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Em Londres, imigrantes russos defendem Putin e o veem como única alternativa

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Londres

04/03/2012 18h14

Ao contrário do que pregam muitos analistas, imigrantes russos que vivem em Londres, na Inglaterra, defendem a atuação do primeiro-ministro Vladimir Putin, e o veem como única alternativa viável para garantir a estabilidade da Rússia no futuro. Putin declarou vitória nas eleições presidenciais russas realizadas neste domingo, antes mesmo do resultado oficial ser divulgado. Os números preliminares apontam sua vitória no primeiro turno com mais de 60% dos votos e mais de 50% dos colégios eleitorais apurados.

"Putin é cínico e tem as suas fraquezas como qualquer outro político, mas ele conseguiu unir o país. Putin restabeleceu a esperança e o orgulho do povo russo, que voltou a ser mais patriota", opina Olga Bramley, presidente do Eurolog, associação da comunidade russa no Reino Unido. "A Rússia precisa de alguém como ele, com pulso forte. Ter uma autoridade forte não significa necessariamente algo ruim."

Às críticas de que o país sofre censura e as massas são manipuladas pelos meios de comunicação estatal, Olga acha que são exageradas. "A censura à liberdade de expressão também acontece no Ocidente de forma velada. A mídia e o Ocidente gostam de pintar um retrato mais sombrio da Rússia do que ele realmente é."

Para Oxana Rodenko, gerente de sistemas de computação em Londres, Putin conseguiu trazer uma certa estabilidade e relativa prosperidade à maioria da população. "O povo russo já sofreu muito. Basta relembrar o último século: tivemos revoluções, ditadores por várias décadas e passamos muitas necessidades. Ao menos agora temos a infraestrutura básica e conseguimos viver com tranquilidade."

Só isso, porém, não é suficiente na avaliação dos manifestantes contrários ao regime. Em casa, Putin tem enfrentado constantes protestos nas principais cidades do país, liderados, sobretudo, por uma classe média urbana descontente com as suspeitas de fraude nas eleições parlamentares de dezembro. As manifestações, que chegam a reunir milhares de pessoas, cobram por menos corrupção e mais transparência e democracia. Elas não foram suficientes, contudo, para diminuir o favoritismo do premiê apontado nas pesquisas pré-eleitorais e confirmado nas urnas. A oposição não reconheceu o resultado e anunciou a realização de novos protestos.

O movimento sem precedentes contra o governo Putin chegou a ser comparado por ativistas a uma nova perestroika. O termo, que significa abertura, reestruturação, envolveu um amplo plano de reformas na década de 80, conduzido pelo então líder soviético Mikhail Gorbachev, que culminou com o fim da União Soviética no início dos anos 90.

Mas Oxana não quer nem de longe se lembrar dessa época. "A perestroika foi um momento de extrema pobreza para a maior parte da população. Ninguém quer uma nova perestroika. Causou muita dor e sofrimento; não havia o que comer. Foi um período muito difícil para o país. Se tiver que escolher, prefiro escolher estabilidade. Mesmo que o governo tenha problemas, ao menos, sabemos o que esperar."

A professora de história Tanya Dittrich, natural de Moscou e há 12 anos vivendo em Londres, concorda que o descontentamento em parte da sociedade russa é crescente, mas não vê outra opção no cenário político senão Putin. "A situação na Rússia mudou muito com Putin como presidente, ficou muito melhor. A vida era bastante difícil."

Reformas

Ao assumir o seu primeiro mandato como presidente em 2000, Putin conseguiu encerrar a crise institucional e econômica dos anos 1990 e promover a Rússia como um "país emergente" dos Brics, ao lado do Brasil, Índia, China e África do Sul. Reeleito para um segundo mandato, não encontrou dificuldade para fazer do seu aliado próximo, Dmitry Medvedev, seu sucessor. Atualmente no cargo de primeiro-ministro, Putin, ao ser eleito para o terceiro mandato, já adiantou que nomeará Medvedev primeiro-ministro, numa inédita troca de cargos.

A demonstração clara de Putin de não querer ceder o poder não incomoda a bancária Antonina, 25 anos, que prefere não dar o seu sobrenome. "Isso não acontece só na Rússia. Putin fez como o presidente brasileiro Lula, que teve dois mandatos e conseguiu eleger um sucessor, não foi?"

O marido dela, o médico Vitaliy, 36 anos, é da mesma opinião. "Nada garante que, se a oposição assumir o poder na Rússia, as coisas serão diferentes. Os mesmos problemas de corrupção e burocracia continuariam. É uma questão do sistema, não é uma pessoa apenas que vai mudar isso." Sobre os protestos, ele acredita que terão pouco resultado. "Os protestos não vão mudar nada, assim como no Reino Unido os protestos ocorreram e nada mudou. Então, as pessoas deveriam parar de perder o seu tempo."

"Afinal, Putin não quer o mal para a Rússia", completa Antonina. O casal, que tem uma filha de cinco anos e espera um bebê para os próximos meses, não descarta voltar a viver na Rússia. "Estamos aqui em Londres trabalhando e estudando, mas não é o nosso país. Queremos voltar um dia e estamos otimistas que encontraremos uma Rússia melhor."