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Onde comprar, como usar: tire suas dúvidas sobre o autoteste para covid

Autoteste não é igual, mas tem performance semelhante à do RT-PCR na primeira semana de sintomas, diz médico - ADRIANO ISHIBASHI/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Autoteste não é igual, mas tem performance semelhante à do RT-PCR na primeira semana de sintomas, diz médico Imagem: ADRIANO ISHIBASHI/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

28/01/2022 12h13Atualizada em 28/01/2022 15h40

Os autotestes de covid-19 já são usados em países da Europa, nos Estados Unidos e Canadá, e foram liberados hoje (28) pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) —depois de o Ministério da Saúde complementar seus argumentos para a aprovação deste método.

A liberação da agência ocorre em meio ao avanço da variante ômicron, mais transmissível que outras as anteriores. No entanto, para que o autoteste chegue ao consumidor, as empresas responsáveis pela sua venda devem pedir autorização da Anvisa.

Esse método de testagem é considerado um avanço nas estratégias de saúde pública, e tem uma diferença principal em relação aos realizados hoje em farmácias e hospitais do país: é o próprio paciente quem faz a coleta, a análise e segue as instruções de saúde do fabricante do produto e do Ministério da Saúde para fazer a notificação.

O UOL separou informações fornecidas pela Anvisa sobre o autoteste e consultou o médico infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo, para tirar as dúvidas sobre o novo produto. Veja abaixo:

Tire suas dúvidas sobre autoteste para covid-19

Como é feito o autoteste?

Essa informação pode variar de produto para produto, por isso, é indispensável a leitura de todas as instruções do autoteste que você comprou antes de usar. Em outros países, o autoteste é feito de forma semelhante ao teste antígeno, disponível em farmácias.

Normalmente, esses testes buscam a proteína do Sars-Cov-2, o vírus da covid-19, presente no nariz, com um cotonete. A diferença é que, com o autoteste, o próprio paciente faz todo processo, seguindo as instruções de uso.

Geralmente, depois de coletar o material no nariz ou pela saliva, o cotonete deve ser colocado dentro de um tubo, onde há um líquido — "solução de extração".

Feito isso, basta mexer o cotonete em movimento de rotação para as particulares se misturarem no líquido. Então, deve-se fechar o tubo com a tampa conta-gotas e pingar algumas gotas no dispositivo do teste. Daí, é só esperar o tempo estipulado pelo fabricante para se ter o resultado.

Como será utilizado no Brasil?

O autoteste deve ser usado para monitorar pacientes com ou sem sintomas de covid-19 e as pessoas que, possivelmente, tiveram contato com eles. O autoteste pode ser feito para saber se já é a hora de sair do isolamento após ter sido contaminado.

A ideia é que possa ser possível se testar em casa, que empresas possam comprar os testes e monitorar os casos em seus funcionários, que escolas possam testar os alunos e assim por diante.

Como explica o infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas, o autoteste será de "uso civil".

"Então, eu resolvo que eu vou me testar. Compro esse autoteste e vou ter na minha casa. É possível me testar, testar minha família, meus parentes, eventualmente, vamos nos testar com alguma periodicidade, caso alguém se sinta doente. Isso é o uso civil", afirma.

Quando os autotestes devem chegar ao mercado brasileiro?

Ainda não há uma data específica. Mas a expectativa da Anvisa é que, na próxima segunda-feira (31), empresas já peçam autorização para vender o produto no Brasil. Assim, em fevereiro, o autoteste já deve estar disponível para compra. As empresas interessadas em comercializar o produto devem pedir autorização para a Anvisa.

Onde deve ser encontrado?

Segundo o Ministério da Saúde, o produto será comercializado em "rede de drogarias, farmácias e distribuidoras de medicamentos". As empresas que tenham interesse em vender o produto no Brasil terão de passar por uma avaliação da Anvisa.

Em outros países, o produto é encontrado em supermercados, farmácias e também é enviado pelo correio —inclusive quando é fornecido pelo governo.

Vai ser possível comprar online?

Sim, mas apenas se a empresa for regularizada junto à Anvisa —a venda não será liberada em qualquer site conhecido de e-commerce.

Quanto tempo demora para sair o resultado do autoteste?

O Ministério da Saúde diz que a sensibilidade e especificidade desses testes variam conforme o fabricante. Normalmente, o resultado é rápido: fica pronto em torno de 15 a 30 minutos.

Como eu sei que meu teste deu positivo?

O Ministério da Saúde esclarece que a leitura do resultado é semelhante ao de um teste rápido de gravidez: caso haja duas linhas no produto após o exame, o resultado é positivo.

Ainda assim, é indispensável ler todas as instruções do fabricante quando tiver o produto em mãos para confirmar essa informação.

