Rússia corta gás para a Ucrânia após impasse sobre valor cobrado
A Ucrânia confirmou nesta segunda-feira (16) que houve interrupção no fornecimento de gás natural por parte da Rússia ao país. Moscou e Kiev negociavam um acordo para o pagamento de valores devidos pela Ucrânia à Rússia, mas não chegaram a um consenso, o que levou ao corte.
"Temos informação sobre a queda a zero das provisões [de gás] à Ucrânia", disse o ministro da Energia do país, Yuri Prodan. A informação também foi dada pelo presidente do consórcio ucraniano Naftogaz, Andrei Kobolev: "Hoje, a [companhia russa] Gazprom desligou o envio à Ucrânia, que não recebe nenhum gás para suas necessidades."
De acordo com Prodan, a Ucrânia só receberá os volumes destinados à União Europeia (UE), o que garante a parte do abastecimento dos europeus que passa pelo país. "Ficará só o volume do trânsito para a UE, que são 185 milhões de metros cúbicos [diários]", afirmou.
Mas, o ministro ressaltou também que o corte não impedirá o abastecimento de gás aos consumidores ucranianos e que as reservas à disposição da Ucrânia permitirão um fornecimento até dezembro.
O desentendimento quanto ao preço a ser pego pelo gás natural russo se agravou pela crise entre os dois países.
Desde o colapso da União Soviética, em 1991, Rússia e Ucrânia discordaram praticamente o tempo todo quanto ao preço que Kiev deve pagar pelo gás natural russo, mas a disputa atingiu um novo ápice após a queda do presidente pró-Rússia da Ucrânia, Viktor F. Yanukovich, em fevereiro deste ano.
A decisão de Yanukovich de cancelar um acordo comercial com a União Europeia, o que favorecia Moscou, foi um dos motivos que levou multidões de ucranianos às ruas para protestar. A crise, que dura até hoje, fez com que ele entregasse a presidência.
A Rússia respondeu à derrubada do presidente ucraniano aumentando o preço do gás em mais de 80%. A tarifa por mil metros cúbicos subiu de US$ 268 (R$ 598) para US$ 485 dólares (R$ 1.080), um valor sem precedentes na Europa, que foi reduzido para US$ 385 (R$ 858) na "última oferta".
Agora, a Gazprom anunciou que exigirá pagamento adiantado pelo fornecimento de gás à Ucrânia. Nesta segunda, venceu o prazo que Moscou tinha dado à Ucrânia para pagar US$ 1,95 bilhão, parte da dívida pelo fornecimento de gás.
Segundo a Gazprom, a dívida ucraniana chega a um total de US$ 4,458 bilhões (R$ 10 bilhões). A Ucrânia não paga por não concordar com o preço cobrado; já Moscou afirma que pretende apelar ao tribunal arbitral de Estocolmo (na Suécia) para reclamar a dívida de Kiev.
A empresa russa destacou ainda que advertiu a Comissão Europeia sobre "possíveis perturbações" no fornecimento, caso a Ucrânia desvie parte do gás que transita por seu território com destino à Europa.
Parceria com a China
Em um momento em que a UE tenta maneiras de reduzir sua dependência do gás russo, a Rússia assinou um acordo com a China de US$ 400 bilhões (R$ 892 bilhões), no fim de maio, para o fornecimento de gás ao país asiático por 30 anos.
A China é o maior consumidor de energia no mundo e poderá, por meio da Rússia, ter uma fonte geradora limpa.
O acordo, após dez anos de negociações, foi feito em meio às tensões entre a Rússia e o Ocidente por causa da crise na Ucrânia, que também divergem sobre problemas em outros países, como a Síria (aliada do presidente Putin).
Putin dá sinais de estar posicionando a Rússia como um polo alternativo ao que ele pode considerar valores decadentes do Ocidente.
(Com agências internacionais)
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