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Ex-dirigente do Partido Comunista nega acusação de suborno em tribunal da China

Do UOL, em São Paulo

22/08/2013 03h39Atualizada em 22/08/2013 10h11

O ex-dirigente político chinês Bo Xilai, 64, réu em um julgamento por corrupção, suborno e abuso de poder, em um escândalo que abalou o Partido Comunista, negou, perante o Tribunal Intermediário de Jinan, nesta quinta-feira (22), ter recebido US$ 3,5 milhões de propinas.

Em outra ocasião, Bo Xilai havia confessado a acusação de que, entre 2000 e 2012, teria recebido subornos dos empresários Tang Xiaolin, da companhia Dalian International Development, e de Xu Ming, da Dalian Shide Group, no valor de US$ 3,5 milhões. 

Porém, em um novo comunicado publicado em uma conta da weibo (espécie de Twitter chinês), o Tribunal Intermediário de Jinan indicou que Bo fez isso "sem querer".

"Não é verdade que Tang me deu dinheiro três vezes", como figura na folha de acusações, assinalou Bo na transcrição divulgada pelo tribunal.

"Admiti sem querer a acusação de aceitar três vezes dinheiro durante o processo de investigação do Comitê de Disciplina Interna do Partido Comunista", aberto após a evidência dos escândalos em torno do antigo dirigente.

"Disse que queria assumir a responsabilidade legal, mas, na ocasião, minha mente estava em branco e desconhecia os detalhes", explicou Bo no texto divulgado hoje.

Em um texto prévio, também divulgado através da conta do tribunal na Weibo, Bo indicou que esperava que "os juízes pudessem realizar o julgamento de uma maneira razoável e justa, dentro dos procedimentos legais do país".

Ainda segundo a promotoria, Bo recebeu estes subornos diretamente ou através de sua esposa, Gu Kailai, e seu filho, Bo Guagua.

A audiência foi suspensa durante uma hora em uma pausa para o almoço e será retomado a partir das 14h locais (3h de Brasília).

Embora a imprensa internacional não tenha sido autorizada a entrar na sala do tribunal, as imagens divulgadas pela corte, as primeiras de Bo desde o início do escândalo há um ano e meio, mostram o ex-dirigente vestido com uma camisa branca e calças preta, muito mais magro que o habitual e com um ar de cansaço.

Bo também apareceu barbeado e com um cabelo bem curto, fato que contraria as informações que asseguravam que ele tinha deixado de fazer a barba em sinal de protesto.

A lista de acusações que pesam contra o ex-dirigente chinês também inclui a prática de abuso de poder "para beneficiar terceiros" entre 1999 e 2006, quando Bo era prefeito e secretário-geral do Partido Comunista na cidade de Dalian, além de ministro de Comércio.

Entre janeiro e fevereiro de 2012, o antigo dirigente cometeu uma "série de atos" de abuso de poder como secretário-geral do Partido Comunista da cidade de Chongqing (centro), principalmente após ser informado sobre as suspeitas em torno de sua esposa pela morte do empresário britânico Neil Heywood.

A prática de abuso de poder também envolve sua mão direita, Wang Lijun, que teve que solicitou asilo em um consulado americano por causa deste mesmo caso.

Apoiadores são detidos durante protesto

O julgamento --um dos mais importantes das últimas décadas no país-- começou hoje sob um forte aparato de segurança. O tribunal foi cercado e, as ruas que dão acesso ao local, fechadas. Do lado de fora da côrte, muitos policiais e centenas de curiosos se concentram do tribunal popular de Jinan, na província de Shandong (ao leste).

  • Ng Han Guan/AP

    Apoiadora de Bo Xilai é detida durante protesto em frente ao tribunal em que o ex-dirigente do Partido Comunista é julgado por corrupção

Apesar das medidas, a poucos metros da porta principal do tribunal, dezenas de defensores de Bo protestavam com gritos e palavras de ordem, já que os mesmos consideram esse julgamento injusto e tendencioso.

Durante o protesto, embora não tenha sido registrados episódios de violência, vários manifestantes foram detidos pela polícia e levados em furgões.

O local está equipado com câmeras e duas grandes telas de circuito fechado. Várias fileiras estão reservadas para o público. No fundo da sala, fica o assento do presidente, apoiado por dois magistrados assessores.

O tribunal informou os nomes dos 110 membros do público que terão acesso à audiência e que foram cuidadosamente selecionados: entre eles, estão cinco parentes de Bo Xilai, duas pessoas de suas relações, 19 jornalistas e 84 representantes da sociedade chinesa.

A previsão é que a audiência, presidida pelo juiz Wang Xuguang, dure dois dias, mas o veredito contra o ex-secretário-geral do Partido Comunista da China (PCCh) na cidade de Chongqing não será conhecido antes de setembro, segundo o canal estatal "CFTV".

‘Julgamento político’

Réu por acusações de corrupção referentes à época em que era chefe do partido em Dalian (sudeste), a culpa e a inocência de Bo Xilai divide opiniões no país.

O analista político Li Weidong, ouvido pelo jornal “Folha de S.Paulo”, fala em “julgamento criminal político”.

Ainda de acordo com a fonte do jornal, não é possível prever qual será a sentença --muito embora a condenação de Bo Xilai seja dada como certa.

"Certamente houve um acordo entre Bo e o partido para reduzir a pena. A questão é se o governo conseguirá uma confissão pública, o que ajudaria a calar os aliados de Bo", diz o analista, ao jornal “Folha de S.Paulo”.

Escândalo abalou Partido Comunista

Bo, que até março do ano passado sonhava com chegar ao Executivo central chinês, se encontra agora no banco dos réus devido ao escândalo surgido a partir da morte do empresário britânico Neil Heywood, em novembro de 2011.

Em fevereiro de 2012, a "mão direita" de Bo, Wang Lijun, que cumpre 15 anos de prisão por sua participação no caso, evidenciou o caso ao pedir asilo em um consulado americano e revelar o envolvimento de Gu na morte do britânico, até então atribuída ao excesso de bebidas alcoólicas.

Bo foi destituído em março, e Gu, julgada em agosto de 2012, foi sentenciada a pena de morte, mas com possibilidade de prisão perpétua em dois anos.