Órgãos infectados com HIV: Médico denunciado retoma cargo em prefeitura

Denunciado no caso dos órgãos contaminados com HIV no Rio de Janeiro, o médico Walter Vieira, sócio do laboratório investigado no crime, voltou a trabalhar para a prefeitura de Nova Iguaçu.

O que aconteceu

Walter retornou ao cargo de médico ginecologista e obstetra na Secretaria Municipal de Saúde. Decisão foi publicada no Diário Oficial do município na segunda-feira (6). O cargo não tem relação com o crime pelo qual ele é investigado.

O médico é um dos sócios do laboratório PCS LAB Saleme, responsável pelos exames que deram "falso negativo" para HIV. Ele foi denunciado pelo MPRJ junto a outro sócio e quatro funcionários da unidade pelos transplantes, que infectaram pelo menos seis pessoas.

Segundo o MP, Walter Vieira foi o responsável por conferir, assinar e liberar o laudo com resultado falso referente à análise clínica efetuada na amostra de um dos doadores dos órgãos. Ele teria ordenado a alteração nos protocolos de controle de qualidade nos equipamentos de análises clínicas das unidades da empresa.

Médico passou quase dois meses preso. Ele foi detido em 14 de outubro e conseguiu habeas corpus no dia 10 de dezembro. A Justiça pediu que Walter, o sócio Matheus Sales, que seria responsável pela área de Tecnologia da Informação do laboratório e teria autonomia para manipular documentos, e quatro funcionários do laboratório entregassem seus passaportes e comparecessem mensalmente ao juizado. Todos foram impedidos de exercer atividades profissionais relacionadas ao ramo de laboratório e análises clínicas.

Retorno do médico é previsto por lei, já que ele não foi julgado nem condenado, afirma prefeitura. Em nota, a Prefeitura de Nova Iguaçu afirmou que Walter vai entrar de férias e, após isso, "exercerá função de médico ginecologista, que é o cargo no qual foi aprovado em concurso".

Defesa afirma que acórdão das medidas cautelares do médico permitem que ele exerça medicina. Ao UOL, o advogado Afonso Destri afirmou que Walter "não está proibido de exercer a medicina, mas sim proibido de exercer atividade relacionada ao ramo de laboratório de análises clínicas".

Relembre o caso

Seis pacientes que receberam transplante de órgãos foram infectados pelo vírus no RJ. Os casos foram revelados pela rádio BandNews FM.

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Exames feitos nos doadores apresentaram 'falso negativo'. Todos os testes foram realizados pela PCS LAB Saleme, de Nova Iguaçu (RJ), que havia sido contratada em caráter emergencial pela SES-RJ em dezembro. Novos exames feitos pelo Hemorio comprovaram, porém, que as amostras estavam infectadas com HIV.

Caso foi descoberto após paciente passar mal. Ele havia recebido um coração nove meses antes e chegou ao hospital com sintomas neurológicos, segundo a BandNews FM. Exames foram feitos, e o paciente teve diagnóstico positivo para HIV.

Seis pessoas foram denunciadas pelo crime. Elas são Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira (sócio); Jacqueline Iris Barcellar de Assis (funcionária); Walter Vieira (sócio); Adriana Vargas dos Anjos (funcionária); Ivanilson Fernandes dos Santos (funcionário); e Cleber de Oliveira Santos (funcionário).

Eles podem responder por associação criminosa, lesão corporal e falsidade ideológica. Jacquelina também responderá por falsificação de documento particular, acusada de fraudar o diploma de biomédica.

A promotora Elisa Ramos Pittaro Neves diz que os seis denunciados agiram com "plena consciência da forma irregular". "Cientes e da alta probabilidade de um paciente ser contaminado em razão de uma laudo com resultado falso, e todos indiferentes em relação ao efetivo contágio, concorreram para a contaminação dos pacientes transplantados com vírus HIV e, via de consequência, lhes causando enfermidade incurável".

A denúncia ainda ressalta que, a partir de 2024, o controle de qualidade dos exames do PCS LAB Saleme passou a ser realizado semanalmente, ao invés de diariamente. A promotora também cita ações indenizatórias contra o laboratório, como um laudo errado em 2017 sobre a presença de câncer do colo do útero em uma paciente e uma recém-nascida que recebeu coquetel contra o HIV após outro laudo errado emitido pelo laboratório.

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Os denunciados demonstraram indiferença e desrespeito à vida humana, visto que pessoas inocentes adquiriram HIV, enfermidade incurável, em razão de suas condutas colocaram em xeque o sistema de transplantes do Brasil, fazendo com que diversos órgãos das esferas federal e estaduais reavaliassem procedimentos para proteger o Sistema de Transplantes e o Sistema de Saúde como um todo, principalmente no que tange à segurança dos pacientes da rede de saúde
Promotora Elisa Ramos Pittaro Neves

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