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'Toby está no sofá e isso preencheu o vazio': técnica eterniza pets mortos

Toby enquanto estava vivo (à esquerda) e depois da taxidermia (à direita) Imagem: Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

16/03/2025 05h30

"Empalhar" animais é uma prática antiga entre caçadores, que dissecam bichos de grande porte para exibi-los como troféus: são as famosas cabeças expostas em paredes.

Mas, nos últimos anos, a prática vem ganhando um novo destino: o de eternizar pets, como cachorros e gatos. A técnica, chamada de taxidermia, virou opção para tutores que querem manter seus animais por perto mesmo após a morte —e, entre os profissionais responsáveis pelo processo, já virou um pedido comum.

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Marya Araujo Sant'Ana, 44, é uma das tutoras que procurou os serviços de taxidermia.

Seu cachorro, Toby, tinha 18 anos quando morreu, em outubro de 2024. Seu marido encontrou o bichinho aos seis meses, quando os antigos tutores decidiram se desfazer dele.

Após a perda, a família decidiu fazer a taxidermia do pet como uma forma de mantê-lo em casa, na cidade de Maravilha, em Santa Catarina.

Toby vivia com a família desde que era um filhote Imagem: Arquivo Pessoal

Hoje, Toby voltou ao canto do sofá em que costumava ficar quando era vivo.

Éramos muito apegados a ele, principalmente meu marido, que cuidou dele como se fosse um filho. Nós começamos a pesquisar se era um processo possível para qualquer tipo de animal e achamos esse processo de taxidermia.
Marya Araujo Sant'Ana

Nas semanas de trabalho, o casal se manteve em contato com o taxidermista enviando fotos e vídeos de Toby. Demorou um pouco menos de dois meses para que eles recebessem o cachorrinho pelos Correios.

Já para levá-lo até o taxidermista, os dois viajaram para Criciúma —a outra opção de transporte é por motorista particular, já que o processo envolve o transporte de um corpo.

No total, eles gastaram cerca de R$ 3 mil, incluindo os custos da viagem.

"Demorou um pouco mais por um detalhe que pedimos, dos olhinhos. Queríamos que fosse feito igual ao que estava agora, com uma película branca devido à idade do Toby."

A comerciante não descarta fazer o mesmo processo caso tenha outros animais de estimação. Ela afirma que a taxidermia permitiu que eles tivessem o pet de volta em casa, "preenchendo o vazio que havia ficado".

Agora ele fica onde ficava antes, na sala, sobre o sofá, no cantinho que era dele. Os amigos, conhecidos e familiares acham estranho e ficam bem curiosos sempre fazendo perguntas sobre como é, querendo ver fotos.
Marya Araujo Sant'Ana

Como é o trabalho de taxidermia?

Quem fez a taxidermia de Toby foi Rodrigo Ribeiro de Freitas, 49, taxidermista há 26 anos. Ele conta que trabalhou por duas décadas com animais silvestres dentro de um museu, mas decidiu deixar a vaga para se dedicar a um negócio privado.

Continuo trabalhando para museus, projetos ambientais e secretarias de meio ambiente, mas também faço os animais domésticos, que vão desde cabeça de boi e ovelha, até gato, cachorro, calopsita.
Rodrigo Ribeiro de Freitas

Rodrigo tenta preservar características do pet taxidermizado Imagem: Reprodução/Instagram/@artezoo_taxidermia

Rodrigo explica sua técnica.

  1. Ele retira a pele do animal para fazer um manequim com o molde do corpo. Esse manequim é feito com poliuretano, um material com textura semelhante à espuma.
  2. A pele vai para o "curtimento" --nome dado ao processo que transforma a pele em couro.
  3. A pele já curtida é vestida no manequim.
  4. O manequim vai para o processo de secagem.
  5. O último passo é a arte final, em que os olhos dos animais são feitos sob medida, de acordo com aquela espécie, para que fique o mais realista possível, em formato e coloração.

Segundo o taxidermista, o prazo para que seja devolvido aos tutores é de cerca de 60 dias.

Os custos variam de animal para animal. Rodrigo prefere não entrar em detalhes, mas diz que não é sobre o preço, e sim sobre o "valor" dos pets para seus tutores.

Depende do tamanho do animal, da pelagem, do peso. Se esse animal ganhou muito peso, por exemplo, essa gordura precisa ser retirada e isso realmente dá bastante trabalho. Então eu digo: a taxidermia não tem preço, ela tem valor, valor sentimental. Para a pessoa, para o tutor, o valor daquela peça é o que mais importa.
Rodrigo Ribeiro de Freitas

Gato Bady, um dos animais taxidermizados por Rodrigo Imagem: Reprodução/Instagram/@artezoo_taxidermia

Morador de Criciúma (SC), Rodrigo nasceu em Torres, no Rio Grande do Sul. Foi lá que ele começou a trabalhar com a taxidermia, antes mesmo da faculdade.

"Eu fui autodidata. Sempre conheci a anatomia dos animais, ajudava uma professora de ciências quando eu era escoteiro, até que um dia eu li uma reportagem na revista Super Interessante sobre taxidermia, dando alguns passos (para começar). Ali eu comecei. Não tinha feito faculdade, nada. O primeiro animal foi uma galinha. E ficou 'daquele jeito'. Primeiro animal, né? Mas eu tenho essa galinha até hoje."

Ao longo dos anos, o taxidermista se formou em biologia e fez alguns cursos para se especializar ainda mais na área —fazendo modelos mais fiéis e respeitando os desejos e sentimentos dos tutores dos animais.

"Toda taxidermia é um momento marcante. Cada uma com as suas peculiaridades. Como era o cachorrinho, como era o gato, como era a calopsita? É gratificante porque a gente eterniza o amor que aquele tutor tem por aquele bichinho. É indescritível o sentimento de estar participando dessa etapa, em que ele está guardadinho no coração e também na casa da pessoa por meio da taxidermia."

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