Tabata quer ser prefeita 'por 8 anos' e apoio de Lula e Tarcísio se eleita
Do UOL, em São Paulo*
19/07/2024 11h47Atualizada em 19/07/2024 12h36
A deputada Tabata Amaral (PSB), pré-candidata à prefeitura de São Paulo, disse que espera governar a cidade por 8 anos. Em sabatina do UOL, nesta sexta-feira (19), ela manteve o convite ao apresentador José Luiz Datena (PSDB) para ser vice e disse que espera apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em uma eventual gestão.
A sabatina
Tabata disse que projeta um aumento nas intenções de voto à prefeitura. Na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 8, ela apareceu com 7%, atrás do prefeito Ricardo Nunes (MDB), com 24%, e de Guilherme Boulos (PSOL), com 23%, e empatada tecnicamente com José Luiz Datena (PSDB), com 11%, Pablo Marçal (PRTB), com 10%, e Marina Helena (Novo), com 5%.
A deputada vê como trunfo o fato de ter baixa rejeição. "Tenho a maior conversão de voto e menor rejeição", afirmou. Ela é conhecida por 56% do eleitorado, segundo o Datafolha. Entre eles, 23% disseram que conhecem só de ouvir falar.
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Possível apoio de Tarcísio
Tabata não descartou um possível apoio do governador Tarcísio de Freitas. Ela evitou cravar que gostaria dessa aliança na campanha, mas sugeriu que poderá buscá-lo em um eventual segundo turno. A parlamentar declarou, porém, que gostaria do apoio de Tarcísio para governar a cidade, caso seja eleita.
A deputada disse, ainda, que é a única pré-candidata que consegue dialogar com Tarcísio e o presidente Lula (PT). Ela criticou, por exemplo, a política de segurança pública do governo Tarcísio, mas afirmou que "não precisa concordar" com o secretário da área, Guilherme Derrite, para dialogar com ele. Tabata afirma que não se prende às "caixinhas de esquerda ou direita".
A pré-candidata também criticou a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Ela afirmou que não concorda com a transferência da companhia à iniciativa privada "da forma como foi feita". Ela já havia afirmado, em novembro do ano passado, ser contra o processo "do jeito que está sendo conduzido".
Ataque a Nunes
Tabata declarou que Nunes mentiu sobre o boletim de ocorrência registrado pela esposa dele. Na sabatina do prefeito, na última segunda-feira (15), ele foi questionado pelo fato de a própria esposa ter reconhecido que informou a polícia ter sofrido ameaças e agressões verbais dele, e afirmou que o documento foi "forjado".
A pré-candidata criticou a fala de Nunes sobre o boletim de ocorrência. "O prefeito veio aqui e mentiu e falou que não tem o BO falando que ele cometeu violência doméstica. Isso é grave porque isso anula a violência que a esposa dele sofreu, que tem que receber a nossa solidariedade", disse Tabata.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) confirmou ao UOL que Regina Carnovale Nunes procurou a polícia para dizer que sofria ameaças. "O caso em questão foi registrado pela 6ª Delegacia de Defesa da Mulher, em fevereiro de 2011. Na ocasião, a vítima compareceu na unidade especializada para comunicar os fatos, e a ocorrência foi encaminhada à Delegacia de Embu-Guaçu, responsável pela área dos fatos", diz a secretaria.
Isso é grave porque ele vem num espaço tão importante quanto esse e mente na cara das pessoas. É grave porque ele desmente e desautoriza o trabalho da Polícia Civil, que foi no dia seguinte dizer 'o prefeito Ricardo Nunes está mentindo e o BO existe
Aceno a Datena e ao PSDB
Tabata ironizou a justificativa de Datena para ter lançado uma pré-candidatura própria. Em dezembro do ano passado, Datena filiou-se ao PSB para ser vice da deputada, e se filiou ao PSDB a pedido da deputada, pensando numa coligação dos partidos. Já no ninho tucano, o apresentador de TV foi convencido a assumir a cabeça da chapa do partido paulista. Ao ser questionado na sabatina dele, na última terça (16), Datena afirmou que foi Tabata quem o "empurrou no colo" dos tucanos.
Para Tabata, Datena "já é bem grandinho" para ter sido empurrado no colo do PSDB. Ela negou a versão do apresentador de que pediu a ele, Datena, que se filiasse ao PSDB para ter acesso a um minuto de tempo de televisão.
