentativa de homicídio, disparo de arma de fogo e porte ou posse ilegal de arma de uso restrito. A Justiça de São Paulo converteu a prisão em flagrante para preventiva neste domingo (8). O UOL tentou entrar em contato com parentes pelas redes sociais, mas ainda não obteve resposta. A reportagem não localizou a defesa dele.
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