Boulos liga Tarcísio a apagão e chama Nunes de covarde por faltar a debate
Do UOL, em São Paulo*
17/10/2024 11h59Atualizada em 17/10/2024 16h04
O candidato Guilherme Boulos (PSOL), que concorre à Prefeitura de São Paulo, incluiu o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) entre os culpados pelo apagão que atinge a cidade. Boulos chamou Ricardo Nunes (MDB) de covarde por cancelar presença no debate UOL/Rede TV!/Folha, que se transformou em uma sabatina com o psolista após a desistência, nesta quinta-feira (17).
O que aconteceu
Boulos culpou Tarcísio por falta de fiscalização da Enel. Ele afirmou que a supervisão do serviço prestado pela empresa de energia deve ser feito pela Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), que é controlada pelo governo estadual e tem a diretoria e todos os conselheiros indicados por Tarcísio.
O candidato voltou a poupar o governo federal, como havia feito no debate da Band na última segunda-feira (16). Ele foi questionado sobre o fato de o presidente Lula (PT) e o Ministério de Minas e Energia terem discutido a renovação do contrato da Enel. Em resposta, disse que culpar o governo federal "não cola" e acusou parte da imprensa de "reproduzir um discurso desesperado" que Nunes faz contra o governo.
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Boulos passou pela sabatina após Nunes cancelar presença no debate. A equipe de comunicação da campanha do prefeito informou por mensagem, no começo da madrugada, que ele não compareceria em razão de uma reunião extraordinária agendada por Tarcísio. A Defesa Civil emitiu alerta para chuvas de até 200 mm no próximo fim de semana no estado de São Paulo. Previsão mostra que o estado deve ser atingido por rajadas de vento de até 60 km/h.
Jogo de empurra sobre o apagão
Boulos subiu o tom ao falar sobre o papel de Lula no apagão. Ele foi questionado sobre o presidente ter dito, em junho, que estava disposto a renovar a concessão da Enel, que vale até 2028, e que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, discutiu a renovação em uma reunião com os executivos da empresa, na Itália, dias antes do apagão. Em resposta, Boulos disse ver um "esforço" de parte da imprensa de jogar a culpa "no colo do governo federal".
Boulos também isentou a Aneel, a agência reguladora federal, de responsabilidade. Ele disse que cabe à agência apenas decretar a caducidade (rompimento) do contrato com a Enel, que vai até 2028, e que o Ministério de Minas e Energia já pediu essa medida à Aneel. Em novembro do ano passado, no último grande apagão que atingiu a cidade, Nunes pediu à Aneel o rompimento do contrato com a Enel, mas não houve nenhuma providência nesse sentido.
Boulos voltou a culpar Nunes por falta de remoção de árvores. Ele apresentou um documento assinado pela Prefeitura e pela Enel, em junho, que dá ao município a responsabilidade pela remoção de árvores podres, uma atribuição que antes era compartilhada com a empresa. Desde o início do apagão, Nunes tem dito que a Enel é culpada pelo atraso na poda das árvores.
Diálogo com periferia
Boulos afirmou que a esquerda deixou de dialogar com trabalhadores que empreendem. Ele disse que a votação do candidato Pablo Marçal (PRTB) provocou uma reflexão sobre a necessidade de a esquerda dialogar com grupos que desejam prosperidade individual. A jornalista Thaís Bilenky questionou o candidato sobre "por que essa intenção [de diálogo] só vem na hora de pedir voto".
O candidato disse que ele e sua equipe tiveram "compreensão e humildade" para fazer autocrítica. Segundo Boulos, o "campo que representa" não dialogou com com setor importante dos trabalhadores.
Boulos disse que a esquerda deixou de falar com uma parcela dos trabalhadores que buscou "sua prosperidade de outra forma". O candidato destacou que esse grupo de trabalhadores buscou formas próprias de fazer negócio, seja por meio do MEI, seja por meio de transportes de aplicativos, em salões de cabeleireiro ou oficinas mecânicas.
O deputado federal disse ainda que na ausência desse diálogo, a extrema direita avançou. "Isso aconteceu agora, esse reconhecimento está acontecendo agora, porque a dimensão desse fenômeno aqui na cidade de São Paulo ficou clara agora, após a votação do governo."
Questionado sobre um projeto de lei para trabalhadores de aplicativos que o governo federal tentou aprovar, Boulos disse que é preciso "oferecer alternativas a essas pessoas. "O governo que nasceu num berço sindical, que conversa, que dialoga muito bem com uma força trabalhadora organizada, sindicalizada, mas que mudou. O campo progressista, você tem razão, nasce de uma classe trabalhadora organizada, da indústria, do emprego formal, com carteira assinada, que hoje não é realidade única da classe trabalhadora. Acho que é dever nosso dialogar e oferecer alternativa com essas pessoas.
Boulos citou ainda propostas da campanha para trabalhadores de aplicativos. O candidato citou a liberação do rodízio na cidade de São Paulo para motoristas de aplicativo e a liberação de publicidade na lateral da porta ou no vidro de trás do veículo.
Culpa por rejeição
Boulos responsabilizou a extrema direita e parte da imprensa pela rejeição de 58% do eleitorado, segundo o Datafolha. "Estou enfrentando uma máquina muito poderosa. Uma máquina que representa um projeto político eleitoral da extrema direita e de setores da imprensa que sonham com um bolsonarismo moderado", afirmou.
Para o candidato, a tentativa desses setores é facilitar a eleição presidencial de Tarcísio de Freitas, governador paulista. "Querem o mesmo projeto do Bolsonaro mas alguém que se finja de civilizado, saiba comer de garfo e faca, que não use cloroquina", disse. "Esse projeto tem força, tem grana, tem voz, tem gente na mídia, e isso diariamente se repete."
Boulos também lembrou dos ataques que recebeu durante a campanha. "Até laudo falso há dois dias da eleição teve contra mim. Eu passei o primeiro turno inteiro com uma acusação absurda de uso de droga, que eu tive que desmentir inúmeras vezes. Recuperaram depressão na minha adolescência. Tive que apresentar um exame no debate da Rede Globo", lembrou ao prometer combater fake news.
A última pesquisa do instituto Datafolha indica que Boulos não cresce no segundo turno em razão da alta rejeição. Enquanto 58% dos eleitores não votariam nele de jeito nenhum, 37% dos eleitores rejeitam Nunes.
'Tio Paulo do Tarcísio'
Boulos chamou Nunes de 'tio Paulo do Tarcísio'. Ele fez uma referência em tom pejorativo ao caso de um idoso que foi levado por uma mulher a uma agência bancária no Rio, para obter um empréstimo, e depois foi constatado que ele estava morto, em junho desse ano.
O psolista fez a comparação para dizer que Nunes não tem "vontade própria". "O que aconteceu hoje é um divisor de águas. A população de São Paulo não aceita covarde. A população de São Paulo despreza covarde. E o Ricardo Nunes, ao não vir aqui para debater, se mostrou um covarde. Mostrou que não tem vontade própria. Ele é o Tio Paulo do Tarcísio. É isso que ele é".
*Participam desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Caíque Alencar, Fabíola Perez, Rafael Neves, Romulo Santana, Silchya Rodrigues e Wanderley Preite Sobrinho, do UOL, em São Paulo