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'Glória a Deus': Daciolo vira cabo eleitoral de candidata de Witzel no Rio

9.out.2020 - Cabo Daciolo fala sobre apoio à candidatura de Glória Heloiza para a Prefeitura do Rio - Herculano Barreto Filho/UOL
9.out.2020 - Cabo Daciolo fala sobre apoio à candidatura de Glória Heloiza para a Prefeitura do Rio Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Herculano Barreto Filho*

Do UOL, no Rio

12/10/2020 04h00

Cabo Daciolo, o candidato nas eleições presidenciais de 2018 que viralizou em memes e obteve 1,3 milhão de votos, volta ao cenário político para fazer campanha para Glória Heloiza (PSC). Indicada ao partido por Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio que sofre processo de impeachment, a ex-juíza disputa a prefeitura da capital e já cumpre agenda intensa com Daciolo.

Em uma delas, Glória Heloiza posou com Daciolo e ambos fizeram um trocadilho com o nome da candidata em referência ao bordão do ex-bombeiro. "Glória", disse a ex-juíza. "A Deus", completou Daciolo, em reunião no Sindicato dos Taxistas, na quinta-feira (8). Em entrevista ao UOL em uma padaria na Barra da Tijuca, Daciolo disse que era pré-candidato pelo PL, mas acabou preterido pela sigla, que se coligou com Eduardo Paes (DEM).

O ex-prefeito anunciou Nilton Caldeira, presidente municipal do PL, como seu vice, motivando o pedido de desfiliação de Daciolo do partido.

9.out.2020 - Cabo Daciolo anuncia apoio à candidatura de Glória Heloiza para a prefeitura do Rio em evento no Golf Club, na Barra, zona oeste do Rio - Divulgação - Divulgação
9.out.2020 - Cabo Daciolo anuncia apoio à candidatura de Glória Heloiza para a prefeitura do Rio em evento no Golf Club, na Barra, zona oeste do Rio
Imagem: Divulgação

De camisa branca, calça jeans e uma Bíblia sempre ao seu alcance, Daciolo atribuiu o apoio a Glória à ligação dela com Deus. Ontem (11), ele participou de uma passeata ao lado da ex-juíza na favela da Rocinha, zona sul do Rio. A presença dele na agenda foi registrada no perfil do Instagram da campanha.

Ela não é candidata do Witzel. A Glória é uma juíza que entrou para a política porque uma porta se abriu. Mas o próprio partido não a quer. Vi nela uma pessoa simples, conhecedora da palavra de Deus e que conhece pouco sobre o sistema político. Ela tem uma pureza e um desejo de transformar o Rio de Janeiro

Cabo Daciolo, sobre Glória Heloiza

Segundo o UOL apurou, o nome de Glória foi indicado pelo próprio Witzel ao pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, preso por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) por suspeita de envolvimento em suposto esquema de corrupção na gestão Witzel.

A ideia era que o ex-juiz participasse ativamente da campanha, com o mesmo discurso de "outsider" que ajudou a elegê-lo. Mas a estratégia foi frustrada após o afastamento de Witzel.

9.out.2020 - Cabo Daciolo e Glória Heloiza, candidata à prefeitura do Rio, participaram de reunião com o sindicato dos taxistas - Divulgação - Divulgação
9.out.2020 - Cabo Daciolo e Glória Heloiza, candidata à prefeitura do Rio, participaram de reunião com o sindicato dos taxistas
Imagem: Divulgação

Procurada pelo UOL, a assessoria de imprensa da candidata negou a versão de Daciolo. "A candidata Glória Heloiza é filiada ao PSC e vem recebendo todo o apoio do partido. Não há racha", disse em nota.

Volta de visitas aos presídios e planos para 2022

Daciolo revelou sua intenção de disputar as eleições presidenciais de 2022 sem filiação a um partido político. A possibilidade de candidatura avulsa tramita em processo de repercussão geral que corre no STF (Supremo Tribunal Federal).

Durante a entrevista, Daciolo sempre buscava referência em versículos da Bíblia para justificar novas bandeiras políticas. Entre elas, a luta pela volta às visitas sociais nos presídios, vetadas desde o começo da pandemia, em março.

7.out.2020 - Cabo Daciolo se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro para pedir volta de visitas sociais em presídios federais de segurança máxima - Divulgação - Divulgação
7.out.2020 - Cabo Daciolo se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro para pedir volta de visitas sociais em presídios federais de segurança máxima
Imagem: Divulgação

Na última quarta-feira (7), ele foi ao Palácio do Planalto para falar sobre o tema com o presidente Jair Bolsonaro. Daciolo disse já ter tratado do assunto com os governadores de SP e do RJ. Nesta semana, irá ao Paraná. Ele justificou o seu apoio à causa questionando um dos lemas da extrema-direita.

As pessoas acham que bandido bom é bandido morto. E não é isso. Bandido bom é o cara que vai voltar para a sociedade. O objetivo é ressocialização. Mas não é o que acontece, porque os presídios no Brasil são grandes masmorras medievais

Cabo Daciolo, sobre o sistema penitenciário no Brasil

Questionado se não seria contraditório apoiar um assunto ligado à pauta da esquerda e apoiar uma candidata de uma sigla da direita, Daciolo disse não acreditar nesse tipo de conceito para definir posições políticas.

"Esse papo de esquerda e direita é uma grande mentira, mermão. Quero fazer política nova, sem estar na mão do sistema. Não faço parte dessa política tradicional. Eu quero a transformação da minha nação", disse.

Segundo ele, Bolsonaro mostrou desconhecer o assunto e pediu a assessores para que a questão fosse encaminhada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

"Ele [Bolsonaro] disse que não sabia que isso estava acontecendo e falou: 'Eu sempre apoiei que tudo tivesse aberto e não quero que um filho fique sem ver o pai'. Quem cometeu o crime vai pagar pelo crime. Mas é preciso permitir que o preso veja a sua família."

Procurado, o governo federal não respondeu a questionamentos sobre o tema.

Meditação em monte na zona oeste carioca

Daciolo falou sobre os períodos de até uma semana de meditação e jejum em montes, para onde costuma ir acompanhado por "um irmão em Cristo" ingerindo apenas água. O hábito foi revelado durante a corrida presidencial de 2018.

"Eu sempre falo que o Monte das Oliveiras [em Campo Grande, zona oeste do Rio] é o meu escritório", sorri, ao se referir ao local onde foi para meditar há apenas uma semana.

Daciolo ficou conhecido ao liderar um movimento grevista no Corpo de Bombeiros, em 2011. Na época, chegou a ser preso por nove dias e excluído da corporação. Segundo ele, o período no cárcere fez com que despertasse a vontade de lutar por melhores condições no sistema prisional.

Em 2014, foi eleito deputado federal pelo PSOL. Mas acabou entrando em rota de colisão com as lideranças do partido após defender a inocência dos PMs presos acusados de participar da tortura e morte do pedreiro Amarildo de Souza, que desapareceu em 2013 da favela da Rocinha.

Em 2015, foi expulso do PSOL após propor emenda para alterar a Constituição. Ele queria substituir o trecho "todo poder emana do povo" para "todo poder emana de Deus".

Colaborou Gabriel Sabóia, do UOL no Rio