Boulos diz se chatear com piadas e acusações de invasão por atuação no MTST

Pré-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) admitiu ficar chateado com as piadas que o associam a invasão de casas pela atuação à frente do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Ao "Alt Tabet", do Canal UOL, ele se referiu a esse tipo de provocação dos adversários como enganosas, mas ressaltou que buscou reverter a propaganda negativa em algo positivo para sua imagem.

Boulos disse ter aprendido que não adianta brigar contra a pecha pejorativa, mas, sim, reverter para o próprio benefício, embora as piadas lhe deixem chateado. "Tentamos esclarecer isso para além do argumento e fizemos isso nas redes sociais brincando, porque se é isso que chama a atenção para a gente poder falar o que é, beleza. Agora isso me chateia de verdade, não por mim, mas pelas tantas pessoas que conheci no movimento, e que às vezes são atacadas como 'vagabundas, que querem as coisas fáceis e tomam o que é dos outros'".

Ele esclareceu a atuação do MTST e afirmou que o movimento social "nunca tomou ou invadiu a casa de ninguém", mas, ao contrário disso, "dá casa para as pessoas". Boulos destacou que o MTST invade apenas propriedades que estão em situação irregular com o Estado, para que a Justiça cumpra o que preconiza a Constituição, de que esses imóveis devem ter uma função social.

Boulos afirmou que durante sua liderança no MTST garantiu "casa de qualidade para mais de 15 mil famílias" somente em São Paulo. "Essa é a atuação do movimento. Aí o meme, a caricatura, diz que [o MTST] vai invadir, vai tomar sua casa, que se tem quarto sobrando na sua casa, vai colocar morador de rua, e a gente precisa quebrar essa caricatura. O maior conjunto de habitação da cidade de São Paulo não foi promovido pelo mercado imobiliário, é uma parceria do MTST com o Minha Casa Minha Vida do governo Lula, com 2.650 apartamentos, em Itaquera. É isso que o movimento faz. Não é tomar nada de ninguém".

'Espero voltar ao Celta após a campanha'

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Boulos disse que trocou o Celta por um carro blindado, mas que espera voltar a dirigir o Chevrolet após as eleições. "Decidi com a minha equipe e partido, que é quem está pagando o aluguel do carro blindado, usar durante a campanha. Agora meu Celta continua lá, na minha garagem. Espero que passando essa situação de campanha, também passe esse nível tóxico de ameaça e eu continue com ele".

Pré-candidato diz ter sofrido ameaças, que estão sendo investigadas pela Polícia Federal. "Começou a ter um nível de ameaça brutal, a envolver a minha família. Mandamos para a Polícia Federal, que está investigando. Uma das pessoas que ameaçou era um agente de segurança daqui de São Paulo".

Boulos chora ao falar das filhas: 'É a coisa que mais me dói'

Deputado ficou com a voz embargada ao lembrar que as filhas foram xingadas na escola pela atuação política dele. "Na política, você monta um couro, quando você faz uma escolha [de entrar para a política], você paga o preço dessa escolha. Eu pago o preço, não tenho problema de alguém chegar na rua e me xingar, de alguém me confrontar, de ter minha vida escrutinada, de inventarem mentiras a meu respeito. Agora quando mexe com quem não tem nada a ver com isso... Elas não fizeram essa escolha. Essa é a coisa que mais me dói".

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Segundo ele, o maior sacrifício da campanha é ficar longe da família. "Eu estou hoje como deputado federal e fazendo pré-campanha há pelo menos uns seis meses. Aí é terça, quarta e quinta de manhã em Brasília, e depois São Paulo, chega e campanha, campanha. Chega a noite em casa, elas [as filhas] estão dormindo".

Boulos diz que entrada do crime organizado em SP é risco real

Boulos afirmou haver, sim, a chance da entrada do crime organizado na esfera pública da capital. "Denúncias têm mostrado que temos o risco da entrada do crime organizado nos espaços de poder aqui em São Paulo. Já teve operação mostrando a entrada do crime organizado nos ônibus públicos da capital, em uma empresa que o prefeito elogiou, depois de o presidente dessa empresa ser preso por ligação com o crime organizado".

Para o pré-candidato, há "o risco" de que o modo de atuação das milícias do Rio de Janeiro seja "exportado" para São Paulo. "Modo sem transparência, coisas suspeitas, mal explicadas, e São Paulo é a cidade mais rica do hemisfério sul. Há a possibilidade de essa turma entrar no estado dessa forma e é uma preocupação de verdade porque existe o risco real de isso acontecer em São Paulo. E eu vou dialogar isso com a cidade durante a campanha, de maneira franca".

Guilherme Boulos fez referência às empresas UPbus e Transwolff, que em abril foram alvos de operação do Ministério Público. As companhias são suspeitas de servirem como meio para lavagem de dinheiro para o PCC (Primeiro Comando da Capital). Dias depois da operação do MPSP, Ricardo Nunes visitou a garagem da UPbus e gravou vídeo com elogios à empresa pelo atendimento à população.

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Cláusula que salvou Janones é mesma usada por bolsonaristas, diz Boulos

Boulos foi relator do caso Janones e deu parecer contra punição do colega porque a suposta rachadinha teria sido praticada antes da atual legislatura. "Estudei o caso e existe uma jurisprudência no Conselho de Ética da Câmara de que alguém suspeito de cometer um crime antes do mandato, não pode ser punido nesta legislatura", declarou.

Ele afirmou que rachadinha é crime independente de quem praticar, mas ressaltou que "não era possível adotar dois pesos e duas medidas". O deputado salientou que foi por essa cláusula do Conselho de Ética da Câmara que os bolsonaristas que estiveram naquele 8 de janeiro de 2023 não foram julgados pela Casa, porque os fatos se deram dias antes da proclamação de posse da atual legislatura, ocorrida em fevereiro daquele mesmo ano.

Boulos disse ser contra essa norma da Câmara, porque não há "razão de ser nela". "Agora se essa é a regra que está sendo utilizada, você não pode usá-la para a extrema-direita e não para quem o do campo oposto. Se a regra do Conselho de Ética da Câmara é que só se cumpra na legislatura, não pode ser uma para os bolsonaristas e outra para o Janones. Em nenhum momento relativizei o crime de rachadinha".

Alt Tabet no UOL

Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Guilherme Boulos:

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