Prefeito de Maceió cola em aliados de Lula mirando indicação de tia ao STJ
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Reeleito com o apoio massivo dos bolsonaristas, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, conhecido como JHC (PL), tem se aproximado de aliados do presidente Lula (PT). O foco da missão é conseguir emplacar sua tia, a procuradora Marluce Caldas, para a vaga de ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça). O esforço envolve também uma aliança para sua candidatura ao governo ou ao Senado em 2026.
JHC escolheu como alvo para aproximação o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que é amigo de longa data de Lula e uma das poucas pessoas no Congresso que têm acesso direto ao presidente.
A empreitada incluiu uma reunião no gabinete do senador para pedir apoio à tia e a ida à posse dos ministros Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Alexandre Padilha (Saúde). JHC tem citado como ponto a seu favor "dar" ao governo Lula o apoio de sua mãe, a senadora Eudocia Caldas (PL-AL).
A senadora assumiu a vaga deixada pelo senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), que atualmente exerce o cargo de vice-prefeito e secretário de Infraestrutura de Maceió.
A presença de JHC, no entanto, não se limita a agendas institucionais. O prefeito de Maceió esteve no aniversário do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), em um bar localizado na área nobre de Brasília. Na ocasião, ele passou a maior parte do tempo conversando com Jaques Wagner.

A aproximação de JHC com o PT se restringe a figuras nacionais que possam ajudar a indicar a tia. "Não sei nem o telefone do JHC", disse o presidente do diretório do PT em Alagoas, Ricardo Barbosa. "Não há nenhuma articulação para discutir quaisquer assuntos", afirma.
No passado de JHC, essa relação tem idas e vindas. Em 2022, JHC estava no PSB, partido pelo qual foi eleito como o deputado federal mais votado proporcionalmente do país, em 2018, e como prefeito de Maceió, em 2020.
Apesar de a legenda estar coligada a Lula, JHC se manteve em silêncio durante o primeiro turno e surpreendeu ao aparecer ao lado de Bolsonaro em Brasília e anunciar filiação ao PL na primeira semana do segundo turno da eleição presidencial.
A partir daí, fez campanha ativa para o ex-presidente, inclusive pedindo votos em palanque montado em uma igreja evangélica da capital, ao lado de Michele Bolsonaro e Damares Alves. "Essa também é uma guerra espiritual. Estamos perto da vitória porque essa vitória é Dele [Deus]", disse, incorporando o discurso de "bem contra o mal" pregado pelas visitantes.
Escolha em breve
Lula deve escolher dois candidatos ao STJ de cada uma das listas tríplices, mas ainda não há previsão de quando o petista deve tomar a decisão.
Para os próximos dias, está prevista uma reunião do presidente com Gleisi, Jorge Messias (AGU) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) para tratar do tema. Há pressão para que o petista escolha uma mulher, e Marluce figura como a única candidata.
Contudo, ela não estava entre os favoritos na disputa. Surgiu em uma das listas tríplices com outros cinco candidatos após mobilização de ministros do STJ. Também pesa a favor da candidatura da procuradora de Alagoas os aliados políticos: além do sobrinho JHC, é favorável o deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL). O senador Renan Calheiros também é simpático ao nome dela para o cargo.
Ao UOL, Renan disse que a escolha de Marluce seria uma "boa opção" por ser um nome de Alagoas. "Não poderia nunca ser contra a indicação dela", diz, assegurando que esse apoio —informal— à procuradora "não envolve negociação" referente a 2026. "Isso não está em pauta, não conversei com JHC."
Conjecturas para 2026
Em paralelo à campanha pela tia no STJ, o prefeito de Maceió também tenta traçar estratégia para lançar sua candidatura em 2026 ao governo do estado.
Reeleito com o apoio de Lira e com um pré-acordo de disputar o governo do estado em oposição a Renan Filho, JHC pode pavimentar sua estrada por um caminho mais fácil se tentar uma vaga ao Senado.
Depois que fez o seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), para comandar a Câmara, Lira passou a concentrar esforços em viabilizar sua candidatura para o Senado em 2026. O grande rival é o senador Renan Calheiros, que vai concorrer à reeleição.
A eleição de 2026 dará duas vagas no Senado a Alagoas, e JHC, Renan e Arthur são nomes considerados extremamente fortes.
Renan vai disputar sua quinta eleição ao Senado por Alagoas, e talvez sua última. Nos bastidores, abre a porta para JHC entrar numa chapa conjunta ao Senado, deixando seu caminho aberto para Renan Filho disputar o governo do estado novamente, e praticamente sem concorrentes.
Por tabela, Renan acredita que essa eventual parceria com JHC (nem que seja num pacto de não ataque) forçaria Arthur Lira a desistir da disputa e tentar a reeleição à Câmara.
Aliados de Calheiros disseram ao UOL que o prefeito de Maceió tem enviado recados de que quer conversar com o senador. Até mesmo a ideia de uma filiação de JHC ao MDB não é descartada, apesar de nunca ter sido conversada.
JHC está em vias de deixar o PL e tentar um partido mais ligado ao governo. Cogitou-se que ele poderia se filiar ao PSD, mas o partido é comandado em Alagoas pelo ex-prefeito e atual vereador Rui Palmeira, que faz oposição a JHC e é ligado hoje aos Calheiros.
O PSB, partido do qual ele fez parte por anos, também foi uma opção ventilada por JHC, mas a legenda em Alagoas está nas mãos de pessoas ligadas ao governador Paulo Dantas (MDB). Nesse caso, pesa a favor a aproximação de JHC com o prefeito do Recife, João Campos, que deve ser o próximo presidente nacional da sigla a partir de agosto.
Histórico de farpas
Embora um encontro ainda não tenha acontecido, Renan tem sinalizado que quer uma aproximação com JHC. Em seu perfil no Instagram, o senador publicou um vídeo na sexta-feira para falar da conclusão da pavimentação da Serra do Catita, em Ibateguara (AL), terra da família Caldas.
Na publicação, o senador destaca que a obra começou com a "contribuição essencial" do então deputado João Caldas e em seguida, à época, do deputado JHC.
Caso se unam, Renan e JHC irão apagar um histórico recente de muita troca de farpas. Em 2023, durante e após a crise que envolveu o colapso de uma mina da Braskem, Renan chegou a ir ao MP (Ministério Público) de Alagoas denunciar JHC pela compra pela prefeitura de um hospital particular.
O dinheiro da compra (R$ 266 milhões) foi fruto de indenização de R$ 1,7 bilhão paga pela Braskem à Prefeitura de Maceió pelo afundamento do solo em cinco bairros. Para Renan, o valor total pago pelo hospital foi "superfaturado". Entretanto, o caso foi arquivado pelo MP-AL.
Já JHC sempre manteve distância e tinha como um dos motes de sua campanha em 2020 e à reeleição à prefeitura, em 2024, atacar seus rivais do MDB chamando-o de "candidato dos Calheiros".
25 comentários
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Gilson Fernando Moreira
Isso, é o que político, mais faz, ajeitar a família, em cargos indicados ou públicos. é a farra, por isso, que todos querem uma boquinha.
Andrea Losano Cozzubo
Eu nunca vi um País para ter a qualidade de político ,como o nosso!Somos uma vergonha intergalática!!!!Em sua maioria,seres com pré requisitos de qualificação baixos ,com muito pouco para acrescentar a coletividade e o pior de tudo,eleitos por nós!!
Gean Sandes Silva
Uma matéria muito bem escrita e apurada. Realmente está é a realidade de Alagoas. Parabéns ao jornalista.