E se meu teste der positivo?

Você deve procurar uma unidade de saúde ou um hospital para que, lá, seja examinado e tenha o diagnóstico confirmado — provavelmente, colhendo um exame PCR, considerado o mais confiável para o diagnóstico da doença.

Segundo a Anvisa, o resultado positivo do autoteste por si só não será considerado caso positivo de covid-19.

Meu teste pode ser falso positivo ou negativo?

Sim. Por isso é importante realizar o teste no momento certo após ter contato com uma pessoa infectada. Médicos infectologistas orientam que, em caso de sintomas, o teste seja feito. Na ausência dos sintomas, o ideal é esperar de 5 a 7 dias para se ter um diagnóstico mais seguro.

O governo federal deve distribuir autoteste para covid a partir de agora?

Inicialmente, não. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já havia sinalizado que os testes não devem ser distribuídos pelo governo.

O autoteste poderá ser usado como atestado médico?

Não. O gerente-geral de Tecnologia para Produtos de Saúde da Anvisa, Leandro Rodrigues, disse que a autotestagem tem um caráter "orientativo" —isto é, não necessariamente conclusivo.

Rodrigues afirma que o resultado da autotestagem não poderá ser utilizado como um elemento de confirmação em situações que exijam controle de acesso, como o ingresso em estabelecimentos comerciais, voos, entre outros. "O autoteste não vai gerar um laudo e não serve como um comprovante que você não tem covid."

O autoteste poderá ser usado em viagem de avião que pede exame negativo?

Não. A razão é a mesma do fato de não poder ser usado para viagens internacionais: a autotestagem tem um caráter "orientativo", e não conclusivo.

Crianças poderão usar o autoteste para covid-19?

Para o grupo etário inferior a 14 anos, o produto só poderá ser adquirido e o autoteste só poderá ser realizado com a supervisão e apoio dos pais e/ou responsáveis.

Para quem o teste será indicado?

Para qualquer pessoa com ou sem sintomas, independentemente de ter se vacinado ou não, que deseja saber se pode ou não estar contaminado pela covid-19.

Para jovens menores de 14 anos, o produto só poderá ser adquirido e realizado com a supervisão e apoio dos pais e/ou responsáveis.

"O melhor uso, no entanto, é para pessoas com algum sintoma. Para que a pessoa use naquele momento e, se for necessário, repita no dia seguinte. Quanto mais você testa, mais você encontrará casos", explica Evaldo Stanislau.

Estou com sintomas graves de covid-19. Posso fazer autoteste?

Se você está com sintomas como falta de ar, saturação abaixo de 95%, confusão mental e sinais de desidratação, é necessário procurar um hospital ou unidade de saúde imediatamente, e não realizar um autoteste, segundo orientação do Ministério da Saúde.

Por que a Anvisa não liberou o teste na primeira vez?

Os técnicos da agência entenderam que o pedido feito pelo Ministério da Saúde para a liberação do autoteste deixava lacunas — não especificar, por exemplo, qual seria o método de notificação oficial em caso de teste positivo ou quais seriam as orientações aos pacientes.

Segundo a Anvisa, outra pendência eram os "critérios que garantam a eficácia e segurança no uso do produto, bem como a instituição de política pública do ministério que estabelecesse, especialmente, a orientação do público leigo sobre o manuseio dos testes".

É confiável?

O autoteste é confiável, contanto que a coleta do exame seja feita no tempo certo e seguindo todas as instruções do fabricante e das autoridades de saúde. Esse teste, no entanto, tem uma eficácia menor que o RT-PCR, exame coletado em hospitais que visa detectar o RNA (molécula essencial do vírus).

"Ele não é igual. Mas é quase igual à performance do RT-PCR quando é utilizado na primeira semana dos sintomas, que é o momento certo de se utilizar. Com a vantagem de ter o resultado na hora e de ser feito em qualquer lugar, sem precisar de toda a tecnologia do PCR", afirma Evaldo Stanislau.

Como funciona em outros países?

Em países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, o autoteste é usado como ação de controle da pandemia. O kit de teste passou a fazer parte da vida da população europeia depois do salto no número de casos de covid-19.

Lá, o produto é encontrado em farmácias, supermercados e, em países como Reino Unido, é enviado pelo próprio governo para a população pelos correios. No caso do Reino Unido, a pessoa recebe em casa, segue as instruções e, ao final, registra o resultado num site do governo britânico.

Nos Estados Unidos, o CDC (Centro de Controle de Doenças) estabeleceu uma série de recomendações para o uso dos autotestes em farmácias. O órgão também elaborou uma série de vídeos e instruções para usar corretamente o teste.

Fonte: Anvisa, Ministério da Saúde e Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas