'Luz contra a escuridão': crianças sírias pintam e desenham para lidar com traumas
Desenhos de crianças
Traumatizadas pelas cenas de violência na guerra civil na Síria, crianças refugiadas no Líbano foram "recuperadas" por uma ONG através de acompanhamento psicológico e social. A coleção de pinturas e desenhos feitas por elas se transformou em exposição na capital, Beirute, e percorrerá a Alemanha, França e a Grã-Bretanha ainda este ano.
Os desenhos retratam a visão de crianças profundamente marcadas por uma sangrenta guerra que já deixou cerca de 2,5 milhões de refugiados distribuídos em países vizinhos (quase um milhão no Líbano), além de 4,2 milhões de sírios deslocados internamente, segundo a ONU.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), perto de 5,5 milhão de crianças na Síria e em países que acolheram os refugiados foram afetadas pelos combates entre tropas do governo e rebeldes de diferentes facções.
Intitulado de "Luz contra a Escuridão", o projeto da ONG Najda Now Lebanon International atende 206 crianças sírias com idades entre 9 e 13 anos, vindas de cidades como Damasco, Homs, Deera e Deir Er Zour. Ao longo de um ano, elas receberam tratamento psicológico e social e participaram de três oficinas ministradas por artistas e cartunistas para que, através das pinturas, expressassem seus sentimentos antes e depois do tratamento.
O coordenador do projeto, o sírio Ali Haidar, 33 anos, disse à BBC Brasil que muitas das crianças apresentavam sintomas de violência antes de iniciarem o acompanhamento psicológico.
"Algumas agrediam fisicamente outras crianças. Outras, quando não tinham a quem agredir, batiam coma cabeça na parede, com um alto grau de agressividade. Foi um processo difícil e demorado, com um amplo apoio de psicólogos e assistentes sociais.
Fases Os desenhos mostram a vida em família, suas casas e os detalhes de momentos de felicidades com amigos e parentes. Mas também retratam violência, morte, medo, destruição e uma infância perdida.
"Algumas (crianças) testemunharam a morte de amigos ou familiares, viram os bombardeios incessantes sobre seus bairros", contou Haidar, que é natural da cidade síria de Hama.
Segundo ele, as crianças tiveram oficinas de pintura e desenho divididas em três fases. A primeira foi ministrada por um cartunista sírio, em que as crianças desenhavam livremente e expressavam cenas de seu país. "A maioria dos desenhos era de guerra e destruição e mostrava claramente os traumas sofridos por elas ao testemunharem helicópteros e aviões bombardeando casas ou soldados matando pessoas", contou Haidar.
A segunda fase trouxe um pintor sírio e também deixou as crianças à vontade para expressar seus sentimentos em relação ao seu país, mas desta vez com pinturas.
Na terceira oficina, as crianças aprenderam diferentes técnicas de pintura e desenho, mas com temas divididos entre passado e futuro.
"Pedimos para que elas primeiro desenhassem sua visão do passado na Síria, e depois o que queriam que seu futuro parecesse. Estes trabalhos (passado e presente) foram transformados em exposição".
Prisão e fuga Além da exposição, os desenhos também viraram calendários e livros, que são vendidos ao público e a renda revertida para financiar o projeto da ONG.
Apesar de sediada no Líbano, a Najda é uma ONG síria e recebe fundos da embaixada da Noruega. Durante um ano, no entanto, operou o projeto em Damasco, mas foi forçada a deixar o país devido às dificuldades e ameaças supostamente feitas pelo governo do presidente Bashar al-Assad.
"Um de nossos membros está preso na Síria há um ano. O governo impunha muita burocracia e barreiras para que operássemos. No fim, decidimos vir ao Líbano para continuarmos o projeto e operarmos de forma mais livre", explicou Haidar.
O projeto da Najda também trabalha música e teatro ministradas por artistas e diretores sírios.
"As crianças escreveram os roteiros das peças de teatro. As famílias vieram para o prédio da Unesco em Beirute e assistiram as peças teatrais em que elas atuaram".
