Favela x Nunes: moradores da Vila Mariana prometem 'guerra' contra túnel

A decisão da Prefeitura de São Paulo de romper o contrato e derrubar a licitação para as obras dos túneis na Vila Mariana, na zona sul da cidade, deu força aos moradores da favela Sousa Ramos na disputa para que a gestão Ricardo Nunes (MDB) aceite uma proposta alternativa que não retire a comunidade do bairro.

O que aconteceu

"É guerra", resumiu ao UOL o arquiteto e urbanista Eduardo Canejo, presidente da associação de moradores da favela. "Eles perceberam que precisam seguir a lei. A pressão de uma comunidade conseguiu romper um contrato público", acrescentou.

O secretário municipal de Habitação, Sidney Cruz, visitou pela primeira vez a favela na última sexta-feira (14), dias após o MP-SP recomendar o rompimento do contrato. A comunidade fica localizada na rua Sousa Ramos e seria atingida pela obra. A ideia da prefeitura é construir dois túneis com duas faixas cada, em sentidos contrários, no cruzamento da rua Sena Madureira com a rua Domingos de Morais.

Assim como em uma guerra, nós recebemos nosso adversário. Estamos dispostos a conversar
Eduardo Canejo, presidente da associação de moradores

Os moradores sugerem como alternativa a retirada de um dos três semáforos da região, em direção à rua Maurício Francisco Klabin. "O primeiro semáforo na Sena Madureira seria retirado e o posto ao lado, desapropriado. Os carros seguiriam em direção à Klabin. Esses dois semáforos seguidos travam o trânsito", afirmou o presidente da associação.

Eduardo Canejo, presidente da associação de moradores da favela Sousa Ramos
Eduardo Canejo, presidente da associação de moradores da favela Sousa Ramos Imagem: Pedro Vilas Boas/UOL

Alternativa é interessante, mas tem que ser desenvolvida, diz especialista. Para Sergio Ortiz, coordenador de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes, a retirada de um semáforo poderia melhorar o tráfego na região da Sena Madureira, mas o alcance seria menor do que o complexo viário proposto pela prefeitura.

O ideal seria termos um estudo de impacto isento, que apresentasse alternativas, porque construir túneis não é barato. E estaríamos privilegiando carros, em um momento em que discutimos cada vez mais o pedestre e que haja menos tráfego na cidade Sergio Ortiz, coordenador de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes

A comunidade também está mais confiante porque uma nova licitação levará em consideração o atual Plano Diretor da cidade. A área onde está a favela é considerada de interesse social e proteção ambiental, sinalizações que não existiam há mais de dez anos, na gestão Gilberto Kassab (2006-2012), quando o projeto teve início.

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O UOL questionou a prefeitura sobre as próximas etapas após a recomendação do MP-SP e sobre a proposta da comunidade. A nota enviada pelo município apenas confirma o recebimento do ofício judicial e diz que uma nova licitação será anunciada em breve.

Posse dos imóveis

Entrada da favela Sousa Ramos, ao lado de condomínios da Vila Mariana
Entrada da favela Sousa Ramos, ao lado de condomínios da Vila Mariana Imagem: Pedro Vilas Boas/UOL

A derrubada da licitação também aumentou a expectativa dos moradores da Sousa Ramos de obter a posse dos imóveis. "Vão começar do zero, fechar contrato com uma empresa, fazer a licitação. Esperamos que, nesse meio tempo, a Justiça libere nossa posse", afirmou Eduardo Canejo.

Ele se refere a uma ação que tramita na Justiça para obtenção da CUEM (Concessão de Uso Especial para fins de Moradia). Um perito avaliará se a favela atende aos requisitos para receber a autorização.

Também há um pedido de regularização fundiária em andamento na prefeitura. Procurada, a Secretaria de Habitação disse que o pedido está em fase de estudo técnico e que isso não representa o início formal do processo de regularização. A pasta também afirmou que se reuniu com famílias no mês passado para apresentar propostas de "reassentamento e soluções habitacionais", ou seja, retirada dos moradores do local.

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'Ajustar a questão das árvores'

No último dia 5, o prefeito Ricardo Nunes disse que ia "ajustar a questão das árvores" após a recomendação do MP-SP, mas não comentou sobre a Sousa Ramos e outra favela na região. "Se a gente for ficar brigando na Justiça, as coisas não vão andar. (...) Vamos sentar com o pessoal do Ministério Público, ver o que eles querem que coloque, que não coloque. Vamos adequar, vou aproveitar para ajustar a questão das árvores", afirmou, na ocasião.

O MP-SP deu dez dias para a Prefeitura de São Paulo rescindir o contrato das obras dos túneis sob o risco de Nunes ser alvo de uma ação por improbidade administrativa. A recomendação é resultado de um dos três inquéritos abertos no órgão para investigar a obra.

Promotor afirma não haver "possibilidade de acordo" com empresa investigada por fraude. No documento do MP-SP, Silvio Marques alega que o contrato firmado entre a prefeitura e a Álya Construtora S.A., antiga Queiroz Galvão S.A., "decorre de fraude da qual a empresa participou e envolve outras licitações do Programa de Desenvolvimento do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo".

55 comentários

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Claudio George Filho

Este túnel foi projetado pela primeira vez na gestão do Jânio Quadros, entre 1986/1988, depois o Pitta relançou o projeto, mas não saiu do papel, e o Kassab deixou o projeto pronto pra execução, mas o mesmo foi barrado pela justiça. Vejo que a construção deste túnel será muito benéfica pra SP, pois vai remover 2 pequenas favelas, dando moradias dignas a estas pessoas, vai gerar empregos e movimentar o mercado da construção civil, e o mais importante, irá resolver um antigo gargalo de congestionamentos na região da Vila Mariana. A cidade de SP, não pode ser prejudicada, por causa de protestos de meia dúzia de ativistas, que manipulam os moradores das comunidades carentes com ilusões utópicas, por isso digo sim a construção do túnel da Sena Madureira.

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Fausto Roberto da Silva Schlitter F

Como Arquiteto e Urbanista, e visando o melhora para TODOS, infelizmente: TÚNEL SIM!

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Marcio Savergnini Cibreiros

Que me perdoe quem pensa diferente, mas favela não deveria existir e muito menos se deveria deixar crescer. Remoção sempre, para o bem de todos!

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