Por Câmara Municipal, Milton Leite rifa campanha de Kim e apoia Nunes
Último partido da base a apoiar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), o União Brasil na capital rifou tanto a pré-candidatura do deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) quanto o desejo de ocupar a vaga de vice. Em troca, pediu a permanência do partido à frente da Câmara Municipal. Kataguiri, no entanto, pretende se manter na disputa.
O que aconteceu
O acordo com o cacique do União em São Paulo foi confirmado pelo PL municipal. Foi a legenda quem indicou o nome para a vaga de vice. "Essa união é feita para somar forças com o objetivo de reeleger o Prefeito Ricardo Nunes", afirmou em nota. Procurado, o União e seu presidente municipal, Milton Leite —que também preside a Câmara de Vereadores—, não se manifestaram até a publicação desta reportagem.
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O prefeito também confirmou o acordo. "Está tudo 100% alinhado e ajustado. Não existe nenhum ruído", disse o prefeito. "Escutei da boca do Milton Leite e do [Antônio] Rueda [presidente nacional do União], de que, se o PL fizer a indicação do coronel Mello, eles vão estar juntos."
Leite pediu que seu partido mantenha o comando da Câmara, diz o PL. Para dar aval ao ex-chefe da Rota Ricardo Mello Araújo —indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro—, Milton Leite conseguiu a garantia de apoio da bancada do PL na votação que decidirá quem comandará a Casa na próxima legislatura.
A ambição do partido, no entanto, era maior. Rueda teria pedido ao PL e ao Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, que apoiassem o nome do deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) para sucessão de Arthur Lira (PP-AL) no ano que vem. Procurados, os partidos não se manifestaram.
Nunes negou que o apoio do União Brasil tenha sido condicionado a votos em favor de Elmar. "Zero. Sequer foi tratado desse assunto. Todo mundo sabe que o Marcos Pereira é candidato [do Republicanos] lá [na Câmara]", afirmou.
Em 2025 haverá o apoio do PL Municipal para o União na eleição da mesa diretora na Câmara Municipal. Essa união é feita para somar forças com o objetivo de reeleger o Prefeito Ricardo Nunes.
PL Municipal, em nota
Decisão rifa candidatura de Kim
Até bater o martelo em torno do ex-Rota, o União Brasil estava rachado. Enquanto Milton Leite pleiteava a vaga de vice para o partido —indicando o próprio nome— a candidatura de Kataguiri contava com o engajamento de caciques nacionais da legenda, como Rueda e ACM Neto (BA).
A última cartada para manter a candidatura de Kim, porém, não prosperou. A cúpula do partido tentou juntar Kataguiri ao coach Pablo Marçal (PRTB), que em pesquisa de maio do Datafolha aparecia com 7% de intenções de voto. Como estava à frente de Kataguiri (4%), Marçal respondeu que o deputado é quem deveria ser o seu vice.
As negociações acabaram atropeladas por um movimento do governador. Na semana passada, Tarcísio foi a público anunciar que apoiava a indicação do ex-Rota e pedia a Nunes "urgência" em sua decisão. O anúncio finalmente aconteceu na última sexta (21) após negociação com todos os partidos que pretendem reeleger o prefeito.
Apesar do revés, Kataguiri permanecerá na disputa. Sua assessoria confirmou ao UOL que "até a convenção partidária [em julho], o Kim será pré-candidato". Em sabatina realizada pelo canal MyNews e REAG Investimentos no começo do mês, Kataguiri disse possuir "independência" no partido para prosseguir candidato, mesmo a contragosto de Milton Leite.
Apesar de perder a vaga de vice, a família Leite agora comanda também o diretório estadual do União Brasil. O filho do presidente da Câmara, Alexandre Leite, assumiu na quinta (20) a presidência do partido no estado. "Não tem segredo, tem trabalho", escreveu o presidente da Câmara ao compartilhar a informação no Instagram.
Quem é Mello Araújo
Ex-chefe da Rota, coronel da Polícia Militar e ex-presidente da Ceagesp será o vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes. Mello Araújo comandou a central de abastecimento de frutas, legumes, verduras, flores e pescados em São Paulo por indicação de Bolsonaro quando presidia o Brasil.
Mello Araújo ficou à frente do comando da Rota entre 2017 e 2019. Quando assumiu o cargo, ele defendeu, em entrevista ao UOL, abordagens diferentes para pessoas na periferia e em regiões nobres.
Ele representa a terceira geração de sua família na PM paulista. "Meu pai aposentou como coronel da Polícia Militar — inclusive, comandou o Choque aqui em São Paulo. O meu avô entrou como soldado e saiu como coronel, na época da Força Pública - lutou na Revolução de 1932. Então, eu sou a terceira geração. O ser policial militar é sonho de criança", disse em 2017, ao UOL.
Seu entorno defende sua gestão à frente da Ceagesp, mas há sindicalistas que o criticam. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o Ministério Público do Trabalho ajuizou uma ação contra a companhia com base nos relatos dos funcionários acusando abusos e a militarização do local.
O ex-Rota afirma que é bacharel em direito e em educação física. Ele também cita um mestrado em fisiologia do exercício pela USP (Universidade de São Paulo).