De acordo com a ONU, a guerra civil na Síria já matou mais de 135 mil pessoas desde março de 2011.
Traumatizadas pelas cenas de violência na guerra civil na Síria, crianças refugiadas no Líbano foram "recuperadas" por uma ONG através de acompanhamento psicológico e social. A coleção de pinturas e desenhos feitas por elas se transformou em exposição na capital, Beirute, e percorrerá a Alemanha, França e a Grã-Bretanha ainda este ano.
Os desenhos retratam a visão de crianças profundamente marcadas por uma sangrenta guerra que já deixou cerca de 2,5 milhões de refugiados distribuídos em países vizinhos (quase um milhão no Líbano), além de 4,2 milhões de sírios deslocados internamente, segundo a ONU.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), perto de 5,5 milhão de crianças na Síria e em países que acolheram os refugiados foram afetadas pelos combates entre tropas do governo e rebeldes de diferentes facções.
Intitulado de "Luz contra a Escuridão", o projeto da ONG Najda Now Lebanon International atende 206 crianças sírias com idades entre 9 e 13 anos, vindas de cidades como Damasco, Homs, Deera e Deir Er Zour. Ao longo de um ano, elas receberam tratamento psicológico e social e participaram de três oficinas ministradas por artistas e cartunistas para que, através das pinturas, expressassem seus sentimentos antes e depois do tratamento.
O coordenador do projeto, o sírio Ali Haidar, 33 anos, disse à BBC Brasil que muitas das crianças apresentavam sintomas de violência antes de iniciarem o acompanhamento psicológico.
"Algumas agrediam fisicamente outras crianças. Outras, quando não tinham a quem agredir, batiam coma cabeça na parede, com um alto grau de agressividade. Foi um processo difícil e demorado, com um amplo apoio de psicólogos e assistentes sociais.
Fases Os desenhos mostram a vida em família, suas casas e os detalhes de momentos de felicidades com amigos e parentes. Mas também retratam violência, morte, medo, destruição e uma infância perdida.
"Algumas (crianças) testemunharam a morte de amigos ou familiares, viram os bombardeios incessantes sobre seus bairros", contou Haidar, que é natural da cidade síria de Hama.
Segundo ele, as crianças tiveram oficinas de pintura e desenho divididas em três fases. A primeira foi ministrada por um cartunista sírio, em que as crianças desenhavam livremente e expressavam cenas de seu país. "A maioria dos desenhos era de guerra e destruição e mostrava claramente os traumas sofridos por elas ao testemunharem helicópteros e aviões bombardeando casas ou soldados matando pessoas", contou Haidar.
A segunda fase trouxe um pintor sírio e também deixou as crianças à vontade para expressar seus sentimentos em relação ao seu país, mas desta vez com pinturas.
Na terceira oficina, as crianças aprenderam diferentes técnicas de pintura e desenho, mas com temas divididos entre passado e futuro.
"Pedimos para que elas primeiro desenhassem sua visão do passado na Síria, e depois o que queriam que seu futuro parecesse. Estes trabalhos (passado e presente) foram transformados em exposição".
Prisão e fuga Além da exposição, os desenhos também viraram calendários e livros, que são vendidos ao público e a renda revertida para financiar o projeto da ONG.
Apesar de sediada no Líbano, a Najda é uma ONG síria e recebe fundos da embaixada da Noruega. Durante um ano, no entanto, operou o projeto em Damasco, mas foi forçada a deixar o país devido às dificuldades e ameaças supostamente feitas pelo governo do presidente Bashar al-Assad.
"Um de nossos membros está preso na Síria há um ano. O governo impunha muita burocracia e barreiras para que operássemos. No fim, decidimos vir ao Líbano para continuarmos o projeto e operarmos de forma mais livre", explicou Haidar.
O projeto da Najda também trabalha música e teatro ministradas por artistas e diretores sírios.
"As crianças escreveram os roteiros das peças de teatro. As famílias vieram para o prédio da Unesco em Beirute e assistiram as peças teatrais em que elas atuaram".
De acordo com a ONU, a guerra civil na Síria já matou mais de 135 mil pessoas desde março de 2011.