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Unifesp: Em carta, professores de medicina repudiam médico antivacina

Roberto Zeballos, egresso de medicina da Unifesp - Reprodução
Roberto Zeballos, egresso de medicina da Unifesp Imagem: Reprodução

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

19/01/2022 10h59

Ao menos 20 professores de medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) assinaram uma carta em que criticam o médico Roberto Zeballos por declarações contra as vacinas anticovid-19 e em defesa de tratamentos sem eficácia reconhecida por órgãos de controle e pela ciência.

O médico é formado pela instituição. "O diploma confere um poder de persuasão, que infelizmente, pode ser usado para benefícios individuais espúrios, de duvidosa postura moral", destacam os professores na carta

De acordo com os acadêmicos, embora tenha tenha doutorado na área em que atua, Zeballos "parece ter pouco aprendido sobre metodologia científica e aplicações práticas de epidemiologia clínica".

Ainda segundo o documento, as declarações Zeballos visam a atrair seguidores em redes sociais, em detrimento da ciência. "Para ele e outros negacionistas, a ciência está em segundo plano."

'Fico mais forte com esses ataques', diz Zeballos

O médico afirmou que deve levar o caso à Justiça e que o conteúdo da carta é difamatório.

"Não sou negacionista. Coloco o paciente em primeiro lugar. Tenho tomado medidas legais com relação a essa carta, com conteúdo mentiroso e que nunca foi enviada diretamente a mim. Tenho respaldo por fazer um trabalho com resultados", afirmou Zeballos.

Contra a vacinação infantil, o médico tem declarado reiteradamente que "não há emergência que justifique o uso de uma vacina emergencial" no país. Segundo o médico, as vacinas combatem a versão mais agressiva da doença, mas que as novas cepas, como a delta, não estão se mostrando agressivas.

Dados de diversos países não corroborem a afirmação de Zeballos. Segundo a agência reguladora de saúde dos Estados Unidos, a variante delta pode causar doenças mais graves em comparação com as cepas anteriores em pessoas não vacinadas.

Em estudos realizados no Canadá e na Escócia, os pacientes infectados com essa variante foram considerados mais propensos a serem hospitalizados do que os infectados com a alfa ou as cepas originais do vírus.

Zeballos afirma ter sido "o primeiro brasileiro a entender o mecanismo da doença" e diz não vê sentido em se vacinar com imunizantes que não são livres de risco.

Leia a íntegra da carta crítica a Zeballos

"Recentemente tomamos conhecimento das declarações que o Dr. Roberto Zeballos tem feito a respeito das vacinas para a covid. Já não é de hoje que este senhor tem feito declarações sem qualquer base científica, em entrevistas e audiências da Câmara ou do Ministério da Saúde contra a vacinação. Notoriamente, tem utilizado a sua graduação em Medicina e se autodeclarado especialista para fazer uma campanha contra as vacinas, prestando um desserviço à população, bem como à Medicina.

De maneira desrespeitosa, utiliza informações distorcidas e ataca os especialistas em vacina e as sociedades científicas e médicas, chamando-os de "analfabetos" e insinuando que existem interesses escusos em todos que falam em favor das vacinas.

Sem contar o desrespeito com os milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas se as vacinas tivessem sido disponibilizadas em tempo no Brasil. Apesar dos gritantes dados, que mostram a queda drástica no número de casos e de óbitos após a vacinação ter ganho força no Brasil, tal figura continua com alegações falsas e sem mostrar as evidências científicas.

Embora tenha o grau de médico e tenha doutorado, parece ter pouco aprendido sobre metodologia científica e aplicações práticas de epidemiologia clínica. O que significa dizer falta de credibilidade e de integridade científica. Oferecer dados individuais, como prova da veracidade de suas hipóteses, é desconhecer o mais simples pressuposto de metodologia científica.

Ninguém julga eficácia de um tratamento com base em experiência individual. No caso das vacinas, a eficácia e as decisões clínicas são sustentadas por há múltiplos estudos clínicos randomizados. Mas, para o Dr. Zeballos, a ciência vem em segundo plano.

Para ele e para os que seguem as mesmas condutas, o que importa é o número de seguidores em seus púlpitos digitais, como lembrado por vários de seus colegas da turma que se formou. Acho desnecessária essa frase. O que ele ganha com essa desinformação, usando o diploma de médico para autopromoção, em detrimento de evidências sustentáveis para tomada de decisões na prática clínica?

O diploma de médico de uma instituição, como a Escola Paulista de Medicina/Unifesp, confere um poder de persuasão, que infelizmente, pode ser usado para benefícios individuais espúrios, de duvidosa postura moral.

Por esta razão, os docentes dessa instituição alertam a população contra os falsos messias. Afinal, e como dever ético de ofício, é nossa função, contribuir para a formação de nossos profissionais, bem como de traduzir o que há de informação científica de qualidade para a população.

Se estudos mostrarem o contrário, estaremos vigilantes e prontos para mudar nossa posição. Também é importante salientar, que é esta a Medicina que ensinamos, que tem como base as evidências científicas e que segue os preceitos éticos e voltados para a saúde humana e o bem estar social. Por este motivo, nós professores da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, se veem no dever de denunciar a desinformação veiculada pelo Dr. Roberto Zeballos, bem como de todos os que seguem os mesmos preceitos anticiência.

Esta não é a Medicina que ensinamos e pesquisamos em nossa instituição. As opiniões do senhor em questão, não traduzem as diretrizes da comunidade científica, mas, sobretudo, opiniões pessoais, cujo objetivo é digno de repúdio por aqueles que praticam e lutam pela saúde pública de qualidade, baseada em princípios éticos e evidências científicas."