Apesar da alfinetada, Tabata disse que o convite a Datena e ao partido "segue aberto". Perguntada duas vezes se teria sido traída pelo apresentador, ela desconversou, disse que as chapas podem ser compostas até o próximo dia 27 e reafirmou que gostaria da aliança com ele.
O convite segue aberto para o PSDB, que tem até o dia 27 para tomar uma decisão. Sigo conversando com Datena, sigo conversando com o PSDB, mas eu não volto atrás na minha palavra. O convite foi um e eles podem decidir o que fazer
Cracolândia 'tem bandido e tem doente', diz Tabata
Tabata elogiou medidas de prefeituras anteriores sobre a chamada 'cracolândia', mas vê limitações nas ações adotadas. Para ela, algumas gestões, como a de Fernando Haddad (PT), focaram apenas na questão da saúde, enquanto outras, como a de João Doria (PSDB), deram mais foco à segurança.
A cracolândia, segundo a deputada, "tem bandido e tem doente". O desafio, para ela, é conjugar as duas frentes de atuação, oferecendo tratamento "humanizado e individualizado" aos dependentes químicos ao mesmo tempo em que se reprime o tráfico.
Tem o bandido, tem que ser sufocado. Mas a gente precisa enxergar o escudo humano que existe hoje de mil pessoas que estão doentes, que estão sendo exploradas. São Paulo hoje tem 1.200 leitos para toda cidade, para esquizofrenia, dependência química
Alfabetização
Tabata criticou a atual gestão da prefeitura em relação à educação. A deputada afirma que o problema da capital não é de baixa infraestrutura física das escolas e nem falta de professores, e sim de qualidade. Ela defendeu a terceirização como modelo para manter zerada a fila de espera nas creches.
Um dos meus principais compromissos é 100% das crianças alfabetizadas até o segundo ano do ensino fundamental. É um absurdo a cidade mais rica do país fazer um trabalho tão ruim e muito pior do que as cidades muito mais pobres
Críticas a Lula e a Marçal
A pré-candidata também classificou como "machistas" falas do presidente Lula (PT). Tabata disse que o "machismo é estrutural" e que homens e mulheres "vão seguir o tom dessa sociedade que a gente tem". Contudo, ela disse também que "toda fala que minimiza a dor tem que ser condenada". "Precisamos prestar solidariedade à mulher. Que bom que ele [Lula] se explicou e pediu desculpas", disse.
Tabata lembrou falas do adversário, o pré-candidato Pablo Marçal, que disse que ela não poderia ser candidatada por ser solteira. "Ele não soube reagir ao fato de uma mulher ter respondido a ele com altivez. O que eu posso fazer é não abaixar a cabeça, sempre responder com coragem."
Contra descriminalização do aborto e 'saidinhas'
Tabata se declarou contrária à descriminalização do aborto "por convicção pessoal". A deputada afirma que é favorável a manter a legislação da forma como é hoje — que só permite a interrupção da gravidez em caso de estupro, risco à vida da mãe ou em caso de feto anencéfalo.
A deputada afirmou ser a favor de restringir as "saidinhas" de presos. Ela defendeu sua posição de ter votado contra um veto de Lula ao trecho de uma lei, aprovada na Câmara, que impede as saídas temporárias de detentos para visitas familiares. Para ela, os internos só podem ser liberados durante o dia, para estudo ou trabalho.
O que vai permitir que a pessoa vai se reintegrar é educação e trabalho. (...) É a possibilidade de um novo emprego, de uma nova vida, que vai permitir à pessoa se reintegrar e deixar uma presa fácil do crime organizado
Quem é Tabata Amaral
Tabata Cláudia Amaral de Pontes, 30, é deputada federal. Nascida em São Paulo, ela foi criada na Vila Missionária, na periferia da zona sul da capital. A parlamentar é bacharel em Ciência Política pela Universidade de Harvard, com curso secundário em astrofísica.
Deputada foi eleita para seu primeiro mandato na Câmara em 2018 pelo PDT. Tabata teve 264.450 votos e ficou na sexta posição entre os candidatos mais votados em São Paulo. Em 2022, ela foi reeleita pelo PSB, dessa vez com 337.873 votos.
Ela deixou o PDT após polêmica em votação da reforma da Previdência. Em 2019, Tabata chegou a ser suspensa pelo partido junto a outros sete deputados por votos a favor da proposta — à época, o PDT havia fechado questão contra a medida. Ela se filiou ao PSB em 2021.
*Participaram desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Caíque Alencar, Fabíola Perez, Laila Nery e Rafael Neves.