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Crianças são as maiores vítimas da guerra civil na Síria

Do UOL, em São Paulo

16/03/2014 06h00

A Síria é hoje um dos lugares mais perigosos em todo o mundo para uma criança. A conclusão é do relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que estima em 5,5 milhões o número de crianças afetadas pela guerra civil que completa três anos neste domingo (16). Nos enfrentamentos entre as forças leais ao presidente Bashar al-Assad e as tropas rebeldes, crianças são usadas como soldados, mão de obra na fabricação de bombas e até moeda de troca, aponta o relatório.

“Em vez de ir à escola ou brincar, as crianças estão sendo forçadas a trabalhar e recrutadas para lutar na guerra”, afirma o relatório da Unicef divulgado nesta semana. “Milhares de crianças morreram ou perderam braços, pernas, juntamente com cada aspecto de sua infância.”

A Unicef afirma que os números de mortes infantis é o mais alto já registrado em conflitos recentes na região. A contagem oficial indica que pelo menos 10.000 crianças foram mortas durante a guerra civil, mas o relatório admite que esse número provavelmente deve ser bem maior.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos afirma que mais de 136.000 crianças já morreram desde o início da revolta contra o governo do presidente Bashar al-Assad, em março de 2011.

As que sobrevivem enfrentam uma situação crítica. Há relatos de meninos de 12 anos sendo recrutados para lutar, enquanto outros trabalham como informantes, guardas ou ajudam a contrabandear armas –expondo-se ao risco de serem mortos pelos soldados sírios.

Uma em cada dez crianças sírias refugiadas em campos na fronteira com a Jordânia, Turquia e Líbano está trabalhando, enquanto uma em cada cinco meninas na Jordânia é forçada a se casar para tentar melhorar a situação da família.

O resultado é o que as Nações Unidas chamam de “geração perdida”: crianças traumatizadas pela guerra e que terão dificuldade para se adaptar a uma vida normal. A Unicef afirma que mais de 2 milhões de crianças precisariam hoje de tratamento psicológico. Mesmo aquelas que vivem nos campos de refugiados, com acesso a escola e próximas de suas famílias, poderão apresentar distúrbios futuramente.

A estimativa é que 1,2 milhão de crianças vivem nos acampamentos, um salto sobre os 260.000 no ano passado. E do total, quase meio milhão têm menos de 5 anos.

Segundo o relatório, outras 323.000 crianças menores de 5 anos estão isoladas em áreas de conflito, onde nem a ajuda humanitária consegue chegar.

Os números mostram como o conflito recrudesceu nos últimos 12 meses. Em março de 2013, a guerra civil havia registrado um impacto na vida de 2,3 milhões de crianças e adolescentes. O número dobrou e a guerra não dá sinais de que chegará ao fim em curto prazo.

"Esta guerra precisa acabar para que as crianças possam retornar para suas casas e reconstruir suas vida em segurança, com sua família e amigos", afirmou o diretor da Unicef, Anthony Lake. "Este terceiro ano de conflito que foi tão devastador para as crianças sírias tem que ser o último".