Congresso do PCC designa Xi Jinping como o novo número um da China

PEQUIM, 15 Nov 2012 (AFP) -Xi Jinping sucedeu nesta quinta-feira Hu Jintao à frente do Partido Comunista chinês (PCC) e se tornou assim o número um da China, potência mundial de cunho autoritário em plena mutação que este homem deverá reformar e livrar da corrupção galopante que a ameaça.

Xi, de 59 anos, se apresentou perante a imprensa internacional à frente do novo grupo dirigente de sete pessoas, a "direção coletiva" que deve tomar as rédeas do país pelos próximos dez anos.

Diante dos flashes e das câmeras de todo o mundo, Xi subiu ao palco do Palácio do Povo seguido pelos seis novos dirigentes que formarão o chamado "santa santorum" (referência a "Santo dos Santos") ou o "comitê permanente" do Birô Político do PCC.

Rompendo a tradição com ar grave, embora sorridente, depois de apresentar seus camaradas, Xi pronunciou um breve discurso no qual advertiu que tanto ele quanto a nova equipe assumem "enormes responsabilidades", e reconheceu que o Partido Comunista enfrenta "graves desafios", incluindo a corrupção, ressaltou.

"Nossa responsabilidade consiste em reunir (...) fazendo esforços contínuos para alcançar uma grande renovação da nação chinesa, consolidando o lugar da China no concerto de nações", afirmou.

"Nosso povo (...) quer que seus filhos cresçam melhor, que ocupem melhores empregos, que vivam melhor. Nosso objetivo é lutar para alcançar isso", acrescentou.

Mas os novos dirigentes chineses estão mobilizados para "garantir uma vida melhor" ao seu povo, assegurou.

No entanto, reconheceu que "nosso partido enfrenta muitos desafios graves. Também há muitos problemas urgentes que devem ser resolvidos dentro do Partido, em particular a corrupção, o afastamento do povo, o formalismo e a burocracia de alguns hierarcas".

"Devemos redobrar os esforços para resolver estes problemas. Todo o Partido deve se conscientizar", acrescentou.

"O partido deve se autoadministrar sem complacência, se ocupar seriamente dos problemas mais evidentes e melhorar seu estilo de trabalho", insistiu.

"Faremos tudo o que for necessário para que o Partido continue sendo constantemente o sólido núcleo dirigente da causa do socialismo com as cores chinesas", prometeu.

Ao contrário da overdose midiática observada na eleição presidencial dos Estados Unidos na semana passada, a aparição à luz do dia da nova direção do partido único chinês, no poder desde 1949, coloca um ponto final aos trabalhos, cercados de segredos, do 18º congresso do PCC, excepcionalmente atingido por casos de corrupção e abusos de poder na alta "nomenclatura" comunista.

Reunido pela manhã, o novo comitê central do PCC, composto por 205 dignitários eleitos na véspera pelos congressistas, deveria designar um novo Politburo de 25 membros.

Entre eles foi eleito o "cenáculo" - reduzido de nove a sete membros - das máximas personalidades do regime, no qual Xi Jinping terá que se impor nos próximos cinco anos de seu primeiro mandato, seguido, a princípio, de um segundo.

Este grupo estrito será composto, além do novo líder, por Li Keqiang, Zhang Dejiang, Yu Zhengsheng, Liu Yunshan, Wang Qishan e Zhang Gaoli, segundo a agência oficial chinesa.

--- Limpeza da corrupção --- Ao se despedir, Hu Jintao pediu que "faça limpeza" na casa chinesa, afundada em corrupção: "Se fracassarmos na hora de tratar corretamente esta questão, poderá ser fatal para o partido, e até provocar seu colapso e a queda do Estado", advertiu ao inaugurar o Congresso.

Aos meios de comunicação, o novo chefe de Estado disse que a "China deve conhecer melhor o mundo e o contrário também. Espero que vocês continuem seus esforços e trabalhem a favor de uma maior compreensão mútua entre a China e o resto do mundo".

Primeiro dirigente nascido após a fundação do regime comunista por Mao Tsé-Tung, em 1949, a personalidade de Xi Jinping é um grande enigma, e sua carreira é própria de um integrante do partido que foi subindo à sombra de seu antecessor.

Filho de um "herói revolucionário", Xi Jinping é um dos "príncipes vermelhos", a aristocracia que governa um país em plena mutação.

Sua esposa, Peng Liyuan, uma famosa cantora que tem a patente de general do exército, é mais popular que ele na China, e o casal tem uma filha que estuda nos Estados Unidos, na Universidade de Harvard, com nome falso.

Seguiu uma carreira clássica de dirigente comunista, primeiro provincial, depois em Xangai, antes de integrar o "santa santorum" do PCC em 2007 e assumir a vice-presidência da República em 2008.

A censura bloqueou imediatamente as revelações da agência Bloomberg em junho passado sobre a fortuna de sua família, avaliada em mais de 2 bilhões de dólares.

Na política externa, não são esperadas mudanças espetaculares na questão diplomática. Xi Jinping reivindica "o orgulho histórico e nacional" da China. Potência ascendente no Pacífico, deverá seguir enfrentando os Estados Unidos e incentivando a Europa, seu maior mercado de exportação, para que resolva a crise da dívida.

Em relação aos direitos humanos, Xi Jinping deverá decidir se manda colocar em liberdade o prêmio Nobel da Paz 2010, o intelectual dissidente Liu Xiaobo.

Chefe agora da "fábrica do mundo", Xi Jinping deverá reinventar o modelo chinês.

Na China do futuro, o congresso comunista decidiu que quer rivalizar com as economias ocidentais mais desenvolvidas.

Mas, vigiado por 500 milhões de internautas, Xi Jinping é esperado por uma classe média composta por 700 milhões de indivíduos, consumidores alheios, em sua maioria, ao ideal comunista, e por um país onde a indignação aumenta diante da riqueza frequentemente extravagante da nova "aristocracia vermelha".

Xi é apresentado, em geral, como um homem de compromisso aceitável pelas facções reformistas e conservadoras. Será apoiado por Li Keqiang, que em março substituirá Wen Jiabao no cargo de primeiro-ministro.

Hu Jintao, por sua vez, passará aos bastidores do poder, como ocorreu com ex-dignitários do regime, entre eles o ex-presidente Jiang Zemin (1992-2002), o mais poderoso de todos.

Hu cedeu a Xi a presidência da poderosa Comissão Militar Central (CMC), o órgão do PCC que controla o exército.

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